{19}Deus Proverá

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E se... Eu pegar o próximo trem?

Não saberia qual ponto da cidade tenho de descer, já que Thierry fez o favor de não me dizer aonde íamos. E mesmo que soubesse onde eles me levariam. Provavelmente também ficaria perdida se tentasse me aventurar embarcando em outro trem.

E se... Eu tentasse voltar ao restaurante pra esperar por Thierry?

Bom... Isso seria uma boa solução, se eu tivesse decorado o caminho. Essa cidade é tão grande. Não vou saber voltar.

E se...

Não adianta... Sem dinheiro, sem falar francês e sem conhecer a cidade... Só Deus pra ajudar.

Outra vez me encrenquei e isso em menos de vinte quatro horas, mas dessa vez vou tentar manter a calma. Não tem situação ruim que Deus não possa concertar e não há uma só ovelha que ele deixe pra trás.

Levanto da cadeira onde me sentei depois de assistir sem reação o trem se afastar da plataforma. Caminho um pouco e paro pra olhar um quadro na parede ao lado. Nele vejo um mapa, parecido com aquele em que a Louise brincava de seguir as linhas coloridas com o dedo. Deve ser o mapa com as linhas do metrô.

Hum... Ela seguia uma linha amarela. Sim! Eu lembro.

Olho em volta e vejo que aquela mesma placa, que marca o tempo pro próximo trem, também tem uma faixa de cor amarela, com o número sete, bem nítido, em cima.

Então utilizaríamos a linha sete pra ir até...

Observo o mapa e chego à conclusão que, de nada adianta bancar a detetive. Têm umas quinze paradas da linha amarela... Como vou saber? Não dá pra testar cada uma. Iria rodar Paris a noite toda, e o mais provável... Não encontraria ninguém.

Bufo frustrada e encaro o mapa esperando que alguma pista me salte aos olhos.

Enquanto o observo ouço algumas risadas próximas, viro o rosto pra ver a quem pertencem e meu coração começa a disparar. Me posiciono de frente pra eles e assisto, tentando não demonstrar medo, a aproximação lenta de três rostos conhecidos.

— Olha a cara dela! — Um dos homens diz apontando e começa a rir.

Espio ao redor de forma discreta e descubro que a plataforma tá praticamente vazia. Respiro fundo algumas vezes e fixo os olhos nos arruaceiros. Eles dão vários passos lentos com expressão ameaçadora. Com certeza numa tentativa de me deixar apavorada.

Confortável com a situação eu não me sinto, mas eles não vão saber disso, se depender de mim.

— Cadê seu amiguinho? — O homem, o qual eu acertei com a câmera antes, pergunta olhando em volta de maneira teatral.

Eles param a dois metros de mim e começam a rir de forma doentia.

— Você está sozinha — cantarola aquele que tentou me enforcar.

Mais uma vez eles começam a rir. Dou um passo pra trás devagar, aproveitando a distração dos três, viro meu rosto levemente e espio com o canto do olho, pra ver o que tem atrás de mim.

Mordo meu lábio inferior tentando extravasar o nervosismo que isso me dá.

Atrás de mim vejo apenas uma parede com um quadro de avisos. As gargalhadas deles aumentam e perfuram meus ouvidos, parecem ter notado que eu entendi o que acontece aqui. Estou encurralada nos fundos da plataforma.

— Você está sozinha! — Ele cantarola outra vez e logo em seguida gargalha mais forte.

Não tenho muitas opções, não conheço as intenções. Se eu correr na direção deles, com toda certeza vão me segurar. São três contra uma. Só Deus sabe o que me fariam.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora