Capítulo 8

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Minha cabeça doía, mas no momento eu tinha que me manter firme e continuar contando o meu lado da história.

- Não suportava minha nova realidade. Não suportava me olhar no espelho, olhar ao meu redor e ver que estava no lar de seres em que fui ensinada a vida toda a odiar.- balanço a cabeça com medo de continuar - E também... haviam as vozes...

- Vozes?!- Amren, o demônio milenar, me interrompe debochando.- Que vozes menina?

- Se me deixasse responder sem me interromper.- resmungo irritada, qual era problema deles em esperar até o final antes de saírem palpitando?- Dezenas delas, centenas em minha cabeça. Sussurrando coisas inaudíveis para os outros, mas não para mim. Eu estava a ponto de enlouquecer.

Uma movimentação nas janelas atrás dos feéricos alados chama minha atenção. Levanto do sofá, contorno os machos que observam cada movimento meu com intensidade e desconfiança, como se eu fosse uma cobra prestes a dar o bote e atacar a qualquer segundo.

Ridículo.

Ao me aproximar da janela, constato que a movimentação era apenas de crianças aladas passando rápido pelo céu, brincando. Relaxo um pouco, era sempre assim; depois de tudo o que aconteceu eu não conseguia mais relaxar totalmente, estava sempre desconfiada, poucos possuíam minha confiança hoje em dia.

- Porque não falou com ninguém?- a voz de Feyre teve uma doçura que me incomodou, odiava quando me tratavam com pena, não precisava de pena. - Porque não pediu ajuda para algum de nós?

- Porque já estavam com problemas demais, Feyre. Você estava na Primaveril, Nestha e Elain estavam machucadas e traumatizadas tanto quanto eu, um pouco menos talvez, não importa muito. Vocês dois - aponto para Cassian e Azriel quando me voltei para eles - acabaram de ter as asas completamente dilaceradas e precisavam de cuidados. Morrigan, Rhysand e Amren precisavam cuidar da Corte e preparar os exércitos, já que Cassian estava gravemente ferido.

- Mesmo assim, - Rhysand me olha com compreensão e ternura pela primeira vez desde que cheguei - poderia ter pedido ajuda para nós. Daríamos um jeito de te ajudar.

Aponto um dedo para ele.

- Este é o ponto, Rhysand. Não havia como vocês me ajudarem, mesmo que quisessem.

Vejo seus cenhos se franzirem, estavam confusos.

- Meus poderes são incompreensíveis.- esclareço - Nunca antes foi visto algo como eu tenho, meus poderes são únicos. Literalmente.

Um silêncio ensurdecedor se faz presente após minha declaração. Minutos depois Amren é quem finalmente quebra o silêncio:

- Explique-se melhor, menina.

Suspiro.

- Meus poderes são a eletricidade, mas dentro dela há subdivisões que podem ser feitas. É complicado. Posso gerar e manipular eletricidade, como também posso me transformar e carregar informações através dela. E as vozes eram justamente isso, informações sendo lançadas para mim.

Compreensão passa pelos olhos prateados de Ameren.

- Você estava escutando vozes de diversas pessoas pelo mundo todo, e elas eram transmitidas por meio de sua eletricidade. - seus olhos brilham de animação, a imediata parecia uma criança quando ganha um novo brinquedo- Fascinante!

- Diria que meus poderes são tudo, menos fascinante, mas...

Amren ignora meu resmungo. Escuto alguém pigarrear, e me viro apenas para ver Cassian com uma mão levantada e com uma feição de desentendimento.

- Ah... acho que eu não entendi direito.

- Resumindo? A Manipulação de Eletricidade é um poder cinético e elemental que permite seu portador gerar e manipular eletricidade. - faço uma pausa. - Mas diferente do que muitos acham, ela não é uma variação da Manipulação Elemental, da Manipulação de Plasma e da Manipulação de Energia, é a junção de tudo isso.

- Mas você não falou que era um poder nunca antes visto.

Aceno com a cabeça, e dou um sorrisinho de lado enquanto volto a me sentar no sofá.

- Sim, de fato, eu disse que nunca antes foi visto, - pisco um olho- mas já foi pensado e teorizado, general.

- Legal...

- Não, não é legal Cassian. - Rhys corta o amigo - É perigoso.

O encaro.

- Não sei o porquê, Rhysand. Já que sou perfeitamente capaz de controlá-los hoje em dia.

- Mesmo assim...

- Mesmo assim o caralho.- esbravejo me levantando do sofá- Eu sei bem o que está fazendo Grão-Senhor, e saiba que não permitirei uma coisa dessas. Não permitirei que tente me controlar.

Um sorrisinho preguiçoso nasce em seus lábios, os braços cruzados e a postura relaxada, mas que mostrava que ele era alguém importante e poderoso. Isso estava me irritando, tinha vontade de tirar esse sorrisinho de seu rosto na base do soco.

Parecendo entender minha raiva, o sorriso apenas aumenta. Merda, meus escudos mentais, tinha esquecido de levantá-los. Malditos sejam os deamatis, argh! Encubro minha mente com um muro de obsidiana, e envolvo-o com uma tempestade de raios verde-prateados.

Rhys arqueia a sobrancelha e continua com um sorriso ladino. Perco a pouca paciência paciência que me restava.

- Lembrem-se, são vocês que precisam de mim, não o contrário. Então não me provoquem, pois posso deixá-los aqui se foderem e ir para o outro lado do mundo ficar bem tranquila, e vocês aqui, mortos.

Agora sou eu quem sorrio satisfeita, por ver a surpresa e a raiva estampadas no rosto de meu cunhado e seus amiguinhos.

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓭𝓮 𝓣𝓮𝓶𝓹𝓮𝓼𝓽𝓪𝓭𝓮𝓼 𝓮 𝓝𝓪𝓾𝓯𝓻𝓪́𝓰𝓲𝓸𝓼 - 𝕃𝕚𝕧𝕣𝕠 𝟙Onde histórias criam vida. Descubra agora