{9}Fugindo da polícia parisiense

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Paraliso com o choque de suas palavras.

Alguém puxa meu braço esquerdo pra trás e envolve com um fino e frio metal. O estalo da algema se fechando, chega alto em meus ouvidos e ressoa pelo ambiente, despertando-me calafrios. Meu outro braço é puxado e, só então, saio do estado atônito.

Desvio os olhos que mantinha fixos nas aranhas e os foco no rosto de Fautier. Minha mente girando entorno de dois pensamentos:

A vontade desesperadora de pedir ajuda pra sair dessa situação e o medo avassalador de que ele acredite serem minhas as tais aranhas.

— Esperem! — exclama o dito, se colocando entre mim e o policial que vinha me algemando, assim, interrompendo a conclusão do ato.

Meu alívio torna-se imediato, mas minha tensão ainda o supera.

— Senhor, essa mulher precisa ser detida — repreende o fiscal, pondo-se a me disputar com Fautier como se eu fosse a corda de um cabo de guerra.

— Sob qual acusação? — lhe pergunta a senhorita Kolk, dando um passo avante e entrelaçando meu braço ao dela.

Com isso pendendo a vitória da disputa pra direção de seu patrão.

— Isso... — começa o fiscal, gesticulando pros frascos na mala. — É contrabando! Esses animais não podem ser transportados nessas condições precárias, além disso, pelo que entendi a exportação é ilegal... Provavelmente são exóticos e ela iria vender por uma bela grana.

— Não! — protesto, sacudindo a cabeça em aflição.

Isso é um absurdo! Um tremendo pesadelo.

— Não mesmo — enfatiza Fautier, bloqueando minha visão de quem me acusa. — Essa senhorita não seria capaz de uma atrocidade dessas. Está muito equivocado, meu rapaz.

Ouvindo sua declaração, fico muito lisonjeada pelo voto de confiança. Algo que me inspira a não esmorecer. Até porque, não posso deixar que me condenem por um crime que não cometi.

A justiça tem de ser feita.

Pensando nisso, me apresento diante do fiscal, reunindo toda a coragem possível, e após lançar um olhar assustado rumo aos policiais carrancudos, decido argumentar:

— Moço... Essa mala não é minha...

— Não é sua? — debocha ele, rindo sem humor. — Mas era sua há um minuto. Não adianta vir de conversa fiada. A senhorita foi pega em flagrante e agora irá responder pelos atos criminosos. — Ele olha significativamente pra um dos policiais e aponta com o queixo em minha direção. — Pode prender! Dará quantas explicações quiser, mas lá diante do juiz.

Não demora muito, sinto a aproximação do oficial. Fautier, Enrico e a senhorita Kolk se juntam ao meu redor, protestando com fervor. Algum deles me puxa pelo braço, impedindo mais uma vez que as algemas sejam fechadas totalmente.

E num empurra-empurra sem fim, torno-me como uma boneca de pano, lançada de mão em mão.

O coração pesado por estar causando tanta comoção negativa.

— Isso é um engano — choramingo, amedrontada com o rumo de minha viagem. — Não fiz nada.

De repente, o óbvio me atinge e recordo que só há uma pessoa capaz de me resgatar com sucesso absoluto. Por isso, abaixo a cabeça e começo a orar:

Meu Deus, o Senhor sabe que eu não fiz o que eles pensam... Em nome de Jesus, abra os olhos deles e faça com que vejam a verdade...

O coração dispara quando sou empurrada rumo aos fundos do saguão, ouço várias vozes, mas não assimilo a mensagem de nenhuma. O policial atrás de mim é afastado como que por um sopro. Um fio gelado desce pela minha coluna, provocando-me um mal-estar instantâneo. Sinto ter minha mão tocada com delicadeza, mas dura tão rápido que podia ser só impressão. Ainda assim, esse gesto me acalma.

Um dia em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora