Capítulo 03

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Cheguei ao restaurante do Will exatamente na mesma hora que no dia anterior. Ele estava na cozinha preparando o prato do dia, que por sinal tinha um cheiro delicioso.

Fredd tinha ido na cidade vizinha comprar algumas coisas que estavam faltando no restaurante e fiquei um tempo conversando com Will sobre a vida em Nova York.

— Droga, ela esqueceu de levar de novo — disse Will pegando uma sacola que estava no chão. — Gizelly se importa de ir fazer uma entrega para mim?

Neguei com a cabeça saltando da mesa onde estava sentada.

— Sem problema.

— Olha, lembra o caminho que você e o Fredd iam para a cachoeira? — Franzi o cenho tentando lembrar e logo me veio em mente então confirmei. — Bem, tinha uma casa abandonada que agora está restaurada e muito bem cuidada. Você pode ir na scooter.

Peguei a sacola da mão dele e saí sem perguntar nada. Seria bom andar para aqueles lados.

Assim que subi na scooter notei um cheiro estranho vindo da sacola e me perguntei se a comida estaria estragada. Imagina a vergonha.

O vento no rosto era tão agradável que por um momento não senti nenhuma falta de Nova York e apreciei estar alí.

O caminho logo tornou-se de terra e tinha mais mato que casas naquela região. No fim da estrada havia a grande casa, antes abandonada, mas de longe deu para ver o quão bonita estava. Pintada de branco e cheia de flores de todas as cores plantadas na frente.

Deixei a scooter para trás e bati na porta, mas ninguém respondeu. Ouvi uma voz chamando lá dos fundos e fiz a volta na casa a procura da dona até de repente me deparar com algo assustador.

— Cuidado! — gritou a mulher vindo em minha direção correndo e na frente dela um porco imenso.

Arregalei os olhos e na hora que pensei em correr tropecei em meus próprios pés. Avistei a sacola indo para o alto enquanto meu corpo ia ao chão. Acabei apoiando a mão antes do corpo se chocar contra o solo e senti uma dor aguda em meu pulso.

Para minha total desgraça a sacola voltou e caiu encima de minha cabeça. A gosma nojenta da comida fedorenta se espalhou por meu cabelo rapidamente e permaneci de olhos fechados desejando morrer ali mesmo ao chegar a conclusão de que aquela era a comida do porco que quase me atropelou antes.

— Você está bem? — Ouvi a voz da mulher próximo a mim.

Apoiei o braço no chão e sentei. Pisquei sentindo a gororoba descendo por meu rosto.

Como se não bastasse toda aquela desgraça, meus olhos encontraram os dela, Rafa me olhando assustada, bem a minha frente.

Pisquei algumas vezes tentando ter certeza de que era ela e confirmei que não era uma visão.

— Tudo bem? — repetiu e o máximo que consegui fazer foi mover a cabeça confirmando, mas quando apoiei a mão no chão para pegar impulso e levantar, a dor em meu pulso me fez gritar. — Cuidado, cuidado — disse ela segurando em meu braço, ignorando o fato de eu estar toda melecada. Mas a julgar por alguém que vinha correndo atrás de um porco, ela não devia se importar muito. — Dói aqui? — Moveu minha mão e comprimi os lábios tentando conter o gemido, sentindo os olhos encherem d'água e confirmei com a cabeça. — Precisa ir ao hospital — falou com a voz mansa e o olhar preocupado. Observei sua roupa, uma camisa grande branca amarrada de lado na ponta, calça jeans rasgada e nos pés botas de borracha, quanto aos cabelos estavam bagunçados. — Antes precisa de um banho.

Voltei a si quando ela levantou e virei observando-a caminhar até próximo a porta dos fundos da casa. Ela pegou uma mangueira e apontou em minha direção. Arqueei as sobrancelhas e um jato forte de água jorrou na minha cara me fazendo cair para trás.

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