Capítulo 17

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  Em uma sequência de sessões usando as minhas habilidades, venho notando que elas parecem se tornar algo mais automático. Como se fosse as habilidades de andar e falar, essa minha habilidade se tornou rotineira. Sempre que eu preciso ou estou com preguiça de pegar o meu talher do outro lado da mesa, eu utilizo-a.

  Para ser sincero, pensei que nunca iria me acostumar e achar normal, mas eu já me acostumei mesmo sendo algo totalmente fora da realidade.

  Mas não tem como, até onde eu saiba, tirar essa habilidade de mim, e na verdade eu não quero. Acho que acabei gostando da ideia mesmo que eu não possa usar bastante na frente das pessoas. Também, não é como se eu estivesse sempre na frente das pessoas.

  Noah me olha com seu queixo apoiado em sua mão, seu rosto esboça um sorriso tão largo e bobo que parece que está me admirando além da conta. Eu tento me concentrar na minha tarefa de física mas ele não deixa.

  Maldito seja esse rosto.

  — Será se você pode fazer esse dever antes que a professora enfie ele na nossa guela por não termos feito? — eu falo em um sussurro como se eu fosse um bandido com medo de ser descoberto.

  — Não é o que eu gostaria de ter na minha boca — ele brinca e eu acabo por rir sem graça com isso, entendendo o que ele disse. — Mas é que eu queria contemplar o meu namorado.

  Meu namorado.

  Ele disse meu namorado.

  — Seu namorado não é bom em física então ele precisa se concentrar, mas não consegue porque tem um rosto um tanto que muito lindo olhando para ele — eu falo baixo e mantenho meu olhos na minha tarefa.

  — Ah é? Tem é? — ele fala baixo, imitando uma voz meramente sedutora.

  Eu desvio meu olhar para a minha tarefa, mas sua mão vai até o meu queixo que faz eu olha-lo.

  — Qual é, é intervalo. Será se você poderia me dar atenção? Quem faz dever no intervalo? — ele pergunta, farsando uma indignação.

  — Pessoas que estão quase reprovando em uma matéria e a próxima aula.

  — Não sabia que você era tão dedicado aos estudos assim.

  — E não sou, é o desespero e eu não tenho escolha.

  Eu o faço rir, mas ainda estou tentando decifrar a penúltima pergunta daquele exercício.

  — Quero te falar uma coisa.

  De repente eu paro o exercício porque a sua fala atiçou a minha curiosidade e a minha ansiedade. Ele me olha como quem não quer nada, mexendo em suas unhas, talvez só para fingir que não está a fim de contar.

  — Fale — ordeno.

  — Deixa pra depois — ele dá de ombros, fingindo não se importar mais com o assunto.

  — Fale.

  — Ora, não estava ocupado?

  — Isso pode esperar.

  — Agora pode esperar, né?

  — Noah... Por favor... — eu falo, parecendo implorar com a voz.

  — É que vai ter um show no centro, parece que a cidade está organizando um evento e vai ser muito legal, um festival. Gostaria que você fosse comigo e quem sabe não podemos dormir juntos.

  — Então me deixou curioso por isso? — falo, fingindo uma indignação.

  — Era única maneira de fazer você sair desse exercício — ele fala, cruzando seus braços. — Mas me diga, você iria?

Vertigem (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora