capítulo 02

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WAHLK

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WAHLK.







    As vezes eu só quero ficar o mais longe possível de qualquer ser vivo desse planeta. É impossível não notar os olhares, mesmo que a maioria tente cuidadosamente esconde-los (o que é um pouco menos ruim do que quando encaram qualquer coisa a não ser meu rosto enquanto falam comigo); alguns olhares são de pena, outro de espanto e até alguns de medo.

     Será que acham que eu não sei como sou? Que não tenho Ciência de todas essas cicatrizes? O chifre faltando?

     Tá, eu posso não ser a pessoa mais calma e gentil do mundo, mas minha aparência não interfere nem um pouco na minha personalidade. Não é como se eu fosse atacar e dilacerar qualquer um que passasse na minha frente! Então porque os pais escondem os filhos quando eu passo? Tampam seus olhos? Sussurram palavras tranquilizadoras??

    Mas alguns são legais. Razke é legal comigo, Yake, Tyew e Akiel também. Will pareceu um pouco surpreso comigo no começo, mas logo parece ter se acostumado comigo.

    Odeio admitir isso, mas sou egoísta o suficiente para manter certa distância de todos eles. Não consigo manter o olhar firme enquanto encaro Yake ou Akiel, com aquele maldito sentimento queimando no fundo da minha alma.

     Inveja. Uma inveja tão grande que me faz ficar com vergonha só de pensar nisso. Inveja te tudo que eu não sou. De tudo que eu não tenho e não vou ter.

     Por um momento eu pensei que... Que poderia mudar isso. Quando vi aquele cara bastante similar a Will, com o cabelo de uma cor tão viva que nem parecia ser real; a pele tão pálida que era possível ver as veias azuladas por debaixo; as pequenas manchinhas levemente mais escuras salpicando as bochechas, ombros e pescoço...

     Mas ele deixou bem claro que não quer nada comigo. E não foi uma, duas ou três vezes. Desde quando Kevin chegou, tenho tentado lhe dizer sobre a nossa conexão, mas ele faz qualquer coisa a não ser me dá ouvidos. E como disse antes, posso não ser a pessoa mais bem-humorada do mundo, mas ele com certeza não chega perto de ser também!

    Talvez eu devesse só... Desistir. Desistir de tentar faze-lo ver algo que sequer existe entre nós a não ser raiva e desconfiança.

     Os machos da minha espécie sempre respeitam a ligação dos outros. E embora já tenha anunciado que senti minha ligação com Kevin, isso não vale de nada quando o próprio não me aceita e me enxerga como seu parceiro.  Então com o tempo provavelmente outros poderão corteja-lo e talvez até conseguir faze-lo aceitar uma união. Isso obviamente seria uma grande vergonha para o primeiro macho, que não foi forte, viril ou interessante o suficiente para atrair o próprio parceiro, mas eu não me importo com isso. Não seria a primeira vez que me olham com pena ou desconfiança.

     E além disso... Há  essas cicatrizes horrorosas por toda parte. Será que ele não consegue nem olhar no meu rosto direito por sentir nojo de mim??
   
    “Isso não vai rolar, cara. Eu nunca. Nunca. Vou ficar com você. Entendido?” foram essas as suas exatas palavras. E se não deu para notar no momento em que ele proferiu a frase, tão afiada quando uma lança, olhando nos meus olhos de forma incrivelmente fria, agora é impossível não entender tudo que ele quis dizer com isso.

     Ele é o macho mais bonito que há nesse lugar; e eu nunca tive chance alguma. Nunca.









(***)







    O meu quarto é quase indetectável em meio aos inúmeros corredores. Na parte mais alta da caverna. Ninguém quis ficar nessa área porque a camada rochosa que separa o interior de toda a neve lá fora é bastante fina, deixando que o frio se infiltre aqui dentro com mais facilidade. Então mesmo que as vezes o frio seja quase insuportável, eu tenho uma grande extensão inabitada só para mim, sem conversas ou sons de passos ecoando pelos corredores.

     O quarto em si não é grande coisa. Há apenas uma cama grande e larga no canto (grande o suficiente para me caber sem problema algum); uma tigela grande cheia de água, que sempre uso para lavar o rosto e as mãos; e dúzias de armas presas nas paredes, Tantas que as vezes eu me deparo com algumas das qual nem lembrava mais.

    Com apenas três passos rápidos chego até a parede e observo atentamente as armas. Algumas estão um pouco desgastadas, então recolho apenas as melhores e mais afiadas.

    Pego quatro lanças longas e com a ponta de osso polido, Duas adagas curtas (também de osso) e uma alvaja cheia de flechas. Coloco tudo da forma mais organizada possível em uma pilha ao lado da cama, antes de ir até lá e deitar sobre ela.

    Solto um suspiro longo e encaro o teto meio desigual do quarto, onde estalactites já começam a se formar. Amanhã irei sair para caçar novamente, e embora tenha passado mais de quatro solstícios da última vez (vendo apenas Razke, que ocasionalmente ia até onde eu estava abrigado), esses são os únicos momentos em que consigo me sentir livre, só eu, meus pensamentos, as armas e os animais que mato.

    Só fiquei aqui durante todo esse tempo por causa dele.  Kevin. O macho que tem o cabelo daquela cor bonita e estranhamente viva, como se tivesse luz própria. (Não que ter ficado todo esse tempo aqui tenha adiantado muita coisa).

    Fico surpreso ao notar que sem  perceber, levei a mão até a enorme cicatriz que atravessa meu peito. A minha pele é de um azul Levemente mais escuro que a de todos os outros, mas a pele cicatrizada é um pouco mais clara e fina que isso. Já estou acostumado com elas, mas entendo muito o que quem não me conhece a muito tempo pensa sobre elas. Primeiro vem o medo, depois aquela onda fria de pena.

     Toco as do rosto enquanto me enrolo nos cobertores. Uma delas quase levou meu olho, mas por pura sorte, cortou desde o couro cabelo até os lábios, passando pela pálpebra e bochecha direita, deixando apenas um corte superficial.

    Retiro as mãos de lá rapidamente, não querendo pensar mais nisso por hoje. Essas marcas já ocuparam minha mente por tempo suficiente, e eu preciso descansar por pelo menos algum tempo antes de ir embora amanhã. De preferência para o mais longe que minhas pernas podem me levar.

   

    

    

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HÉLIX [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora