Cap IV - Visita ilustre

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No dia seguinte, já era 23 de dezembro e a empresa em que eu trabalhava nos deu férias coletivas de 10 dias. Eu deveria ter ficado feliz, mas sabia que teria que fazer sala para os meus sogros e aquilo com certeza não era algo que eu queria. Pelo menos eu tinha o apoio de Cecília.

Ela foi trabalhar enquanto eu e os Campanas ficamos em casa. Eu os deixei livres para fazerem o que quisessem. Benito quis falar sobre o seu encontro do dia anterior.

— Foi legal — ele começou. — Nós almoçamos juntos, depois fomos ao cinema. Se não morasse tão longe de mim, com certeza eu investiria em algo maior.

— Mas vocês chegaram a ficar? — Frederico perguntou.

— Claro, pai. Comigo é assim. — Ele piscou e o pai pareceu orgulhoso do filho. Eu apenas revirei os olhos disfarçadamente. — Foi incrível.

— Nosso menino está apaixonado — Madalena disse e tocou no ombro de Benito. — Isso é muito bom. Quero logo que você se case e tenha uma família.

— Isso ainda vai demorar, mãe. Essa missão eu deixo com a Cecília e ela já cumpriu 50%.

— Você é o meu primogênito — a minha sogra insistiu. — Está fazendo tudo na ordem errada.

— Perdão, mamãe. — Benito fez um biquinho. — Um dia eu tomo jeito, prometo.

Madalena negou com a cabeça e os três riram. Fiquei quieta, pois não queria me meter na conversa. Cecília sempre dizia que o seu irmão era um folgado e queria viver às custas dos seus pais. Nos últimos anos, ele havia conseguido um emprego, mas gastava muito mais do que recebia. Madalena e Frederico sempre precisavam tirar ele das encrencas em que se metia. Ao invés de se preocuparem com o filho mais velho que só arrumava confusão, eles tinham uma preocupação excessiva com a filha que era bem resolvida.

O dia estava tranquilo. Fiquei a maior parte do tempo no meu quarto mexendo no computador com a desculpa de que algumas coisas do meu trabalho ainda precisavam ser resolvidas. Os meus sogros acreditaram e me deixaram em paz. À tarde, Benito me chamou e disse que Madalena havia preparado o café da tarde. Fui até a sala e ouvi batidas na porta. Como a casa era minha, fui atender e tomei um belo susto quando vi uma desconhecida.

— Olá, posso ajudar? — falei.

— Aqui é a casa da Cecília? — ela perguntou e eu assenti. — Tô procurando a Madalena.

— E quem é você?

— Heloísa.

Ouvir aquele nome me fez lembrar de uma informação já esquecida há muito tempo: a ex de Cecília se chamava Heloísa. Porém, como aquela mulher ia saber onde eu morava? Mais um porém: o que diabos ela estava fazendo ali procurando a minha sogra?

— Helô! — Madalena disse e eu entendi tudo em um segundo.

— Madalena! — a mulher disse e foi entrando na minha casa para abraçar a mãe da minha mulher. — Quanto tempo.

— Pois então. Ainda bem que consegui te localizar. Precisava te ver.

— Com licença — eu as interrompi. — Mas de onde se conhecem?

— Madalena era a minha sogra — Heloísa confirmou as minhas suspeitas. — Ah, perdão. Você deve ser a Mari, a mulher da Ceci, né?

— Sim. Sou eu mesma. — Cruzei os braços, sentindo a raiva tomar conta de mim. — O que faz aqui?

— Eu não vim procurar ela — a mulher deixou claro. — Madalena ligou pra mim e disse que estava visitando a cidade. Vim ver ela, só isso.

— Somos amigas ainda — a minha sogra disse. — Ela foi a melhor nora que eu tive na vida.

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