Capítulo 17

274 62 34
                                    

PASSADO


Gizelly sabia que o pai costumava fazer antes de falar qualquer coisa. Ela não conseguia controlar o choro enquanto corria pela estrada de terra. Caiu duas vezes, na terceira permaneceu no chão por alguns minutos.

O diário estava enterrado, mas ela sabia que naquela altura o pior já havia acontecido. O pai não faria tamanho movimento baseado apenas em bilhetes anônimos.

Temia o que ele faria contra Rafaella, bem mais do que pretendia fazer com ela mesma.

Mal entrou na propriedade e os capangas foram escolta-la.

— Não vou fugir! — gritou parando de andar, virando para eles.

— São ordens do seu pai.

Ela bufou seguindo para  a entrada da casa onde respirou fundo antes de abrir e entrar. Encontrou o pai e a madrasta com o olhar amedrontado. Assim que se aproximou, o homem diminuiu a distância e deferiu um tapa forte o suficiente para fazê-la cair sobre o sofá.

— Levem ela para o quarto — ordenou.

— Não! Pai! — gritou sentindo as mãos dos homens segurando seus braços. — Fale comigo! Pergunte a mim!

Ela foi arrastada até o quarto onde os homens praticamente jogaram-na dentro, em seguida trancaram a porta.

Gizelly permaneceu no chão onde foi deixada, chorando por vários minutos antes de sentar, vendo que o cômodo estava todo revirado.

A noite já caia quando encolhida no canto do quarto ouviu a chave na fechadura e logo a madrasta entrou com uma bandeja.

— Me dêem um minuto para tentar faze-la comer — pediu a mulher aos dois homens que vigiavam e logo fecharam a porta.

Ela seguiu até Gizelly, colocando a bandeja no chão, ao lado.

— Veja, é o que consegui pegar no escritório de seu pai — dizia a mulher retirando de dentro do vestido alguns papéis. — Reconhece essa letra? Quem está tentando te fazer mal?

Gizelly pegou os papéis onde insinuavam uma amizade dela com a filha dos Kalimann, mas no último havia uma afirmação. A caligrafia delicada e caprichosa demais para um bilhete anônimo, deixava claro que aquilo não era obra de um homem.

— Como ele pôde acreditar nessas coisas? — A mulher colocou uma mecha de cabelo da jovem atrás da orelha. — Pobre menina.

Algo dizia a Gizelly que a mulher não se referia a ela.

— O quê ele vai ser?

— Não sei de mais nada. — Ela reuniu os papéis e levantou rapidamente, saindo em seguida.

Da varanda do quarto era possível avistar os homens que rondavam a propriedade, mesmo assim Gizelly se desfez das saias e se preparou para tentar escapar. Não tinha tempo a perder, precisava encontrar Rafaella ainda naquela noite.

Aproveitando a troca de guarda, ela conseguiu se pendurar na varanda e mesmo correndo risco de se machucar, pulou do segundo andar sobre os robustos lá embaixo. Por sorte no máximo arranhou o braço.

Ela seguiu pelos cantos escuros da mansão, até os galpões onde assim como na infância, sabia ser possível escalar.

O muro parecia mais alto que lembrava, mesmo assim conseguiu subir e quando tombou para o outro lado sentiu a forte dor no cotovelo devido a queda, mas isso não foi nada diante do par de botas que avistou diante de si.

Tremendo, devagar levantou a cabeça , engolindo em seco avistou Will. Ela suspirou sentando no chão aliviada.

— Eu sabia, por isso pedi para fazer guarda aqui — disse o homem.

ChicagoOnde histórias criam vida. Descubra agora