{17 horas em Paris}
Aos poucos meu corpo vira despencando. Assisto de cabeça pra baixo o rio se aproximando e minha boina caindo na correnteza revolta, antes de mim.
Atinjo a água gelada e meus ossos enrijecerem pela temperatura. Me debato, sentindo o corpo afundar ainda mais. Paro e fico imóvel observando a água turva. Me assusto ao perceber que a correnteza começa a me arrastar.
"Quando passar pelos rios, eles não o submergirão".
Procuro me acalmar e clamo mentalmente a Deus por socorro.
De repente, uma mão surge da superfície, vindo em minha direção. Sem pensar duas vezes, agarro o braço que acompanha essa mão, os dedos dela se fecham ao redor do meu pulso e sinto os olhos arderem quando sou puxada pra cima em uma velocidade enorme.
Alguém me segura pelo sobretudo e bato meu joelho ferido numa quina de madeira. Caio, cuspindo água por todo lado, tusso forte e só então firmo as vistas no barco onde estou parada de bruços.
— Essa foi por um triz.
Continuo tossindo e me viro escorada em um cotovelo, tentando desgrudar meus cabelos da cara. Ergo meu rosto e a luz do sol, diretamente nos meus olhos, me impede de ver o homem que falou comigo. O barquinho em que estamos atinge com estrondo a margem do rio. Desvio os olhos na direção do barulho e vejo que Thierry vem correndo até nós.
— Achei que teria de pegar alguém hoje, mas sinceramente pensei que seria aquele cara.
Volto a prestar atenção no senhor barbado que me ajudou. Provavelmente, ele estava passeando com o barco e viu toda a cena na ponte. Ensaio um agradecimento, mas nenhuma palavra sai.
Thierry salta pra dentro do barco, me puxando pelo corpo e me apoiando sobre os joelhos dele. Retira os cabelos molhados que eu não consegui e observa cada traço do meu rosto com olhar preocupado.
— Danna! — chama ofegante. — Você está bem?
Nunca tinha visto tamanha preocupação nele. Tanta que até esqueceu de me chamar daquele jeito diferente que costuma fazer.
— O que aconteceu com a Jordanna? — pergunto tentando sorrir.
— Caiu no rio — Ele diz lentamente, após me olhar completamente espantado.
— Precisamos retirar ela daqui — O homem barbado avisa com urgência.
Relaxo me largando e sinto uma dor queimar minha pele.
— Thierry! — exclamo, batendo meus dentes — Estou congelando.
Sinto minha perna dormente, os lábios trêmulos e um arrepio na espinha. Meu corpo começa a se sacudir como um liquidificador desgovernado. O vento dá a impressão de que começa a fatiar minha pele como uma faca.
— Alguém ajuda! — ele pede gritando — Por favor.
Thierry não espera respostas, me pega nos braços e sai do barco. Sinto quando caminha às pressas comigo subindo por algumas escadarias e chega perto da rua.
O barulho dos carros passando e buzinando, ferem meus ouvidos. O soar alto dos meus dentes se batendo me faz sentir levemente encabulada.
Ainda me tremo toda, encarando fixamente o rosto tenso de Thierry, quando sinto alguém me rodear por um casaco seco e quentinho. Ele fica agradecido observando a pessoa com uma expressão de surpresa. Olho pra nossa frente e me deparo com aquela mulher a quem ajudei a desengasgar no restaurante.
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Um dia em Paris
RomanceJordanna é uma fotógrafa de 24 anos que recebe como premiação de um concurso, uma grande oportunidade de viajar até Amsterdã por seis meses para fazer um curso profissional de fotografia. Com direito a hospedagem, um tour pelos jardins das tulipa...