Desafeto

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O restante do caminho deu-se em silêncio, Neuta não queria conversar, ainda permanecia ressabiada pela cena de ciúmes que protagonizara. Sentia o olhar de Dinho a cada trinta segundos em cima dela, algumas vezes, pôde ver pela visão periférica, que ele abria e fechava a boca repetidamente, mas não colocava em palavras o que estava pensando. Somente revelava sua frustração com resmungos ininteligíveis e suspiros descontentes.

Ela achou melhor que fosse assim, precisava de um tempo para processar os sentimentos que alardeavam sua falta de controle. Suspirou aliviada quando a porteira da fazenda Santa Martha assumiu sua vista de longe. Não aguentava mais a tensão dentro do veículo, então acelerou um pouco mais para chegar logo na mansão do tropeiro. Ao seu lado, uma respiração resignada foi ouvida, mas mesmo assim, não se atreveu a olhá-lo, continuou fixa no caminho de terra batida. 

Um pouco mais à frente, a trilha terrosa foi substituída por ladrilhos e algumas árvores sombreavam o trajeto até a grande casa. A figura de Paulo Emílio se revelou sentada na varanda a cada metro avançado e, quando finalmente findou a distância, estacionou o veículo a cerca de um metro da entrada principal. Os dois saíram da picape silenciosamente, Dinho pegou a maleta no banco de trás e a acompanhou, enquanto o fazendeiro desceu os poucos degraus da varanda para recebê-los. 

- Dia, doutora! - cumprimentou ao se aproximar, estendendo a mão para a veterinária, que logo segurou a dele, balançando-as no ar e devolvendo o "bom dia" para o tropeiro. - Dia, Dinho! - voltou-se para o peão, segurando a mão dele num aperto forte, típico dos homens, recebendo a afabilidade respeitosa do mais jovem.

- Vamos ao Bandido? - ela perguntou, juntando as duas mãos, havia ido até aquela fazenda para examinar o touro. Paulo Emílio queria se certificar de que estava tudo em ordem com a saúde do bovino para o rodeio da semana seguinte.

- Agora! - respondeu todo animado, não via a hora que seu glorioso boi voltasse a ser o rei das arenas. Para isso, precisava do profissional veterinário mais competente e Neuta era a melhor da região, ele não confiaria a sua grande estrela a qualquer um.

Os três caminharam para a área do pasto, onde o animal se encontrava dentro de um enorme galpão. Durante o percurso, a dama perguntou como era a rotina diária de treinamento do boi e Paulo Emílio lhe disse que Bandido costumava fazer natação, cooper e atividades que fortalecem e que também relaxam seus músculos. Quanto à dieta, lhe foi informado que o touro ingeria uma média de 30kg de silagem por dia, 2kg de aveia e 5kg de ração da melhor qualidade. Uma ótima nutrição para um animal de 1,1 tonelada.

- Bem Paulo Emílio, pelo o que você me disse, Bandido está sendo bem tratado e tem uma alimentação balanceada. - ela observou, parabenizando o tropeiro pelo cuidado com o boi. - Só vou precisar fazer alguns exames. - disse apontando para a maleta que Dinho carregava, ignorando-o descaradamente. - Ele já está na contenção? - questionou olhando de lado para o homem.

- Sim, sim! Já pedi que o colocassem no brete. - Neuta assentiu, sendo guiada para o local.

Quando chegaram no espaço, a veterinária se impressionou com a magnitude do touro, era a primeira vez que o via assim tão de perto. Ele tinha uma imponência que a encantou no instante que pôs os olhos nele. Antes de ser aposentado temporariamente, Bandido era cuidado por outro veterinário, no entanto, o fazendeiro preferiu chamar Neuta para esse serviço, já que gostou muito do trabalho dela com seus outros animais.

- Nossa, ele é muito lindo! - elogiou, fazendo com que o dono do boi, inflasse o peito de tão orgulhoso, até parecia um pombo se exibindo. Dinho também ficara impressionado com o animal, já o tinha visto antes, contudo, não podia negar a fascinação que Bandido lhe causava. Montá-lo seria o epítome para uma brilhante carreira nas arenas.

A Dama & O PeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora