{4}Um dia em Bom Presságio

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Você já sentiu que algo não ia bem mesmo que não soubesse como explicar esse sentimento?

É como ter certeza de que vai tropeçar antes mesmo de ver a pedra no meio do caminho.

Quando eu era criança, meu pai gostava de me fazer dormir a noite contando velhas histórias sobre a cidade onde nasceu.

Aí você me pergunta... Danna, o que um assunto tem a ver com o outro?

Bom... Meu pai dizia que quando essa cidade estava se formando, existiam pouquíssimos moradores.

O que é normal, afinal, era o começo de tudo.

O fato é que essas pessoas tinham mania de dizer que podiam perceber quando algo ia acontecer por lá. Como um pressentimento.

Coisa que nós, às vezes, realmente temos, mas que no caso dessas pessoas aí, se resumia em acontecimentos positivos.

Que legal, né?

Por isso, depois de alcançar status suficientes pra ser nomeada, a cidade recebeu o nome de "Bom Presságio".

E nesse lugar surgiram histórias cheias de nostalgia que com o passar dos anos se transformaram em meus contos infantis.

Papai brincava com o fato de ser uma pessoa com vários desses pressentimentos e dizia que era por ter nascido lá.

Eu costumava me chatear por não ter a mesma cidade natal e assim não herdar essa peculiaridade.

Ele ria com minha expressão e me consolava; dizendo que me levaria pra lá em algum momento. Me dava contínuas garantias de que isso já seria suficiente pra que obtivesse essa "habilidade".

O sonho dele era voltar ao seu antigo lar e eu cresci sob essa mesma esperança. Pois, meu pai aceitaria ir até Bom Presságio mesmo que fosse por apenas um dia.

Somente uma visita despretensiosa já bastaria e, com toda certeza, diante de tal oportunidade eu iria a tiracolo.

— É lindo! — exclamo, observando ao redor. — Como descobriu esse lugar?

Em seguida, estico uma perna sobre a outra, descansando elas na grama e volto a admirar o rio.

— Não foi muito difícil de notar a cachoeira — papai comenta bem humorado e envolve meus ombros, para assim, me puxar junto a si.

O encaro confusa e ele abre um sorriso divertido antes de virar o rosto pra conseguir ver algo atrás de nós.

Nisso, olho pra direção que ele observa e percebo nossa velha camionete estacionada na beira da estrada. Bem visível entre a vegetação minguada.

Só assim percebo o quão boba foi minha pergunta e o acompanho em uma sessão de risos. Logo depois, meu pai bagunça meus cabelos e volta sua atenção ao saquinho de jujubas que tem em mãos.

Escolhe uma jujuba vermelha e joga pra cima, tentando em vão acertar ela dentro da boca.

Diante da cena, continuo rindo até que sou acometida por uma seriedade repentina e começo a ter uma sensação estranha por observar o carro outra vez.

— O que foi, querida?

— Não sei porque, mas... não lembro como vim parar aqui — explico, voltando a encarar seus olhos azuis-escuros, tão parecidos com os meus.

— Às vezes isso acontece — papai afirma tranquilamente.

Então abro a boca pra argumentar, mas ele me interrompe com um gesto.

— Não dê importância a isso. Existem coisas mais importantes das quais quero tratar agora. Não é atoa que te trouxe aqui, Danna.

— O que aconteceu?

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora