Capítulo 9

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A notícia de que Paula, Neném, Guilherme e Flávia haviam sobrevivido ao acidente trouxe leveza e renovação ao ambiente antes tão pesado. Os familiares começaram a conversar entre si: Ingrid puxou conversa com Tina, elogiando a roupa da garota, e Bianca entrou no assunto; Tuninha, aliviada, começou a tagarelar com Daniel e Osvaldo sobre como Paula era 'como uma filha' para ela; Antônio se retirou discretamente para lavar o rosto e avisar a Deusa e Odailson que Guilherme havia sido encontrado com vida.


Só Rose ficou calada, torcendo as mãos de nervosismo, gesto que Celina percebeu com o canto dos olhos e registrou. A ex-modelo volta e meia olhava para a enorme e tagarela família de Neném, especificamente para Jandira e Beta, que conversavam discretamente entre si, e mordia o lábio inferior, num gesto evidente de angústia profunda. Uma ponta de suspeita brotou no coração superprotetor da psicanalista, e ela se virou para a matriarca da família Marino com um sorriso falso no rosto.

– Mesmo sabendo que nossos filhos estão vivos e bem, que angústia ter de esperar, não é mesmo?

Nedda assentiu, com um sorriso leve e uma mão segurando a medalhinha de São Judas Tadeu que ela usava pendurada no pescoço.

– Mas pelo menos sabemos que eles estão bem e já estão a caminho. Isso é melhor do que a angústia que estávamos antes – disse a mãe de Neném, sensata. Celina assentiu, porque, de fato, a outra senhora tinha razão, e seus olhos pararam sobre as três jovens que conversavam alegremente entre si.

– Aquelas duas são suas netas? – Perguntou, educada.

O sorriso de Nedda ampliou-se de orgulho.

– Sim. Martina é a morena, é minha neta mais velha. Bianca, a loira, é a caçula.

– E a senhora só tem as duas? – Questionou a psicanalista., fingindo interesse.

– Sim, só elas duas – Os olhos escuros de Nedda brilharam – Adoraria ter mais, mas meu Neném não encontrou a mulher certa para sossegar o facho e me dar mais netos – Ela fez um gesto negativo com a cabeça e suspirou, antes de fixar-se em Celina.

A psicanalista, porém, não estava prestando mais atenção nela. Seus olhos escuros e astutos estavam fixos em Rose, que tinha ficado muito pálida ao entreouvir a declaração da outra matriarca, uma expressão atordoada no rosto bonito. Contudo, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, o funcionário que havia trazido a notícia retornou ao espaço, com um amplo sorriso.

Lágrimas e sorrisos brotaram quando quatro pessoas entraram atrás do funcionário. Paula veio na frente, com os cabelos presos num inesperado coque. Ingrid e Tuninha se atiraram sobre a empresária, abraçando-a e enchendo de beijos; a adolescente foi ferozmente abraçada pela mãe, que a apertou contra o peito e a beijou na cabeça.

Atrás de Paula, veio Neném, parecendo cansado, mas sorridente, e foi prontamente atacado pelas duas filhas, as duas ex-mulheres, a mãe e o pai de coração. Com uma filha debaixo de cada braço, dona Nedda grudada ao peito do filho e Osvaldo apoiando uma mão no ombro do atleta, o ex-jogador sorriu para sua numerosa família, aliviado por revê-los.

Nessa hora, fez-se um estrondoso barulho. Todos os presentes olharam na direção do estrepitoso ruído, e houve choque e gritaria quando se viu Rose, desacordada, no chão.

Guilherme, como médico, tomou a frente e adiantou-se. A ex-mulher estava muito pálida, e ele olhou ao redor, falando com voz firme:

– Abram espaço, por favor. Ela precisa respirar!

Daniel começou a empurrar todos os aglomerados para longe da desmaiada, delicadamente. Guilherme apoiou dois dedos no pulso fino da ex-esposa, concentrando-se e contando os batimentos cardíacos.

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