Sigo de perto a nuca dele.
Conforme lidera o caminho, pelo longo corredor mal iluminado, o rapaz vai desacelerando os passos. Talvez receoso em tropeçar.
— Por que...
— Shh! — Ele pede se virando em minha direção com um dedo sobre os lábios — Fale o mais baixo humanamente possível.
"Tá bom" gesticulo com os lábios.
— Porque tá caminhando nas pontas dos pés? — pergunto sussurrando.
— Porque temos de passar despercebidos.
— E porque temos de passar despercebidos? Por acaso estamos invadindo?
— Não exatamente, mas fui proibido de entrar nesse lugar.
— Então estamos invadindo. — afirmo colocando as mãos na cintura.
— Bom... Sim.
— Ótimo! — digo e dou meia volta.
Era só o que faltava eu agora virar criminosa. Até parece.
— Ei! — O homem chama aos sussurros me segurando pelo cotovelo — O que está fazendo?
— Evitando ter de passar o resto desse dia na cadeia. — explico me desvencilhando.
Me afasto e faço um pouco de barulho ao andar depressa, mas logo sou alcançada outra vez.
— Não seja boba. — ele sussurra entrando em minha frente com um sorriso no rosto — Não é um caso de polícia, está mais pra um caso de olho roxo e nariz quebrado. A verdade é que o pessoal que mora por aqui não gosta do que fazemos e nas vezes em que nos pegaram, partiram pra ignorância. Normalmente não me preocupo, mas estava querendo poupar seu pescoço.
Fico o encarando fixamente, espantada com a calma na voz dele.
— Você tem certeza que quer continuar deixado tudo tão subentendido? — solto depois de um tempo de silêncio — Só pergunto por que... Com essa explicação ai, fica tudo ainda mais suspeito.
— Quando entrarmos eu explico a história e ai você vai ver que não existe problema. — responde me dando as costas.
Existe problema sim. Não acho nada tranquila minha situação.
Sacudo a cabeça e o sigo a contragosto. Voltamos a caminhar na direção de antes e noto que ele usa sapatos sociais que soltam alguns estalinhos inevitáveis quando anda.
— Se queria evitar ser ouvido devia ter vindo de pantufas. — comento baixinho.
— Vou me lembrar dessa dica. — Ele diz parando — Agora vamos. Você terá suas respostas.
Ele aponta algum lugar a esquerda. Chego até ele e descubro que teremos de descer mais um lance de escadas. Lá embaixo só vejo o breu, ou seja, não vejo nem uma mosca voando diante do nariz.
Esse lugar não tem lâmpadas?
— Aonde vamos? Ao núcleo da terra?
— Já fez essa piadinha antes. — Ele retruca erguendo uma sobrancelha.
— Você não me respondeu.
— É o ultimo. São só dois andares no subsolo.
— Não sabia que existiam prédios assim, com apartamentos abaixo da terra.
— Agora sabe... Meus parabéns. — Ele diz iniciando a descida.
Solto o fôlego pesadamente e piso com cuidado no primeiro degrau, tateio com o pé pra encontrar onde começa o próximo e vou descendo aos poucos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um dia em Paris
RomantizmJordanna é uma fotógrafa de 24 anos que recebe como premiação de um concurso, uma grande oportunidade de viajar até Amsterdã por seis meses para fazer um curso profissional de fotografia. Com direito a hospedagem, um tour pelos jardins das tulipa...