Capítulo 15

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Eu estava perdida entre a realidade e as lembranças.

Quando cheguei em casa naquele dia, estava tão cansada que foi impossível não deitar e dormir. Havia passado a noite em claro, fugindo de sonhos que naquele momento não vieram e pude descansar até ouvir minha mãe chamando para o jantar.

— Seu pulso parece inchado — comentou minha mãe enquanto eu comia. — Não devia estar com aquela faixa? Você tirou?

— Estava sentido melhor então... — Dei de ombros.

— Não parece bom ainda, até está comendo com a mão esquerda. Se soubesse não tinha chamado pra ajudar hoje. Ainda por cima dirigiu.

Eu havia retirado a atadura na noite anterior, quando minha raiva dizia que minha recuperação levaria menos tempo que o médico afirmou e quem sabe conseguiria escrever sem ajuda de Rafa, no entanto me peguei forçando o punho enquanto passava a marcha da caminhonete dela.

— Amanhã te levo ao hospital para dar uma olhada — disse meu pai, pela primeira vez entrando no assunto.

Depois do jantar subi para o quarto onde peguei o notebook e tentei escrever um pouco. Havia tanta coisa em minha mente.

Ao meu lado, sobre a cama estava o colar com os dois pingentes. Eu queria simplesmente lembrar como o anel foi parar alí, mas não era assim que as coisas aconteciam, infelizmente.

No dia seguinte, após ir ao hospital onde o médico examinou e enfaixou novamente meu pulso, pedi ao meu pai que me deixasse na praça.

Segui até a lanchonete onde assim que entrei avistei Rose do outro lado do balcão, onde me aproximei e pedi um suco.

— Rafa está bem — disse ela deslizando o copo sobre o balcão.

— Eu não... — Eu queria negar, mas estava ali também com o desejo de saber sobre ela.

— Não vai demorar até que eu vá embora, Gizelly. Não tem que se preocupar.

— Não me preocupo. Quero dizer, não estou aqui por preocupação. Quero ouvir seu lado.

— Antes de ir fundo com ela? Rafa está livre, então... — Ela desviou a atenção e foi atender uma mesa.

Era tão óbvio assim meu interesse em Rafa? Se Will tinha razão, Rose não sabia de nada, então ela estava agindo livre de qualquer influência do passado. Não que eu estivesse sob influência. No fundo havia comentado no dia anterior apenas por ainda estar chateada com Rafa, por ela não ter dito antes sobre as lembranças. Eu precisava concordar que não era fácil de explicar, mas se não tivesse descoberto sobre o jornalista, não teria ficado sabendo de nada, enquanto ela permanecia discutindo com o Will sobre meus sonhos.

— O que faz aqui? — Ouvi Rose dizer, logo atrás de mim e quando virei lá estava Rafa.

— Vim trabalhar — respondeu ela, me olhando logo em seguida.

— Não precisa, as meninas novas vem hoje e eu cuido delas — garantiu Rose e outra até tentou protestar, mas ela insistiu.

Nessa altura eu já estava novamente de costas, tomando meu suco até Rafa sentar ao meu lado.

— Eu ia mesmo te procurar... — Ela desviou os olhos para meu pulso e franziu o cenho. — Isso não estava aí ontem. Espera, você tinha tirado? Pensando melhor, como dirigiu?

— Calma! — Sorri levantando o braço. — Eu havia tirado em um momento de raiva, fingindo estar bem, podendo escrever meu livro sem sua ajuda.

— Como pude não perceber?

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