O silêncio que pairava na saleta entre as famílias das prováveis vítimas do acidente era sufocante. Tuninha rezava baixinho, com Ingrid a seu lado fazendo promessas a todos os santos que conhecia de ser uma filha mais carinhosa e menos impaciente e crítica com Paula. Nedda, ao lado de Tuninha, acompanhava esta na oração do terço, diante dos olhares de desprezo de Celina, enquanto Tina olhava com interesse para Tigrão, este chorando nos braços de Rose.
A ex-modelo sentia como se nem mesmo conseguisse respirar por estar diante da família de seu grande amor perdido. Suas mãos tremiam ligeiramente, e ela tentava disfarçar o abalo acariciando os cabelos do filho, embora seus olhos volta e meia se fixassem na família pálida e transtornada de Luca. Seu coração batia descompassado, agitado pela vontade de abordar dona Nedda e apresentar-se.
Mas o que diria? "Olá, sou a Rose e tive um romance há quase dezoito anos com seu filho na Itália"? Aquele não era o momento para isso, se é que havia um momento ideal para isso.
As horas se esvaíram lentamente, Celina volta e meia ameaçando dar piti porque não recebiam notícia nenhuma, mas Nedda e Tuninha reiterando que não ter notícia era uma boa notícia. Ingrid, Bianca e Martina choravam e rezavam, e Antônio só chorava. Rose continuava admirada pelo filho estar tão abalado com a hipótese da partida do pai, pois, até onde sabia, Guilherme era um pai muito rígido e severo com Antônio, que, por consequência, era revoltado e questionador, embora também fosse um rebelde sem causa.
Quando nasceu o dia, Celina não aguentou mais.
– Chega! Passamos a noite aqui, ninguém dá um posicionamento, uma notícia, nada! Se vocês querem ficar aqui sendo feitos de trouxas, a escolha é de vocês, mas eu vou atrás de informações sobre o meu filho!
A psicanalista levantou-se e rumou para uma porta que ligava a sala a um escritório, decidida a arrancar informações sobre em que pé estavam as buscas ao jatinho de seu filho. Pelo canto do olho, viu a ex-nora abraçada ao neto e teve vontade de expulsá-la dali. O que aquela golpista interesseira estava fazendo ali? Nem mesmo era mais da família! Porém... seus olhos estreitaram-se ao notar que Rose olhava insistentemente para a numerosa família de Luca Marino, ficando mais pálida a cada vez.
A intuição materna de Celina avisou que havia algo ali. Mas o quê? Desviou seu caminho e se aproximou da outra matriarca, com um sorriso simpático.
– A senhora não quer ir comigo? Como mãe certamente entende a minha angústia... não sou acostumada a ficar tanto tempo sem notícias do meu filho – Os olhos de Celina arderam de lágrimas, as quais ela não tinha se permitido ainda derramar – Guilherme é um filho muito dedicado e preocupado conosco, está sempre avisando onde está, se vai demorar... Quando a profissão dele permite, é claro.
Nedda enxugou os olhos e sorriu fracamente.
– O meu Luca também é muito preocupado, ele é arrimo da nossa família – Levantou-se e estendeu a mão para Celina – Nedda Marino – apresentou-se.
Celina disfarçou a leve ojeriza e apertou delicadamente a mão da outra mulher.
– Celina Monteiro Bragança – respondeu.
As duas senhoras viraram-se para se dirigir ao quiosque da empresa quando a porta de vidro de correr foi aberta e um funcionário entrou. Todos os familiares se levantaram, com expressões que iam da ansiedade ao medo. O funcionário olhou para todos, um a um, e abriu um largo sorriso.
– As buscas foram encerradas. Encontramos todos com vida. De acordo com... – Ele parou e olhou informações anotadas num bloco de papel em sua mão – ... o doutor Guilherme Monteiro Bragança, a única fatalidade foi o piloto, Jairo da Silva; porém, foi antes do acidente em si, e foi exatamente o falecimento do piloto que ocasionou a queda.
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everything has changed
RomanceUm acidente de avião e um inesperado acontecimento mudam a vida de um médico, uma dançarina de pole dance, uma empresária e um jogador de futebol. Ou: Como seria a novela se Guilherme já estivesse divorciado no começo da história?