{21}Saindo da Beira

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Aviso!!

O Capítulo a seguir trata de um tema extremamente delicado!


— Esse rio é famoso? — pergunto, parando e me inclinando no parapeito pra observar as águas lá embaixo.

— Rio Sena, nunca ouviu falar?

— Acho que sim — respondo me afastando e voltando pra perto de Thierry.

Estamos no meio do percurso e a Torre Eiffel fica cada vez mais enorme a nossa frente. Coloco minhas mãos nos bolsos pra aquecer.

Parece que está cada vez mais frio também.

Retiro uma das mãos pra fora do bolso e ergo a altura do peito, abaixo o rosto pra ver que horas são e só com a visão do pulso vazio é que lembro não ter mais o relógio.

— Você vem muito aqui? — pergunto rapidamente com um suspiro.

Tento mudar a mente de direção pra não me chatear com essa perda.

— Quase todos os dias — Thierry diz animado — É o caminho que faço pro meu segundo emprego.

— Ah é... Você não me disse onde trabalha. — lembro, coçando a cabeça.

— Ali!

Sigo a direção que ele aponta, só por seguir mesmo, afinal já sei o que tá a frente. Arregalo meus olhos impressionada.

Deve ser tão legal trabalhar lá.

— Na torre?

— Sim e não — Ele responde rindo.

— Como assim?

— Você entenderá.

Bufo frustrada e cruzo meus braços parando de caminhar.

— Você gosta de fazer um mistério né?

— A vida é um mistério — Ele diz parando também — Acho que eu já disse isso.

Abro a boca pra responder, mas paro quando minha atenção se fixa na cena que vejo a frente.

— Por favor! — peço agoniada — Me diga que não estou vendo o que eu estou vendo.

Thierry se vira pra olhar o motivo da minha aflição e fica boquiaberto. Eu observo tudo sem reações, mas meu desespero em querer fazer algo se torna maior que a paralisia que me atinge. Então, dou um passo maior avante, forçando meus músculos a reagirem, decidida a interferir.

— Não. — Thierry sussurra me segurando — Calma.

Olho pra ele pasma por tentar me parar, mas logo volto a prestar atenção na cena horrenda.

A alguns metros de nós, um homem está sentado. Isso seria bom... Até normal. Se ele não estivesse sentado sobre o parapeito da ponte, encarando fixamente as águas movimentadas.

— Tem que ter muito cuidado nessas situações. — Thierry sussurra, dessa vez me soltando — A gente pode acabar piorando, é muito delicado.

— Não posso encontrar alguém que está a beira de um precipício e não tentar ao menos estender uma mão a ela.

Ele vira o rosto e observa o homem. Conto os segundos pra que ele me diga alguma coisa. Cada segundo pode ser fatal.

Finalmente, Thierry volta a me encarar e acena concordando.

— Eu vou ligar pro resgate — avisa pesaroso — Tome cuidado.

— Tá.

Me afasto de Thierry e caminho devagar até o homem. Pé por pé, vou me aproximando. A certa altura ele vira o rosto o suficiente pra me ver. Um segundo depois, volta a sua atenção para o rio abaixo. Engulo em seco assustada com a possibilidade de minha presença fazer ele apressar a besteira que quer fazer.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora