Cap VI - Relembrando os velhos tempos

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Tali e Charlie se aproximaram na velocidade da luz. Todos os momentos que elas podiam passar juntas, elas faziam isso. Até os intervalos, que a minha amiga costumava passar comigo, começaram a ser da namoradinha dela. Tali dizia que estava indo treinar, mas eu sabia que ela só queria ficar mais tempo com aquela garota.

Não era apenas ciúmes que eu sentia. Comecei a ficar com raiva de cada atitude da Tali e nós nos afastamos porque, se eu não fosse falar com ela, ela não vinha falar comigo. Eu não queria ficar me humilhando por migalhas dela, então decidi que não ficaria correndo atrás porque o que ela estava fazendo comigo era uma grande sacanagem. Eu era amiga dela desde os 13 anos e foi fácil para Tali me abandonar só porque arrumou alguém. Eu valia muito mais do que ficar que nem uma boba atrás dela para trocarmos três palavras durante o dia, além de ter que ficar ouvindo sobre a Charlie o tempo todo.

Faltando uma semana para as aulas terminarem, acho que Tali reparou que eu não estava muito bem com ela e decidiu me mandar mensagem. Ela disse que queria dormir na minha casa. Acabei aceitando, pois queria ver o que ela pretendia e se faria algo para contornar a situação.

Então, à noite, Tali apareceu na minha casa com aquele maldito sorriso encantador de sempre.

— Oi, Anna — ela me cumprimentou. — Tô com saudade de você.

— Pelo menos isso — falei e cruzei os braços.

— Ei — Tali reclamou.

— O quê? Eu tô sempre por aqui, você que não quer me ver. Agora vem dizer que tá com saudade?

Sei que a recebi com quatro pedras na mão, mas eu estava machucada e me sentindo traída com todo aquele afastamento. Tali abaixou a cabeça e suspirou. Pelo menos ela sabia que tinha falhado comigo.

— Eu sei que ando meio ocupada — ela tentou justificar. — Mas eu realmente tô com saudade e é por isso que tô aqui. Quero passar um tempo com você.

“Ocupada com a Charlie”, pensei, mas falei:

— Enfim, entre.

Minha amiga finalmente entrou, cumprimentou os meus pais e fomos para o quarto. Eu ainda estava brava com ela, mas Tali sempre conseguiu me dobrar com facilidade. Em alguns minutos de conversa, eu já estava calma. Ela nem falou muito sobre a Charlie, o que achei um pouco estranho, já que os últimos assuntos eram sempre sobre a capitã.

— Daqui a alguns dias tudo será diferente — ela começou. — Já sabe o que vai fazer na faculdade?

— Acho que Pedagogia.

— Você sempre se deu super bem com as crianças. — Tali sorriu de canto. — Eu quero fazer Publicidade e Marketing.

— Você será uma boa marketeira. — Ela riu levemente. — É sério. Você sempre teve jeito com essas coisas. Vai se dar bem.

— É, eu espero. — Minha amiga suspirou. — Mas e o baile? Tem alguém pra ir?

— Não. Nem vou nesse baile. — Dei de ombros.

— Por quê? — Ela parecia chocada. — Anna, é o nosso baile de formatura, o último das nossas vidas.

— Mas eu não quero ir.

— É por que não tem um par? Eu posso te ajudar com isso.

— Não e não precisa.

— Amiga, deixa eu te ajudar.

Ela colocou as mãos nos meus ombros e começou a me balançar. Eu comecei a rir, mas parei quando lembrei de uma promessa nossa.

— Você deveria ser a minha companhia — soltei e esperei que ela se lembrasse da referência.

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