Cap VIII - Presente

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POV: Sue

(...)

Depois dos acontecimentos perto da biblioteca da cidade, eu nunca perdoaria Jake Scott e sua turma. Eles não só acabaram com as coisas da Lily como também cortaram o nosso laço de amizade que vinha nascendo de uma forma tão linda. Eu nunca tinha me sentido tão bem e feliz ao lado de outra pessoa como eu me sentia com ela. Lily era incrível, tinha tanta luz dentro dela e tantas coisas para mostrar para o mundo. Saber que ela não me queria mais por perto por algo que eu nem tinha culpa quebrou o meu coração em vários pedacinhos.

Eu não a procurei naquela tarde. Ela precisava de espaço e eu entendia. O mínimo que eu podia fazer era tentar reparar aquela bagunça de alguma forma e pensei em dar outra câmera para ela. Porém, só com o dinheiro da minha mesada não ia dar. Tive que recorrer aos meus pais, mas sabia que eles não me dariam se não fosse por uma boa troca.

Então, no fim de semana, acordei, fui tomar um banho e vi as minhas lentes na pia do banheiro. Fiquei pensando no porquê de sempre usá-las e ter todo um trabalho de limpar, usar colírio (coisa que eu não gostava, mas me acostumei). Eu fazia tudo aquilo por achar que não ficaria bonita de óculos. Toda a minha vida, eu busquei uma perfeição na minha aparência que não me deixava ser eu mesma. Por que eu não podia ser perfeita com óculos? O que tinha de mais nisso? Por que eu me importava tanto com o que as pessoas pensavam de mim? Eu tinha todo aquele trabalho diário para suprir uma necessidade idiota que eu mesma tinha inventado ao invés de assumir o meu verdadeiro eu e usar uma peça simples como óculos. A beleza que eu enxerguei na Lily de óculos eu podia enxergar em mim também.

Pensando nisso, comecei a procurar no meu guarda-roupa e achei aqueles objetos que eu escondi por tanto tempo.

— Olha só quem vai finalmente sair da caixa — falei e peguei os óculos.

Fui até um espelho e os coloquei. No começo, senti um certo impacto, mas foi algo bom. Pela primeira vez, eu não me achei estranha. Durante o fundamental, a escola me fez acreditar que ter hipermetropia e usar óculos era algo surreal, mas era tão comum. Eu precisava parar de fingir que não tinha nada daquilo.

De óculos, desci para a cozinha e os meus pais estavam lá. Sentei na mesa e eles me olharam com surpresa.

— Bom dia — falei.

— Bom dia — meu pai respondeu. — Aconteceu algo com as suas lentes?

— Não.

— Esse óculos ainda serve? — minha mãe perguntou.

— Sim. Tô enxergando tudo perfeitamente. — Dei um meio sorriso. — Enfim, eu preciso da ajuda de vocês com uma coisa. — Meus pais ficaram me olhando. — Uma amiga minha teve um objeto importante quebrado por minha causa. Não fui eu quem quebrou, mas foi por causa de mim.

— Como assim? — minha mãe questionou.

— São coisas lá da escola, mas alguns... — Eu ia falar amigos, mas estava claro que eles não eram aquilo. — Algumas pessoas que andam comigo quebraram a câmera dessa minha amiga porque ela não é uma líder de torcida, estrela do time ou qualquer outra coisa que a faça popular.

— Olha as pessoas com quem você anda — meu pai disse e eu me segurei para não revirar os olhos.

— Eu sei, pai. Não precisa me lembrar disso. — Ajeitei os óculos. — A questão é que eu preciso tentar reparar as coisas com a minha amiga. Eu quero dar uma câmera de presente pra ela porque sei que ela ama tirar fotos e também porque é uma parte do trabalho que estamos fazendo juntas. — Os dois continuavam parados, provavelmente tentando entender o que eu queria. — E pra isso, pensei que vocês podiam adiantar alguns meses da minha mesada porque sei que temos condições pra isso.

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