Inimigos

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— Colin, você não precisa fazer isso.

Penelope se espremeu contra o parapeito da janela enquanto Colin e um pequeno exército de criados reorganizavam o escritório do andar de baixo.

Seu marido, sem casaco e com as mangas da camisa enroladas até os cotovelos, ergueu um canto da escrivaninha.

— Você disse que odiava essa mesa — grunhiu ele. — Esquerda, Henley. Também não posso dizer que amo esta mesa.

— Eu sei, mas… Ai! Cuidado com o vaso!
Pulando, ela pegou o vaso de cristal no ar quando ele caiu da estante.

— Ó timos reflexos. Mas você ainda não falou: quer sua mesa embaixo da janela ou perto da lareira?

Segurando o vaso, Penelope voltou para seu pequeno espaço perto da janela.

— Nossa casa tem muitos cômodos vagos, você não precisa colocar duas escrivaninhas no mesmo escritório.

Por algum milagre, eles conseguiram passar a enorme mesa para o corredor sem derrubar mais nada. Uns segundos depois, Colin apareceu na soleira da porta.

Penelope colocou o vaso de volta na estante. Sem a enorme escrivaninha, o escritório parecia muito maior e menos formal. O tapete bem abaixo de onde o móvel estivera estava mais escuro do que o resto, embora ela não quisesse pensar se o motivo era o sol ou uma mancha de sangue remanescente.

— Bem melhor, não acha? — perguntou Colin enquanto batia na calça para tirar a poeira. Seu olhar também foi para a mancha escura do tapete, e ele cerrou o punho e engoliu em seco.

— Sim, bem melhor — respondeu ela em sua voz mais alegre —, mas ainda desnecessário.

— Já está feito. — Ele a agarrou pela cintura com uma confiança possessiva que a deixou sem fôlego. — Acho que precisamos colocá-la perto da janela. A luz do sol deixa seu cabelo acobreado.

— Eu tenho uma escrivaninha no meu quarto lá em cima, sabia?

Colin embalou o queixo delicado com os dedos e levantou o rosto dela.

— Aquela coisinha minúscula? Só serve para escrever cartas. O escritório é para negócios. Se vou passar metade da minha maldita vida aqui fazendo contas, pelo menos gostaria de poder levantar a cabeça e ver você ao meu lado.

Ele estava falando sobre o depois — depois que cumprisse seu dever com Hovarth. Colin não parecia absurdamente animado com a perspectiva, mas, até poucos dias antes, ele nunca tocara no assunto. Agora, ele estava colocando o futuro e Penelope juntos na mesma frase.

Ela respirou fundo.

— E o que farei na minha mesa do escritório?

— Vai cuidar de negócios.

Penelope o abraçou com força.

— Obrigada.

— Qualquer coisa por você — sussurrou ele, quase tão baixinho que ela mal ouviu, e passou a bochecha pelos fios vermelhos e sedosos.

E eu faço qualquer coisa por você, respondeu ela em sua mente.

Penelope queria aquela vida com uma intensidade que nunca sentira antes, pois sempre achara que seria impossível consegui-la.

Ela afrouxou o abraço e deu um passo para trás.

— Se você não se importa — disse ela devagar, tentando escolher palavras que não o deixassem desconfiado —, vou almoçar com Sophie e Kate enquanto você termina de arrumar o escritório.Não quero ser esmagada pela minha mesa nova.

Just let me adore you (Apenas me deixe te adorar)Onde histórias criam vida. Descubra agora