Capítulo 3 - Por quê?

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Era depois do almoço e o Uzumaki estava cuidando de suas criações. Primeiro, a vaca Milk foi escovada, afagada e recebeu o seu delicioso feno. O seu nome originalmente não era esse e sim "Margarida", mas Sasuke achou que "Milk" fazia mais sentido e o loiro resolveu não questionar.

O Uchiha achava que todas as vacas deveriam se chamar assim, afinal era o que dizia a caixa de leite, e sabia disso porque foi Naruto quem leu para ele. Adorava a bebida até demais, então a pobre vaca não estava conseguindo suprir a demanda, o loiro teve que recorrer a um plano B para não ficar sem leite.

Naruto limpou o galinheiro e coletou os ovos, deu farelo às galinhas, e retornou à casa, com o par de coelhos machos em uma gaiola. Ficariam mais seguros dessa forma e também seria bom apresenta-los ao Uchiha. Estava ansioso pela sua reação.

Só conhecia os animais pela TV, ou pelas figuras que o mostrava, de revistas ou jornais velhos. Mesmo a vaca e as galinhas não pôde ver de perto, pois não podia deixar a casa, mas tentava espiar pela janela.

"Espero que ele goste dos coelhos."

O loiro entrou pela porta dos fundos da cozinha, que dava acesso também a dispensa. Sasuke estava sentado no chão, de pernas cruzadas, encarando minuciosamente um cupom fiscal de supermercado que tinha em mãos.

Encontrou o item diferente perto da lixeira e achou interessante o novo tipo de papel higiênico, mas achou melhor não colocar na boca, poderia se desfazer e odiava coisas que grudavam na língua. Quando viu que o outro voltou, se levantou em um pulo, curioso com o que trazia.

— O que isso? — Abaixou-se e olhou para a gaiola.

— Coelhos. Trouxe para que se conhecessem.

— Coelhos? O que coelhos?

— São essas coisinhas fofas. Animais, como você e eu, mas de outra espécie. — Estendeu para ele.

— Sasuke não animal. Sasuke alienígena, Naruto disse.

O Uzumaki abriu a gaiola, libertando os coelhos, que não saíram imediatamente, então ele pegou um talo de cenoura que estava na pia e os mostrou. Ambos os coelhos saltaram para fora em busca de comer o apetitoso petisco.

— Mexe? — Colocou as mãos sobre a boca e franziu o cenho.

— Sim, estão vivos! Você pode passar a mão no pelo deles, é macio.

Estava um tanto receoso, mas fascinado pelo tamanho e formato diferentes daqueles seres, era a primeira coisa viva que conhecia além deles próprios e as pessoas na TV. Depois de um pouco de hesitação, se abaixou e cedeu em acaricia-los, e adorou a sensação. Quis alisá-los com as suas palmas das mãos e também com os braços, mas quando um deles pulou sobre ele, se assustou. Levantou-se em um pulo e parou atrás de Naruto.

— Não precisa se preocupar, eles não vão fazer nada de mal com você. — Ele ergueu o braço para olhá-lo atrás de sua cintura.

Sasuke não sabia muito sobre o que "mal" significava, mas relacionou à dor que sentiu ao levar uma ferroada de abelha no dedo, ou ao fechar uma porta com a mão ainda presa, ou com quando pisou em um garfo. Naquele dia o Uzumaki percebeu que deveria manter o que era perfurante ou cortante bem fechado no armário.

O Uchiha não conhecia garfos, afinal sempre comeu com colheres, mas adquiriu um rancor pessoal contra todos e quando acidentalmente encontrava algum, os jogava pela janela do banheiro. Outra coisa que associou a "mal" foi ficar sem Naruto por muito tempo, pois o solicitava para tudo que precisava e se sentia seguro e feliz perto dele.

Quando ele saía para cuidar da fazenda ficava o vigiando pelas janelas entre as cortinas. A claridade do dia incomodava sua visão e por isso ele não conseguia enxergar claramente o que havia, apenas algumas formas borradas.

— Coelhos de lá fora. Naruto disse lá fora faz mal. — Ele se arrastou até a porta e tentou olhar por entre as frestas. — Por que lá fora mal, Naruto? Dói? — Franziu o cenho.

Naruto suspirou. Não sabia bem como explicar sobre isso. Deveria ser honesto e dizer que provavelmente o deixariam inconsciente e o levariam para um laboratório? Que seria uma experiência para a vida toda, que provavelmente o abririam para ver o que havia dentro? Que fariam um monte de testes sem o seu consentimento? Que não se veriam mais... ou que ele talvez nunca mais visse nem a luz da lua?

Não podia dizer aquilo. Apesar de Sasuke sempre ter sido inofensivo, o que poderia acontecer caso se sentisse ameaçado?

Mas precisava se preparar, pois ele estava evoluindo cada vez mais e aprendendo em uma velocidade impressionante. Não demoraria para que começasse a questionar mais e que o seu interesse aumentasse, depois de passar vários dias confinado. E nesse caso, se no futuro não soubesse usar as palavras certas, poderia estragar tudo.

— Eu sei que está curioso, mas você não pode ir lá fora, Sasuke.

— Por quê?

— Porque lá fora há humanos que não te entendem, e que podem levar você para longe. Suspirou e se virou para os coelhos. — Venham para a gaiola, vou colocar a comida de vocês.

— Longe?

— Significa que eu não vou estar por perto nunca mais. — O Uzumaki os fechou na gaiola e foi para a cozinha. Pegou alguns vegetais frescos, que havia colhido e preparado mais cedo, e os colocou no comedouro. — Prontinho, sãos, salvos e de barriga cheia. — Colocou os coelhos no chão, os acariciou por entre as grades e sorriu.

— Mal. Não. — Sasuke o seguiu, correndo, e olhou para os animais enjaulados. — Preso melhor...

O coração de Naruto se apertou, não era agradável aprisiona-lo, não queria isso, mas era a única forma de protege-lo.

— Eu... Eu também não quero que nos separemos, então tenha um pouco mais de paciência.

— Por quê? — O moreno subiu em cima do balcão e se sentou ali.

— Porque vou descobrir o que fazer, e poderei proteger você. — O Uzumaki se levantou e foi até ele.

Sasuke ficou pensativo e franziu o cenho.

— Por quê?

— Porque não posso deixar os humanos machucarem você. — Olhou no fundo dos olhos negros e tocou a sua bochecha com suavidade.

— Por quê?

— Tch... — Naruto cerrou os dentes, também não sabia porque se preocupava tanto com ele, e honestamente não queria pensar sobre aquilo naquele momento, pois tinha medo da resposta. — Você chegou à fase dos "por quê's"? Já ouvi falar disso, mas não sabia que seria tão difícil.

Ele esfregou o rosto com uma expressão cansada e se afastou para pegar um copo de água. Sasuke observava, interessado.

— Por quê? — Com a cabeça tombada para o lado, perguntou.

O loiro revirou os olhos e bufou.

— Me dê um tempo! E desça daí, nos sentamos apenas nas cadeiras, camas e sofás. — Deu um gole para se refrescar.

Toc toc toc

Ouviram batidas na porta, e ele deu um pulo. Sasuke se assustou e correu para debaixo da mesa.

— S-sim?

 Naruto? Sou eu, o cabo Sai. Há alguém com você?

Naruto arregalou os olhos e se aproximou do moreno.

— É só a TV, vou abaixar. — Ajoelhou-se e colocou o indicador nos lábios de Sasuke, o dizendo para se calar. — Shhh!

 Precisamos conversar sobre aquilo que saiu do meio daqueles dejetos. Pode abrir a porta?

Cosmic Lover | NaruSasuOnde histórias criam vida. Descubra agora