{3}Detectando mais confusão do que metais

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Pra alguém que não perde a oportunidade de reclamar de uma companhia aérea, deve ser estranho observar o sorriso satisfeito em meu rosto.

Assim que entrei no amplo saguão do aeroporto, arrastando minha mala prateada pelo piso de aparência escorregadia — que me deu nervoso só de pensar na possibilidade de cair de cara — fui, com muita alegria, bombardeada por duas palavrinhas no painel de informações.

Voo atrasado.

E lá se foi meu último sinal de desespero em forma de um suspiro aliviado. Nunca pensei que um trânsito aéreo fosse me fazer tão feliz.

Ainda bem que meu avião ficou preso no sinal.

Brincadeira! Eu sei que esse tipo de sinalização não existe no céu... Ou existe?

Enfim...

O importante é que, graças a Deus, mesmo com toda confusão em que minha manhã se transformou, deu tudo certo e ainda poderei conhecer os moinhos de vento holandeses.

Apesar de que, foi por um triz que não perdi o horário do check-in. Não tinha ideia de que teria um prazo curto pra isso também. Chega me arrepiei.

Porém, agora que me livrei daquela mala — devidamente despachada — me sinto leve como uma pluma. Nada pode me impedir de embarcar agora... certo?

— Bom dia! — cumprimenta um jovem com um sorriso esticado e olhar sonolento, quando chega minha vez de passar pelos procedimentos de segurança.

— Bom...

— Passaporte e identidade — pede, interrompendo.

— Ah, aqui — digo, estendendo a documentação.

O rapaz observa minha foto atentamente e depois analisa cada espinha do meu rosto, pra ter certeza de que elas estão na mesma cara que estampa o RG. Depois, verifica o visto e por fim, a passagem.

— Hum... É a sua primeira viagem? — pergunta com um bocejo.

— É sim — respondo baixinho.

Após isso, ele fica um longo tempo encarando os papéis e ao ver que pressiona os olhos pra conseguir ver melhor as letrinhas, começo a sentir um frio na barriga.

Será que tem algo errado?

Pouco depois, o cara pisca longamente e começa a se inclinar em minha direção.

Sem entender o que tá acontecendo, dou um passo atrás e estendo os braços, apoiando os ombros dele pra impedir que se esborrache no piso.

Assustando a si mesmo, ele arregala os olhos, me encara piscando algumas vezes e depois murmura um pedido de desculpas.

— Não dormi bem essa noite — explica com um sorriso sem graça.

— Ahm... Aconte...

— Tudo certo! — exclama com uma súbita animação e devolve os documentos. — Tenha um ótimo voo e aproveite a estadia nos países baixos.

Países baixos? Quê? Como assim? Tem algum engano... Essa não! Vim parar no portão de embarque errado!

Sentindo o coração disparar, pego minhas coisas das mãos do atendente e observo o saguão lotado, completamente confusa.

Como vou encontrar o portão certo agora? Tá mais do que em cima da hora.

— Pode passar por aqui — ele instrui, apontando pra trás de si onde estão o detector de metais e a esteira de raios-x. — Não se preocupe é um procedimento padrão — acrescenta, ao ver minha cara de espanto.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora