Capítulo 6

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  — Será se você pode abaixar o som?

  Meu tio abre a porta do quarto, meu telefone está ligado ao som de uma playlist que nem se quer estou prestando a atenção já que minha mente está concentrada em algo qualquer no meu celular.

  Ele fala educadamente, mas seus olhos me reprimem de uma certa forma como se fosse uma autoridade.

  — Desculpa — eu digo e desligo minha caixa de som.

  — Vamos jantar?

  — Não quero.

  Ele ainda está me olhando e eu ainda olho para o celular. Ele me olha, esperando uma resposta além disso, ou talvez uma explicação.

  — Tá passando mal ou algo parecido?

  — Não tô com fome — respondo sem tirar os olhos do meu celular.

  — Aconteceu alguma coisa?

  — Não — falo, olhando para ele finalmente, mostrando com o meu olhar que simplesmente estou bem, apenas não quero.

  — Tem certeza? — ele pergunta com o rosto interrogativo.

  — Tenho — sorrio para demonstrar que estou certo da minha escolha.

  É uma das poucas vezes que vejo ele realmente se preocupando comigo, quero dizer, ser bastante insistente.

  — Então por que não quer comer?

  Ele está parado na porta com o ombro apoiado na guarnição azulada e com a pintura descascando.

  — Eu já disse que não tô com fome.

  Ele não fala mais nada, apenas me observa como se tivesse tentando ver uma outra razão para que eu não descesse para jantar.

  — Desculpa, mas eu não quero — eu falo mais sereno.

  — Tá tudo bem, então a hora que você quiser comer, você vai lá e pega para você, sua avó vai guardar — ele sorri, tentando mostrar a sua paternidade.

  — Tudo bem. Obrigado, tio.

  Abandono meu celular em um suspiro pondo minhas duas mãos no peito em um descanso. Por um momento fecho os olhos como se eu pudesse tentar encontrar algo que me trouxesse um pouco mais de paz.

  Eu me ponho de joelhos na cama, observando a janela para o observar a rua. Uma senhora passa, andando pela rua sem pressa como se estivesse aproveitando cada segundo que está viva. Observo alguns rapazes que pareciam amigos. Estavam felizes, riam alto pela rua como se a juventude fosse a dádiva mais bela que qualquer um ali poderia ter.

  Me bate no peito por um instante uma vontade de ser um deles.

                             (...)

  Acho que acabou que me acostumei com a companhia de Noah durante as vezes que ele pode estar comigo. Tá bom, eu estou amando a companhia dele, e sinceramente, consegue se ver muito bem por que ele encanta tudo e todos.

  Não é a toa que ele é líder do grêmio estudantil.

  Ele é incrível.

  Tem uma ótima dicção, ele fala de qualquer assunto como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Ele refulge quando fala e se comporta em qualquer lugar que esteja.

  — A gente podia dar aquela volta depois da aula — ele sugere baixinho para que a professora não ouça a gente.

  Eu o olho, olho para a professora que escreve algo na pauta e vira a página dela ainda mantendo os olhos naquele monte de papel enquanto fazemos nossa atividade de biologia.

Vertigem (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora