1.O baile de inverno acaba mal

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Stella Di Angelo

Era o último dia de aulas e para comemorar a escola organizou um Baile de inverno.

Olhei em volta, todos estavam agindo de formas idiotas. Havia balões pretos e vermelhos espalhados por todo o piso do ginásio, e os garotos chutavam um na cara do outro, ou tentavam estrangular um ao outro com as correntes de papel crepom grudadas nas paredes. As meninas se moviam de lá para cá amontoadas como num jogo de futebol americano, do jeito como sempre fazem, usando montes de maquiagem, blusas de alças finas, calças de cores berrantes e sapatos que pareciam instrumentos de tortura. Volta e meia cercavam algum pobre coitado como um cardume de peixes, aos gritinhos e risadinhas, e quando finalmente se afastavam, o garoto estava com fitas no cabelo e rabiscos de batom na cara inteira. Alguns dos meninos mais velhos pareciam pouco à vontade, junto às paredes do ginásio, tentando se esconder, como se a qualquer minuto fossem ter de lutar pelas suas vidas.

Eu e meus irmãos estávamos sentados nas arquibancadas afastados dos outros alunos do colégio.

—O que é isso? — Bianca questionou olhando o caderno que eu tinha no colo. Observei os rabiscos. Eles formavam uma criatura estranha e assustadora.

—Eu não sei. Devo ter visto no jogo de Nico — Respondi. O meu comentário pareceu não afetar nem um pouco meu irmão que continuou embaralhando suas cartas, ele estava ressentido por eu ter negado jogar com ele.

—Aonde vamos passar as férias? — Ele perguntou sem dar muita importância.

—Não sei. — Bianca admitiu — Mas acredito que o advogado que nos buscou no verão passado venha nos buscar amanhã de novo.

O meu olhar de repente pousou em três adolescentes que entraram no ginásio na companhia de Grover Underwood, um garoto muito esquisito da 8° série. Eu tive a impressão que eles falavam de mim e dos meus irmãos, considerando que discutiam entre si e em seguida olhavam em nossa direção. A ideia de falar sobre eles com meus irmão passou vagamente pela minha cabeça, mas Bianca provavelmente diria que não é nada e Nico...bem provavelmente continuaria concentrado em seu jogo de mitomagia.

—Posso ir pegar ponche? — Perguntei à minha irmã mais velha.

—Claro. — ela respondeu. — Vá com ela, Nico!

—Acho que ela pode ir sozinha. — Ele respondeu ainda ressentido.

Revirei os olhos. Era impressionante como Nico podia ser infantil às vezes. De qualquer forma levantei e fui em direção aos adolescentes, quero dizer em direção a mesa do ponche. Por fim encarei o grupo. A menina que conclui sendo a mais velha usava um casaco militar rasgado, calças de couro preto e joias de correntes, usava um delineador preto que destacava seus olhos de um azul tão eletrizante que pareciam de mentira. Ao seu lado uma menina de longos cabelos loiros cacheados e olhos cinzas, eles pareciam tempestuosos, como se todas as preocupações da menina formassem uma tempestade no olhar. A mesma sussurrou alguma coisa no ouvido do garoto ao lado dela. Ele tinha cabelos negros bagunçados e olhos verde-mar.

—Com licença? — Me aproximei. Todos eles me olharam como se vissem um fantasma em sua frente. — Algum de vocês sabem o que o ponche leva?

Eles se entreolharam. A garota loira se aproximou do pote de ponche e começou a servi-lo em copos enquanto falava inúmeras frutas e outros ingredientes que eu não prestei atenção.

—Obrigada — Eu agradeci quando a menina terminou de falar e me entregou um dos copos.

—Por nada — Ela respondeu entregando ponche para seus amigos.

—Qual seu nome? Nunca te vi na escola.

Ela se alarmou por um momento com minha pergunta e olhou os outros.

—Annabeth — A menina dos olhos azuis respondeu — E eu sou Thalia.Esses dois são Grover e Percy.

Olhei para trás por um instante. Bianca parecia estar repreendendo Nico e por isso não estava olhando na minha direção.

—Stella, Stella di Angelo. É um prazer! — Eu respondo virando-me novamente para eles.

Por fim peguei o poncho e andei em direção aos meus irmãos. Ficamos sentados conversando até sermos interrompidos pelo vice-diretor, Dr. Streppe. Ele me dava medo e vivia seguindo a mim, Nico e Bianca. Ele apenas entrou por uma porta perto das arquibancadas e ficou ali parado olhando Annabeth, Thalia, Percy e Grover.

De repente eles se dividiram e começaram a dançar: Annabeth e Percy foram pela direita e Grover e Thalia pela esquerda. Grover parecia extremamente desconfortável. Se os rumores que escutei forem verdadeiros Grover tinha um problema motor, por isso mancava enquanto andava. O que me fez duvidar que ele realmente conseguiria dançar. Thalia parecia não se incomodar nem um pouco enquanto seu parceiro de dança pisava em seu pé. Do outro lado do salão Percy não se sai muito melhor.

—Vocês os três! — O vice-diretor nos chamou — Venham comigo. Tem um senhor lá fora esperando por vocês.

—Vamos pode ser o advogado — Bianca sussurrou para mim e Nico.

Rapidamente meu irmão guardou suas cartas em sua mochila e eu meu caderno e caneta dentro de uma bolsa mensageira. E logo em seguida seguimos. Dr. Streppe nos guiou por um corredor escuro até uma porta que nos levou ao corredor da entrada principal. E então de repente, sem nenhum motivo aparente, eles nos jogou contra a parede. Quando olhei para ele novamente vi apenas uma silhueta escura que agora se movia em nossa direção. Dr. Streppe deu um passo para a luz fraca. Ele ainda parecia humano, mas sua face era macabra. Ele tinha dentes perfeitamente brancos e seus olhos castanho/azul pareciam mais assustadores do que normalmente eram.

Sem aviso prévio ele desapareceu nas sombras. Nico procurou minha mão e segurou-a com força. Ouvi de longe passos que se aproximavam. A porta se abriu revelando uma figura de um garoto, ele segurava uma arma, como uma espada de um dos livros de história, mas eu sabia de alguma maneira que aquela lâmina não era qualquer lâmina. A luz gerada por ela iluminou o rosto do garoto: Percy.

Ele avançou lentamente, baixando a ponta de sua espada.

—Está tudo bem. Eu não vou machucar vocês.

Nós não respondemos.

—Meu nome é Percy — Ele disse, parecia tentar manter um tom tranquilizador em sua voz. — Eu vou tirar vocês daqui, levá-los para um lugar seguro.

Os olhos de Bianca se arregalaram. Ela cerrou os punhos. Mas era tarde demais

Ele rodopiou em volta e algo fez WHIlISH! Percy foi lançado contra a parede, tentando golpear a coisa com sua espada, mas não havia nada para ser atingido. Uma risada fria ecoou pelo corredor.

—Sim, Perseus Jackson —Dr. Streppe disse. — Eu sei quem você é.

Ele tentou libertar-se, mas seu casaco e camiseta estavam pregados na parede por algum tipo de projétil como uma adaga com trinta centímetros de comprimento.

—Obrigado por sair do ginásio — ele disse. — Eu odeio bailes colegiais.

WHIISH! Um segundo projétil foi atirado de algum lugar atrás do Dr. Streppe. Ele não pareceu se mover. Era como se alguém invisível estivesse atrás dele, atirando facas. Ao meu lado, Bianca ganiu. O segundo espinho cravou na parede de pedra, a milímetros do seu rosto.

—Vocês quatro virão comigo — Dr. Streppe disse. —Silenciosamente. Obedientemente. Se vocês fizerem um som que seja, se gritarem por ajuda ou tentarem fugir, eu vou mostrar a vocês quão precisamente eu posso atirar.

Di Angelo | A maldição de AtlasOnde histórias criam vida. Descubra agora