{21 horas em Paris}
"Quando passar pelo fogo, você não se queimará".
O fogo se espalha dentro do elevador por todos os cartazes com avisos. As chamas caem e atingem os tênis de "Galo na cabeça" que continua a rir até sentir o calor.
— Cara tá pegando fogo! — Ele diz meio surpreso meio rindo.
"Dente de ouro" tira a jaqueta onde algumas fagulhas tinham caído e a joga no chão quando percebe que está queimando. As pequenas chamas nela tremeluzem pelo vento que o movimento provoca, mas não se apagam.
Thierry me segura apoiando minhas costas e me põe de pé de olho fixos no fogo que aumenta. Dou um passo, tentando alcançar a jaqueta pra pisar sobre as chamas e abafar, mas "Dente de ouro" me empurra pra trás gargalhando.
"Galo na cabeça" retira os tênis onde algumas gotas alaranjadas caíram vindas de um dos cartazes e os chuta pra perto da jaqueta. Esses objetos amontoados no canto começam a se incendiar completamente.
— Apaga isso cara! — Thierry pede me protegendo atrás de suas costas.
— Tá com medinho é? — "Dente de ouro" zomba.
— Se você quer ser queimado vivo tem pessoas por aqui que não querem!
Os dois homens recomeçam suas gargalhadas sem sentido até que as labaredas alcançam a perna de "Dente de ouro". Assim que a calça jeans se queima e a pele arde, ele começa a se sacudir gritando pela dor que sente.
As mesmas labaredas atingem a roupa de "Galo na cabeça". Ele se afasta se debatendo contra a parede e eu e Thierry nos encolhemos no canto oposto o mais longe possível das chamas.
— Não dá pra ficar aqui! — "Galo na cabeça" grita subitamente aflito e se joga contra as grades da porta do elevador.
O "amigo" começa a rir apontando um dedo pro desespero dele. Thierry me deixa encolhida junto a parede e vai tentar ajudar o outro a abrir a porta. Com alguns solavancos fortes e bem dados, às grades começam a se afastar. A estrutura toda balança rangendo com alguns barulhos sobre nós. Ainda consigo ouvir os gritos das pessoas lá fora e passos pesados, como se estivessem correndo.
Thierry força a porta abrindo uma brecha e o rapaz aflito se força por ela saltando de dentro do elevador. Apoiando o corpo pra tentar manter as grades afastadas Thierry me olha impaciente.
— Vem Danna!
Lanço um ultimo olhar pra "Dente de ouro", que ainda se ocupa de rir e o vejo chutando a jaqueta em chamas como se fosse um brinquedo. Vou rapidinho até a saida. Passo me espremendo pelo espaço afastado, mas paro e me apavoro ao ouvir um estalo não muito reconfortante.
Encaro os olhos verdes de Thierry pouco tempo antes de outro estalo soar alto e ele me empurrar com força me fazendo cair no chão do lado de fora do elevador.
Me ergo o mais rápido que posso e seguro seu braço quando o elevador despenca um pouco abaixo do nível do primeiro andar. Com o baque repentino as portas se abrem completamente. As observo apreensiva, mas graças a Deus não voltam a se fechar.
Se tivessem feito isso teriam esmagado o braço dele e a culpa seria minha.
O apresso com o olhar, então Thierry se iça pra cima saindo do ambiente em chamas. Enquanto isso o líder dos arruaceiros finalmente compreende onde se meteu e grita por causa do fogo que volta a atingir suas pernas. As labaredas ficam altas e lambem o vidro do elevador aquecendo e esfumaçando. Logo o ar vai ficar irrespirável.
Olho pro lado e vejo "Galo na cabeça" sentado no chão respirando rápido e observando a queimadura feia que ganhou na canela. Thierry segura minha mão e observa pasmo o homem que ainda está no elevador. Me desvencilho dele e deito no chão próxima da beirada.
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Um dia em Paris
RomanceJordanna é uma fotógrafa de 24 anos que recebe como premiação de um concurso, uma grande oportunidade de viajar até Amsterdã por seis meses para fazer um curso profissional de fotografia. Com direito a hospedagem, um tour pelos jardins das tulipa...