Capítulo 4

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Os membros da Corte Noturna perdem o fôlego.

Observo tudo de forma neutra, conseguindo ver perfeitamente quando Elain se levanta atordoada e vai para o lado de Feyre, essa que estava com a mão na boca em surpresa. Não avisto Nestha em lugar algum, deve estar em outro lugar.


Desprevenidos.

Eu os peguei completamente desprevenidos, acabo dando um risinho em minha mente por isso. Porém por fora minha expressão continuava neutra enquanto os observava calmamente. E finalmente, depois de segundos de um silêncio desconfortável, Helion se pronuncia voltando-se para a Corte de minhas irmãs.

- Vocês a conhecem?- O Grão-Senhor estava visivelmente confuso, assim como os outros- E você também Alice? Como?

Alice deu de ombros me guiando para um assento vazio de frente para todos.

- Lembra que eu te disse que sai por uma aventura com uma certa capitã de navio muito louca e poderosa?- Começa a explicar para o macho e eu arqueio uma sobrancelha pelo "louca", quando Helion afirma ela continua - Então... é ela.

- Qual seu nome, garota?

O Grão-Senhor da Outonal, Eris, pergunta com desdém evidente em sua voz. Desde que ele assumiu o trono da Corte Outonal, o desgraçado se achava melhor do que todos, antes também era assim, porém agora está pior.

Eris deu um golpe de Estado no pai e o matou, foi o maior escândalo, todos ficaram sabendo. E antes de matar Beron, Eris ainda teve a coragem de contar que Lucien não era seu filho, a Senhora da Outonal quase morreu na mão de suas outras crias que queriam vingar a honra de seu pai. Mas felizmente Eris e Lucien conseguiram salvar a fêmea.

Pouco tempo depois que se tornou Grão-Senhor, Eris contou ao mundo que possuía uma filha e a declarou sua herdeira. Muitos machos retrógrados não gostaram nem um pouco em saber que uma fêmea seria sua futura Grã-Senhora, mas nada que uma boa ameaça e surra não sossegasse o facho deles.

- Não que eu lhes deva satisfação, mas meu nome é Celestina Archeron, porém todos me chamam de Celeste.

Espanto toma as suas feições.

- Espera, - começa a senhora da invernal- você disse Archeron?

Assinto distraidamente enquanto reparava em uma pequena joaninha no braço de minha cadeira, mas me divertindo cada vez mais com suas reações.

- Por onde esteve?- a voz dura de Feyre alcança meus ouvidos.

Ela estava magoada, quem não estaria em seu lugar? Desapareci em um momento crítico de guerra e reapareci em outro. Nem mesmo fui ver seu filho após seu nascimento difícil .

Continuo em silêncio por mais alguns segundos enquanto a encaro. O mundo ao nosso redor sumindo. Éramos muito unidas quando humanas, nós duas contra o mundo.

Feyre me ensinou tudo o que podia na época. Ela foi minha melhor e única amiga durante um bom tempo. Feyfey me ensinou a caçar, a me mover silenciosamente para não assustar a presa, me ensinou a limpar a carne e fazer roupas com a pele, também ensinou a negociar produtos e nunca aceitar misérias em troca de algo feito com muito esforço e suor.

Ela foi meu tudo, meu porto seguro, foi aquela em que eu sempre podia contar, que estava de braços abertos para me receber e ajudar. Mas então aquela besta invadiu nosso chalé e a levou. Levou minha irmã mais velha, aquela em que muita das vezes fez o papel da mãe que nunca tive, ele a tirou de mim e meu mundo desabou, precisei enfrentar o mundo sem os braços acolhedores de Feyre.

Isso foi assustador.

Mas mais assustador ainda foi quando ela apareceu em casa de novo, meses mais tarde e como uma grã-feérica feita. Ou então, quando durante a madrugada dezenas de machos feéricos apareceram e levaram a mim e minhas outras irmãs para o nosso maior pesadelo.

Durante um bom tempo culpei Feyre por ter me tornado feérica, por ter sido espancada e torturada e estuprada por seres que fui ensinada a odiar desde nova. Mas depois, percebi que não era culpa dela, nunca foi.

A culpa era única de Tamlin e Iante, talvez um também pouco daquele amigo ruivo e caolho dela, mas não de Feyre, nunca seria culpa dela. Pena que percebi isso tarde demais.

- Não é necessário que saiba.

Digo simples, não queria grossa com ela, mas o tempo em que estive navegando não era de sua conta, e também não queria que ela soubesse, muito manos esse bando de abutres curiosos. Talvez em outro momento eu conte sobre minhas aventuras para ela, para Nestha e Elain também se as duas estiverem dispostas e sem raiva de mim.

Minha irmã range os dentes, consigo ver gavinhas de escuridão começar a sair de seu corpo. Elain interfere no que poderia ser o início de uma briga maior.

- Não comecem! Conversamos sobre isso depois, vamos voltar ao assunto inicial, por favor.

Relutante, nós desviamos o olhar uma da outra.

- Já estou inteirada dos últimos acontecimentos através de Alice.- respiro fundo e analiso melhor todos que estão na sala.- Essas criaturas que estão atacando já passaram por outros lugares do mundo. Fui em vários dos continentes em que elas atacaram, então tenho certa experiência com eles, também já lutei contra um recentemente.

- Você vai conseguir nos ajudar?

Pergunta Helion.

- Vou fazer de tudo para que sim, mas não posso dar certeza. Preciso de tempo e material para pesquisa. E também seria bom saber o último local atacado.

- Foi em minha Corte, - começa o Grão-Senhor- perto de Velaris, você pode voltar conosco para analisar melhor.

Assinto agradecida. Bom, acho que voltarei para a cidade em que fugi tantos anos atrás. Que o caldeirão me ferva, pois não sabia se estava pronta para isso.

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓭𝓮 𝓣𝓮𝓶𝓹𝓮𝓼𝓽𝓪𝓭𝓮𝓼 𝓮 𝓝𝓪𝓾𝓯𝓻𝓪́𝓰𝓲𝓸𝓼 - 𝕃𝕚𝕧𝕣𝕠 𝟙Onde histórias criam vida. Descubra agora