Capítulo 2

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   Ao abrir a porta da minha casa, o breve silêncio que ela se encontra é quebrado com a água da pia que escorre; é a minha avó que está lavando os utensílios de cozinha.

  Eu apenas preciso deitar, preciso da pequena paz do meu cômodo de poucos metros quadrados.

  Ela se vira, me olha brevemente, mas não fala nada, apenas me manda um sorriso e senta na mesa.

  — Oi — eu falo insosso.

  Meu dia não foi tão bom assim, então não consigo mostrar uma alegria em meu olhar e nem ns forma que falo.

  — Oi, Ben — ela me responde, parecendo cansada. Me olha por um instante mas então desvia o olhar.

  A porta do banheiro de cima é aberta deixando escapar o barulho da descarga que ecoa pela casa. Ele vem descendo pelas escadas de maneira despojada, sem muita expressão, até que me nota e esboça um sorriso de maneira leve, receptivo. Ele senta a mesa de frente para ela.

  — Ben, como foi a escola? — meu tio pergunta enquanto cruza os braços.

  Mesmo que eu nunca tenha conhecido meu pai, sei exatamente como ele é porque meu tio e ele são irmão gêmeos idênticos. Parece que tenho muito mais características genéticas de minha mãe já que não tenho o cabelo loiro escuro do meu tio.

  Pena que ambos não estão mais aqui. Eles nunca tocaram com detalhes sobre a morte do meu pai e sobre minha mãe. Se ela está viva ou está morta é basicamente um mistério.

  — Acho que bem.

  É a única coisa que eu tenho a responder já que não quero comentar sobre o que aconteceu.

  Ele dá uma gargalhada e sua atenção parece não se voltar mais para mim, mas para o seu celular que toca com as mensagens chegando. Mas minha avó parece está interessada em saber sobre o meu dia já que para de cortar a batata e me encara com o seu sorriso.

  — Você acha? Bom, eu espero que realmente tenha sido — ela fala graciosa.

   É, eu queria que tivesse sido. Penso brevemente em comentar sobre o ocorrido, mas eu deixo para lá. Não quero extender mais esse assunto e só quero esquecer isso tudo.

    Eu subo para o meu quarto cansado, fadigado. Eu deito o meu corpo em minha cama em um suspiro profundo. Minha cabeça dói. Minha mente se martiriza, mas ao menos sinto que em meu quarto, eu tenho um lugar seguro.

  Eu fico me perguntando por que toda essa tormenta. Tenho raiva do Sebastian, Verônica e todos eles. Só de pensar que ele fez aquilo por pura maldade, egoísmo, tudo por conta de um maldito jogo.

  Meu corpo parece esquentar, a raiva que eu tenho parece querer sair e explodir de mim. Eu fecho os meus olhos, meu coração acelera, meus olhos ficam marejados e eu sinto uma vontade imensa de gritar.

  Eu grito internamente.

  Grito.

  Mais alto.

  Um calor diferente sai de mim. Parece ser alimentada pelo meu ódio, pela minha angústia.

  Minha mente desperta ao ouvir a minha lâmpada quebrar e queimar. Eu fico estático, olho para ela me perguntando o que será que aconteceu.

  Parece até que foi eu quem causou isso.

  De qualquer forma, terei de renovar a lâmpada.

                               (...)

  A cidade nunca esteve tão fria esse mês, minhas mãos congelam tanto que tive que usar as minhas luvas. A escola está calma, os alunos preferem ficar nas partes internas a ficar aqui fora, porém eu me sento em um banco perto do caminho para entrar na pátio.

Vertigem (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora