ON AIR: Efeito colateral

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interrompendo a programação oficial para um aviso: o capítulo a seguir contém uma cena detalhada de uma crise de ansiedade. leiam com moderação. bem-estar em primeiro lugar, sempre.

Ia fazer uma semana que Taehyun estava evitando Beomgyu.

Após a briga dos dois — e seu colapso mental nos braços de Yeonjun — no sábado, ele descobriu um fato curioso sobre a dor emocional que carregava: além de não ser totalmente silenciosa, ela deixava de importar, uma vez que fosse libertada. Não era como se desaparecesse por completo, claro que não. Aquele tipo de dor, uma dor gerada pelo trauma emocional, não ia embora com tanta facilidade assim.

Contudo, após dar uma voz e lágrimas desavergonhadas àqueles sentimentos angustiantes que cultivou por tantos anos, a sua dor parou de latejar constantemente. Ela deixou de ser uma queimadura grave, que ardia e o consumia a cada segundo da sua existência, e passou a ser uma mera ferida aberta, em carne viva, tão pulsante que se tornou anestesiada e só machucava quando era cutucada.

A lembrança de Beomgyu e das suas palavras cruéis, que tinha usado da sua dor como uma arma, era o que mais mexia com a ferida, por isso, Taehyun procurou evitá-la com todo o restante de forças que guardava em si. Em consequência, precisou evitar a própria presença de Beomgyu também.

Ele não era o único, para falar a verdade.

Soobin também não estava falando com seu melhor amigo, que não parecia disposto a correr atrás do seu erro e pedir desculpas, e tinha se tornado uma ausência tão insistente quanto o próprio Beomgyu, visto que, em algum momento entre sábado e segunda-feira, Yeonjun e ele tinham voltado a discutir um com o outro.

Pior do que antes, aparentemente, porque os dois estavam se evitando e o grupo foi obrigado a se dividir, espalhando as peças quebradas por todo o campus daquela faculdade que se tornava mais fria e melancólica a cada dia que se passava.

Por conta disso, Taehyun tinha visto Soobin somente na quarta, durante o ensaio dos apresentadores do festival, e nenhum dos dois teve coragem o suficiente para abordar os assuntos perigosos que os cercavam atualmente. Agiram roboticamente, como se tivessem esquecido como ser amigos, e acabaram atrapalhando a dinâmica da apresentação de uma forma que apenas os estressou ainda mais.

Beomgyu, por sua vez, tinha sumido completamente de vista. Sua existência só era presente na rádio, pelas manhãs, mas a voz soava como a de um desconhecido. Pelo menos, para Taehyun, era assim.

Kai tentava ser presente. Ele mandava mensagens para Taehyun, agindo como se nada tivesse acontecido, e apareceu algumas vezes para lhe fazer companhia durante as refeições, mas era óbvio que estava se apegando mais a presença de Beomgyu, coisa da qual Taehyun não se ressentiu. Ele nem tinha motivos para se ressentir.

Naquela situação, não havia lados. Havia somente duas pessoas machucadas, que não tinham conseguido lidar com os limites dos próprios sentimentos e razões, e agora precisavam lidar com os efeitos colaterais de uma luta indesejada.

Taehyun não poderia dizer que era uma luta imprevista, porque tinha imaginado aquele cenário um milhão de vezes, usando-o como desculpa para criar barreiras emocionais entre Beomgyu e ele.

Entretanto, em algum momento, acabou caindo na ilusão de que poderia confiar no mais velho, que poderia dar ouvidos aos seus desejos e deixá-lo ultrapassar aquele limite que ele mesmo tinha imposto, apesar do que sentia por Beomgyu.

E, agora, a confiança tinha sido quebrada e a ferida estava aberta. Pulsando. Apenas esperando ser lembrada, para que pudesse voltar a doer.

Naquela última semana, Taehyun estava fazendo um ótimo trabalho em ignorá-la e ignorar absolutamente tudo o que tinha a ver com ela, incluindo o seu arrependimento por ter sido o primeiro a dar um passo em seu relacionamento com Beomgyu, mesmo sabendo que nunca seria privilegiado com um final feliz. Em nada.

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