Amor em Dezembro - Lil Gabi

Thirty - Seventh

Karina/Lil Nina; nesse momento

"Um homem que não estuda sua história está fadado a repeti-la."

Essa frase sempre aparece em trezentos storys no Instagram quando um novo acontecimento histórico surge. Organizei os meus pensamentos e regulei a minha respiração antes de começar a contar direito a minha história com o Cabelinho, e isso era porque: eu não queria repetir a história que já tinha acontecido.

E foi por aí que eu comecei a dizer: - "Gabe, eu vou te contar o que eu vou te contar porque ao contrário do que você parece tá pensando, eu te amo." - Ele piscou os olhos castanhos e depois baixou a visão, olhando pro tênis. - "Eu te amo muito. Amo mais do que eu amava o Little Hair."

Eu já tinha ficado nua na frente dele milhares de vezes. Na verdade, era o que a gente mais fazia até um tempo atrás. Mas essa foi a primeira vez que eu me senti... Exposta. Tava ali pra ele saber: ao contrário do que todo mundo pensa, eu amo Gabriel mais do que já amei o cara que eu mais amei.

Ele não respondeu, mas eu encarei numa boa. Era melhor assim, porque se ele me desse qualquer resposta debochada eu ia retrucar a altura e ele ia retrucar de volta e a gente ia mais brigar que conversar, de novo.

"Primeiro: o Victor não é a causa do meu trauma. Na verdade, ele é uma das pessoas mais legais que eu já conheci na minha vida. A gente é amigo até hoje porque todo mundo merece ter alguém que nem ele, então..." - Comecei. - "Ele não fez nada de ruim comigo. Não me traiu, não era abusivo, não brigava a troco de nada, nada do tipo mesmo."

"Hum?" - Gabriel murmurou. - "Então é o quê?"

"Eu vou te contar a história inteira, com detalhes, se você quiser me ouvir..." - Apertei as minhas mãos uma na outra. Eu estava nervosa e suando frio.

"Eu quero. Quero saber tudo sobre você." - Ele me interrompeu e me olhou. Parei uns quatro segundos olhando pra Gabriel, e sentindo meu coração bater a mais de duzentos por hora. Foi quando deslizei no sofá pra encostar mais perto dele, desse corpo.

Amassei meu nariz contra sua bochecha, sentindo o cheiro da sua pele. O cheiro que eu mais amava. E depois beijei ali e demorei a desencostar meus lábios pra poder falar. - "Obrigada."

Ele assentiu. - "Quando foi que vocês começaram esse namoro? Você disse que tinha 15 anos."

"Foi logo que ele começou a ficar famoso, entrou lá pro pessoal que revelou ele, em 2016. A gente se conheceu porque eu vim pro Rio com o Matheus pra ele comprar uns instrumentos e a gente foi assistir um dia a uma roda de Mc's que o Victor se apresentou. Desde então, ele virou meu porto seguro. Foi logo na época que meus pais se separaram e tava um caos na minha família, porque o Matheus também tava na guerra dos pais dele né? Então o Cabelinho foi pra mim um apoio. Eu ligava pra ele toda madrugada, chorando."

Gabriel me olhou de lado. - "Ele fez a poesia 6 pra você, não foi? Você disse."

Fiz que sim com a cabeça relembrando dos versos que mais eram a nossa cara.

Fé, no outro dia ela me disse assim
Tô com saudade, volta Cabelin
E ela sabe que eu gosto
Por isso que eu volto com ela
É só tu ligar pedindo um colo
Eu vou fazer de tudo pra você ficar
Mas é que eu vivo no meu mundo e tô sempre perdido

"Eu costumava ligar pra ele pedindo colo, esse é o resumo do nosso relacionamento." - Respirei fundo. Gabriel voltou a apoiar o queixo nas mãos. - "Só que eu aos 15 namorando um cara de 20 piorou a guerra dos meus pais né? Foi um caos. E eu era muito novinha, muito imatura, era o início da 30 também... Várias coisas. Foram uns dois anos nessa guerra aí. Em 2018, ele fez a poesia 6 pra mim e também foi o dia que o Tuê lançou Morte do Autotune."