{13}Sozinha em Paris

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Num reflexo de autoproteção seguro o braço de Thierry.

Atraídos pelo meu movimento os três homens que se mantinham vidrados nele, desviam os olhos pra mim com uma sincronia aterrorizante.

— Petit! — Um deles diz mostrando um dente dourado entre os amarelos.

Se precisou se dar ao luxo de implantar um dente de ouro e os outros estão nesse estado só posso concluir que o dente que perdeu tava coberto de cárie.

— "Petit gateau" pra você também — digo e puxo Thierry enquanto ele ainda ri do meu comentário — Vamos!

Os homens dão passos atrás ficando ainda mais na nossa frente. Atravancando a subida pela escada.

— Pourquoi une telle hâte? — O mesmo cara diz coçando o cavanhaque em seu queixo — Maintenant la fête commence vraiment.

Ele gargalha seguido dos amiguinhos. Eu nem sei o que ele disse só sei que sinto o sangue ferver. Ergo a mão e cutuco ele no ombro.

— Bom... — começo quando finalmente para a sessão de risos — Já que não entende o que eu digo... Eu quero informar que vocês são uns covardes que só sabem ameaçar mulheres e garotinhas indefesas e um dia vão se arrepender amargamente disso! — grito de indignação por fim.

Sufoco outro grito quando o dono do cavanhaque agarra meu pescoço e me levanta do chão. Seu rosto antes pálido, ficando vermelho de raiva.

Thierry avança pra me ajudar, mas é prensado na parede pelos outros dois.

— Eu entendo o que você vomita pela boca sua mimadinha — O homem diz entredentes.

Me engasgo e chuto o ar tentando respirar, dou pancadas frágeis na mão dele assistindo de alto seu sorriso zombador. Pontinhos pretos surgem a frente de seu rosto mal iluminado.

— Só... con... seguiu... pro...var... — ofego arregalando os olhos — Que... eu... estou certa.

Ergo o braço em que seguro a câmera e aponto no olho dele disparando o flash. Assim que o homem me larga, momentaneamente cego, me viro e acerto a contax com força na cabeça de um dos caras que prendem Thierry. Ao mesmo tempo ele se desvencilha do outro arruaceiro, dando um golpe de violino que o atira no chão.

Damos as mãos e corremos pela escada.

— Você é mesmo um covarde! — grito provocando ecos pelo local.

Continuamos a correr quando alcançamos o corredor, ouço passos pesados na escada e sei que já estão nos seguindo. Solto a mão de Thierry pra poder correr melhor. Assim que alcanço o primeiro degrau da outra escadaria, escuto algo passar zumbindo perto da minha cabeça.

É o pedaço de madeira que o cara, em quem dei uma câmerada, estava segurando. Foi arremessado só pra se espatifar a minha frente.

Pulo os degraus de dois em dois e chego ao térreo do prédio. Thierry me ultrapassa e rapidamente segura à pesada porta da frente, acenando apressado pra que eu saia. Do lado de fora atravessamos a pequena quadra de futebol onde alguns meninos jogam bola e nos esprememos passando pelo portão enferrujado.

Olho na direção do prédio antes de entrar na viela estreita por onde havíamos passado com muito mais calma uma hora atrás. Na quadra vejo um dos arruaceiros chegar correndo e dar uma bica na bola jogando ela por cima da cerca.

Avançando pelo fino espaço entre os prédios, ouço o alvoroço aumentar com as reclamações da garotada. Logo eu e Thierry estamos na rua principal nos misturando com os pedestres. Não paramos nossa fuga até chegar à praça onde eu tinha chorado antes.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora