{22}A Dama de Ferro

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{17 horas em Paris}


Aos poucos meu corpo vira despencando. Assisto de cabeça pra baixo o rio se aproximando e minha boina caindo na correnteza revolta, antes de mim.

Atinjo a água gelada e meus ossos enrijecerem pela temperatura. Me debato, sentindo o corpo afundar ainda mais. Paro e fico imóvel observando a água turva. Me assusto ao perceber que a correnteza começa a me arrastar.

"Quando passar pelos rios, eles não o submergirão".

Procuro me acalmar e clamo mentalmente a Deus por socorro.

De repente, uma mão surge da superfície, vindo em minha direção. Sem pensar duas vezes, agarro o braço que acompanha essa mão, os dedos dela se fecham ao redor do meu pulso e sinto os olhos arderem quando sou puxada pra cima em uma velocidade enorme.

Alguém me segura pelo sobretudo e bato meu joelho ferido numa quina de madeira. Caio, cuspindo água por todo lado, tusso forte e só então firmo as vistas no barco onde estou parada de bruços.

— Essa foi por um triz.

Continuo tossindo e me viro escorada em um cotovelo, tentando desgrudar meus cabelos da cara. Ergo meu rosto e a luz do sol, diretamente nos meus olhos, me impede de ver o homem que falou comigo. O barquinho em que estamos atinge com estrondo a margem do rio. Desvio os olhos na direção do barulho e vejo que Thierry vem correndo até nós.

— Achei que teria de pegar alguém hoje, mas sinceramente pensei que seria aquele cara.

Volto a prestar atenção no senhor barbado que me ajudou. Provavelmente, ele estava passeando com o barco e viu toda a cena na ponte. Ensaio um agradecimento, mas nenhuma palavra sai.

Thierry salta pra dentro do barco, me puxando pelo corpo e me apoiando sobre os joelhos dele. Retira os cabelos molhados que eu não consegui e observa cada traço do meu rosto com olhar preocupado.

— Danna! — chama ofegante. — Você está bem?

Nunca tinha visto tamanha preocupação nele. Tanta que até esqueceu de me chamar daquele jeito diferente que costuma fazer.

— O que aconteceu com a Jordanna? — pergunto tentando sorrir.

— Caiu no rio — Ele diz lentamente, após me olhar completamente espantado.

— Precisamos retirar ela daqui — O homem barbado avisa com urgência.

Relaxo me largando e sinto uma dor queimar minha pele.

— Thierry! — exclamo, batendo meus dentes — Estou congelando.

Sinto minha perna dormente, os lábios trêmulos e um arrepio na espinha. Meu corpo começa a se sacudir como um liquidificador desgovernado. O vento dá a impressão de que começa a fatiar minha pele como uma faca.

— Alguém ajuda! — ele pede gritando — Por favor.

Thierry não espera respostas, me pega nos braços e sai do barco. Sinto quando caminha às pressas comigo subindo por algumas escadarias e chega perto da rua.

O barulho dos carros passando e buzinando, ferem meus ouvidos. O soar alto dos meus dentes se batendo me faz sentir levemente encabulada.

Ainda me tremo toda, encarando fixamente o rosto tenso de Thierry, quando sinto alguém me rodear por um casaco seco e quentinho. Ele fica agradecido observando a pessoa com uma expressão de surpresa. Olho pra nossa frente e me deparo com aquela mulher a quem ajudei a desengasgar no restaurante.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora