Capítulo 10

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Sou eu.

Aquela garotinha encostada no barco e sorrindo. Era quando eu era feliz e completa, mesmo em meio a fome e desestruturação tão familiar, e nem sabia. Sinto um aperto no coração ao lembrar da inocente e feliz garota humana em que já fui.

A pobreza nunca foi um problema para mim, pois diferentemente de minhas irmãs, eu não cresci em meio ao luxo. Poucos meses antes de completar uma ano de idade minha mãe havia morrido; tinha apenas dois anos quando meu pai perdeu todo o resto de dinheiro que possuíamos.

Embora minhas irmãs, - mais Feyre junto de Elain - tenham tentado fazer um papel materno comigo, elas não conseguiram muito bem, afinal de contas, também eram apenas garotinhas, não tinham quase nenhuma base para fazer tal papel em minha vida.

Aquela pintura era de dois anos antes da merda toda acontecer, de ser sequestrada e transformada em feérica. Quando isso aconteceu, quando fui jogada no caldeirão, possuía apenas quatorze anos, agora tenho vinte e um.

Rio internamente ao me lembrar que, durante os últimos dois dias, toda vez que minhas irmãs me olhavam, elas se assustavam por não encontrarem mais aquela garotinha sorridente e espoleta que um dia fui.

Passei sete anos longe de minhas irmãs, apenas para tentar reencontrar neste mundo cruel e devastando a minha alma perdida. Não tive sucesso nessa busca, bom, não completamente pelo menos.

Continuo caminhando até encontrar duas enormes portas de ébano, estico a mão direita e toco na maçaneta girando-as com cuidado e em seguida fechando quando passo pelas portas.

A conversa foi cessada imediatamente ao perceberem minha presença, me remexo desconfortável por tal acontecimento. Então, caminhando a passos decididos, vou até um lugar vago entre a governadora da Cidade Escavada e minha irmã mais velha, e sento-me.

- Bom dia. - murmuro recebendo um coro de "bom dia" em resposta - Podem continuar suas conversas, não quero atrapalhar.

- Você não atrapalha, Celeste.

- Gentileza a sua Feyre, porém, és uma péssima mentirosa na maior parte do tempo.

Arqueio uma sobrancelha para ela. Eu sabia muito bem que minha presença não era bem vinda, apesar de não saber o motivo. Não que isso me incomodasse, pois estava pouco me fodendo para eles.

Feyre cora em resposta. Meu outro cunhado, marido de Nestha, quebra o silêncio constrangedor que ficou nestes poucos segundos de silêncio.

- Tem algum compromisso agora de manhã? - franzo o cenho para sua pergunta, enquanto me ocupo em servir-me com salada de fruta com chia e linhaça. Então o general explica-se.- É que está bem cedo, são cinco da manhã.

- Não costumo acordar tarde. Quando estamos em alto-mar a luz do sol é um recurso valioso.- dou uma desculpa esfarrapada e dou de ombros, se bem que não é de tudo mentira.- E também tenho alguns... ãn, compromissos, por assim dizer, agora cedo.

Os olhos prateados e afiados da imediata me encaram.

- Quais compromissos, criança?!

A encaro de volta, velha chata, os quinze mil anos a deixaram curiosa e rabugenta.

- Não vejo como isso seja da sua conta, velhota.

Escuto alguns engasgos e sons de surpresa, mas não me importo, parecia que não era sempre que enfrentavam Amren, mas apenas continuo a encará-la.  

- Você é uma completa desconhecida, além disso, é super poderosa e está em minha Corte, e agora vai fazer sabe-se lá o que.- Amren se inclina um pouco em minha direção- Então sim garota, é da minha conta onde você vai ou o que deixa de fazer.

Não me abalo com sua fala ácida e raivosa, apenas levanto o queixo em elegância e prepotência, falando:

- Já disse antes, porém vou deixar tudo bem mais claro. Não sou a inimiga aqui. - afirmo sentindo meu maxilar se apertar fortemente - E nem pretendo ser, tenho coisas mais úteis doque comprar briga com outras pessoas no momento. Estou aqui para fazer um favor a vocês.

Faço uma pausa e olho para todos enquanto beberico a água do copo em minha frente, tentando relaxar, precisava de algo mais forte.

- Além do mais, esta é a Corte de minhas irmãs, a família delas. Nunca faria mal a alguém importante para elas, seja quem for. - Me levanto pegando minha salada de frutas, quando percebo que estou começando a perder a paciência e o controle de meus poderes, e que não acalmaria os nervos tão cedo - Então, sossega o facho e vê se me deixa em paz.

Dito isso, saio do cômodo e vou direto para a saída da casa. Escuto eles me chamarem, mas apenas mando-os a puta que pariu e me desmancho em eletricidade, atravessando de volta à Corte Diurna.

Iria me acalmara para poder conversar com Alice sobre possíveis estratégias para capturar essas coisas que estão tirando o sono de muitos, e também para levar o meu navio para ser atracado no porto de Velaris.

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓭𝓮 𝓣𝓮𝓶𝓹𝓮𝓼𝓽𝓪𝓭𝓮𝓼 𝓮 𝓝𝓪𝓾𝓯𝓻𝓪́𝓰𝓲𝓸𝓼 - 𝕃𝕚𝕧𝕣𝕠 𝟙Onde histórias criam vida. Descubra agora