𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓭𝓮 𝓣𝓮𝓶𝓹𝓮𝓼𝓽𝓪𝓭𝓮𝓼 𝓮 𝓝𝓪𝓾𝓯𝓻𝓪́𝓰𝓲𝓸𝓼 - 𝕃𝕚𝕧𝕣𝕠 𝟙

Capítulo 6

⚠️(Pode haver gatilho neste capítulo)⚠️

Sigo em silêncio pelo corredor bem iluminado da Casa. O sangue em meu rosto já estava seco, queria limpar isso antes da nossa conversa. E parecendo ler meus pensamentos, Cassian me estende um paninho e uma pequena bacia do que parecia ser água quando chegamos em uma das salas.

Suspiro, e sento no sofá de dois lugares, que ficava de frente a três enormes janelas. Era uma sala bonita e arejada, parecia ser bem antiga. Eu me lembro um pouco deste lugar, me trouxeram para cá pouco depois de ser transformada.

Sinto mãos pequenas e quentinhas em meu antebraço e mão. Era Elain. Ela havia se aproximado tão silenciosamente que nem percebi. Então, cuidadosamente, ela tira o paninho e o pote de minhas mãos e os apoia entre as pernas, apenas para poder segurar meu rosto com uma das mãos.

Um pequeno kit médico apareceu magicamente, ele foi apoiado em meus joelhos por ela, que não tardou em abri-lo com a mão livre e tirar pequenos frascos com remédios e sei lá mais oque. Meus olhos marejam um pouco. Sempre tão cuidadosa, Elain sempre fora cuidadosa com todas nós, principalmente quando cuidava de nossos machucados.

Fecho os olhos, sentindo duas lágrimas solitárias escorrerem pelo meu rosto. Escuto Elain despejar um pouco de um dos líquidos medicinais na água do pote e levar ao meu rosto, para começar a cuidar dos ferimentos feitos por Nestha.

Minha cura feérica poderia cuidar do nariz deslocado e dos cortes feitos pelo anel de Nestha, mas mesmo assim deixo Ella cuidar de mim. Talvez em partes seja por sentir falta desse tipo de carinho vindo de alguém que conheço, que compartilha o mesmo sangue que o meu.

O silêncio reina durante todo o período em que minha irmã leva para cuidar de meu rosto.

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- Elain já terminou de cuidar dos seus machucados,- diz Nestha com a voz gélida - pode começar a falar.

Suspiro sabendo que essa era uma conversa que não dava para ser adiada. Mexo-me desconfortável no sofá, abraçando minhas próprias pernas e com o queixo entre os joelhos.

- Não sei como começar isso mas... - engoli em seco - Eu fui quebrada. Fui quebrada e violada e refeita, à um nível completamente diferente em que vocês foram. Foi muito pior comigo.

Vi que Nestha abriu a boca para dizer algo, porém não a deixo falar.

- Não estou desmerecendo suas dores, nem nada do tipo, não é isso.- Olho para cada um deles antes de continuar.- É só que eles me usaram como brinquedo, um experimento. Vocês duas,- indico Nestha e Elain com um gesto de mão- "só" foram refeitas através do caldeirão, nada a mais.

Sinto meus olhos marejarem.

" Mas eu... eu fui refeita, espancada, humilhada, torturada e estuprada. Machos tocaram em mim sem a minha permissão, tiraram o que me era de mais valioso. Algo que entregaria quando estivesse pronta e para quem eu confiasse, e não para aqueles trogloditas nojentos.

Quando senti ser levada para outro lugar, quando fomos atravessados para a Casa da Cidade, a única coisa que senti além de um enorme vazio, era nojo. De mim mesma, da minha pele rasgada e eternamente marcada. Esse sentimento era tão grande, que foi um dos motivos de ter ido embora."

Faço uma pausa arfando e engasgando com os soluços e lágrimas. Não tinha percebido que abaixei o olhar para o chão enquanto falava - para as minhas mãos que tremiam violentamente mesmo contra a minha vontade, mas ao levantar os olhos.

Vejo todos me encarando e também chorando. Até mesmo Amren tinha os olhos marejados, o que era um avanço conhecendo seu comportamento gélido, e até mesmo, apático com a dor dos outros.