{7}Respire fundo

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Aviso!!!

Se você sofre com crises de ansiedade o capítulo a seguir pode ser perturbador em alguns momentos.


Conforme se aproxima do meu rosto, sou capaz de ver melhor os detalhes do vidro. Vários losangos em sequência, refletindo o que acontece ao redor.

O apagar das luzes é uma das primeiras coisas que assisto através daqueles reflexos minúsculos. Logo depois, olhos assustados me encaram fixamente. Sinto mais uma forte sacudida e a viagem do vaso parece se acelerar.

Tateio a cintura, em busca do fecho do cinto e, assim que encontro — me esquecendo das consequências que isso possa ter — o puxo em desespero, me libertando por fim.

No segundo seguinte, me lanço no chão e acabo escorregando pra lateral do avião. Não demora muito, ouço um baque atrás de mim e ao me virar, percebo que o vaso pende inteiro sobre o assento do banco.

A força do impacto foi tanta que não quebrou o vidro, mas na pior das hipóteses quebraria meu nariz.

Um novo tremor no avião faz com que o vaso finalmente caia, se estilhaçando ao lado de minha perna.

Então sinto o corpo começar a flutuar um pouco e apesar de com isso ser erguida somente poucos centímetros, já se torna o suficiente pra me fazer acertar com a nuca na bandeja retrátil.

— Ai!

— Jordanna! — ouço Fautier gritar.

Porém, não encontro forças pra responder.

Despenco de joelhos no chão e através da calça jeans sinto ser espetada por várias extremidades pontiagudas. De repente, começo a escorregar pelo piso instável, rumo ao lado oposto da ala, o que faz a sensação na pele piorar mil vezes.

Sem ter nada a minha frente em que possa me segurar, forço-me a virar o corpo em meio à outra sacudida violenta, esperando assim, conseguir me agarrar na borda de alguma poltrona.

Contudo, quando fico de frente aos assentos, só o que consigo é assisti-los passando por mim enquanto sou velozmente jogada pra longe de seu alcance.

Desespero-me, balançando os braços freneticamente e as pontas dos dedos apenas roçam o couro branco, incapazes de me ancorar ali.

Sem controle, meu corpo é impulsionado com destino certo à lateral do avião. Então fecho os olhos, me preparando pra dor, mas surpreendo-me ao sentir meu pulso sendo enlaçado por dedos magros.

Bato os joelhos com força, voltando ao chão.

Uma forte pontada num deles, provoca a escalada de um grito pela minha garganta. A unha de quem me prende adentra por minha pele, fazendo-me lacrimejar na mesma hora.

Nisso, engulo a vontade de gritar e reabro meus olhos enevoados.

Deparo-me com Fautier cerrando os dentes enquanto pressiona as demais unhas, me ferindo e ao mesmo tempo me salvando, numa tentativa aflita de me manter no lugar.

Pouco depois, meu corpo desata a flutuar outra vez. Os pés levantam sozinhos num golpe e bato a panturrilha no compartimento acima dos assentos.

Encaro Fautier amedrontada, por sua vez, ele estende o braço livre com ímpeto e se esforça pra segurar meu outro pulso. Assim que obtém bons resultados, vejo o homem avaliar nosso entorno, provavelmente, procurando uma solução definitiva pra minha encrenca.

— Não devia ter tirado seu cinto! — repreende, voltando a atenção pra mim.

Após constatar que estamos sem alternativas.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora