{12}Um longo Corredor

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Sigo de perto a nuca dele.

Conforme lidera o caminho, pelo longo corredor mal iluminado, o rapaz vai desacelerando os passos. Talvez receoso em tropeçar.

— Por que...

— Shh! — Ele pede se virando em minha direção com um dedo sobre os lábios — Fale o mais baixo humanamente possível.

"Tá bom" gesticulo com os lábios.

— Porque tá caminhando nas pontas dos pés? — pergunto sussurrando.

— Porque temos de passar despercebidos.

— E porque temos de passar despercebidos? Por acaso estamos invadindo?

— Não exatamente, mas fui proibido de entrar nesse lugar.

— Então estamos invadindo. — afirmo colocando as mãos na cintura.

— Bom... Sim.

— Ótimo! — digo e dou meia volta.

Era só o que faltava eu agora virar criminosa. Até parece.

— Ei! — O homem chama aos sussurros me segurando pelo cotovelo — O que está fazendo?

— Evitando ter de passar o resto desse dia na cadeia. — explico me desvencilhando.

Me afasto e faço um pouco de barulho ao andar depressa, mas logo sou alcançada outra vez.

— Não seja boba. — ele sussurra entrando em minha frente com um sorriso no rosto — Não é um caso de polícia, está mais pra um caso de olho roxo e nariz quebrado. A verdade é que o pessoal que mora por aqui não gosta do que fazemos e nas vezes em que nos pegaram, partiram pra ignorância. Normalmente não me preocupo, mas estava querendo poupar seu pescoço.

Fico o encarando fixamente, espantada com a calma na voz dele.

— Você tem certeza que quer continuar deixado tudo tão subentendido? — solto depois de um tempo de silêncio — Só pergunto por que... Com essa explicação ai, fica tudo ainda mais suspeito.

— Quando entrarmos eu explico a história e ai você vai ver que não existe problema. — responde me dando as costas.

Existe problema sim. Não acho nada tranquila minha situação.

Sacudo a cabeça e o sigo a contragosto. Voltamos a caminhar na direção de antes e noto que ele usa sapatos sociais que soltam alguns estalinhos inevitáveis quando anda.

— Se queria evitar ser ouvido devia ter vindo de pantufas. — comento baixinho.

— Vou me lembrar dessa dica. — Ele diz parando — Agora vamos. Você terá suas respostas.

Ele aponta algum lugar a esquerda. Chego até ele e descubro que teremos de descer mais um lance de escadas. Lá embaixo só vejo o breu, ou seja, não vejo nem uma mosca voando diante do nariz.

Esse lugar não tem lâmpadas?

— Aonde vamos? Ao núcleo da terra?

— Já fez essa piadinha antes. — Ele retruca erguendo uma sobrancelha.

— Você não me respondeu.

— É o ultimo. São só dois andares no subsolo.

— Não sabia que existiam prédios assim, com apartamentos abaixo da terra.

— Agora sabe... Meus parabéns. — Ele diz iniciando a descida.

Solto o fôlego pesadamente e piso com cuidado no primeiro degrau, tateio com o pé pra encontrar onde começa o próximo e vou descendo aos poucos.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora