Cap II - Detenção

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POV: Harper Condor

(...)

Fui para a sala da detenção com a força do ódio. Eu nunca tinha chegado atrasada na escola, mas fui punida por causa de um único dia. Aposto que se fosse o meu irmão, teriam dito: “pode entrar, garoto prodígio. Você deve ter se atrasado porque dormiu um pouco mais, mas você merece descansar”. Aquela escola era uma piada.

Entrei na sala e o professor Peter Lancaster estava sentado na mesa principal enquanto três outros alunos olharam para mim. Sentei em uma das mesas e fiquei esperando as instruções. Quando o professor finalmente notou que eu estava ali, pareceu até surpreso.

— Harper, não esperava algum dia te ver aqui. — Ele riu fraco. — O que aconteceu?

— Cheguei atrasada.

— Típico. — Outra risada dele.

Esperei que ele dissesse alguma outra coisa, mas nada aconteceu. Peter voltou a atenção para uns livros em sua mesa. Eu pensava que as pessoas faziam algo na detenção, mas aparentemente só ficavam sentadas esperando o tempo passar. Eu sabia que ficar ali por 20 minutos sem fazer nada só iria atacar a minha ansiedade.

— Lancaster? — chamei e ele olhou para mim. — Não tem nada pra fazer aqui não?

— Não sabe as regras da detenção?

— Eu nunca vim aqui.

— É simples: não pode comer, não pode dormir, não pode conversar. É simplesmente esperar quieta até a hora de ir embora.

Ele voltou a folhear os livros e os outros alunos me olharam com apreensão. Eu já não tinha amigos próximos mesmo, então não tinha medo nenhum das pessoas ficarem bravas comigo. Assim, não que eu não goste de ficar sem fazer nada, mas existe um contexto específico. Ficar olhando para o teto enquanto ouve música é diferente do que ficar na detenção olhando para o nada, além de ser uma punição.

— Sério, Lancaster — falei. — Que coisa mais sem graça ficar aqui parada.

— O objetivo é esse. — Ele olhou para mim com impaciência. — E você está fazendo algo agora, Condor.

Ele só me chamava assim quando não estava de bem comigo, mas nem me importei.

— O quê? — perguntei.

— Você está falando e sendo irritante.

Eu ri com deboche.

— Seu papel como professor é só ficar aí paradão vendo a gente fazer absolutamente nada? — insisti. — Quer dizer, nem vendo a gente você tá.

— Harper, cala a boca — um menino disse.

— Cala você — rebati. — Tomara que eu nunca precise voltar pra detenção. É mais chato do que eu pensei.

— Repetindo, a intenção da detenção é ser chata — Peter disse. — Mas já que você quer muito fazer algo, sabe onde é a biblioteca antiga? — Assenti. — Então. Lá tem uns livros que eu preciso. Vá pegá-los para mim.

Ajeitei os meus óculos e levantei rapidamente.

— Claro. Só me fala quais são.

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