everything has changed

Capítulo 12

Caso alguém lhes perguntasse como haviam resistido à vontade de continuarem se beijando naquele bar, depois de terem se beijado pela primeira vez e sentido um impacto tão forte, nem Flávia nem Guilherme saberiam explicar.

O fato é que tiveram uma noite extremamente divertida e agradável. Um cantor apresentando-se com seu violão cantava MPB, e Flávia cantarolava junto em algumas músicas, recebendo muitos elogios e olhares de admiração de Guilherme. Mesmo de olhos fechados, sentia os olhos do médico sobre ela como uma carícia, explorando cada parte de seu rosto e deixando-a levemente corada.

Guilherme não conseguia deixar de olhar para Flávia. Ela era a mulher mais linda que ele já tinha visto. Seus olhos negros e brilhantes, emoldurados por uma franjinha adorável; a boca carnuda e bem-feita (que ele sabia por experiência própria ser macia e saborosa; respirou fundo para tentar se controlar); o inusitado, mas lindo delineado colorido em suas pálpebras...

Sempre havia se considerado um homem controlado, contido, equilibrado. Não era dado a grandes explosões de emoção e, mesmo durante o período do divórcio com Rose, tendo de equilibrar as reclamações constantes da mãe, o mau humor do filho e a futilidade da agora ex-mulher, havia conseguido se manter firme, calmo e tranquilo.

Flávia, porém, havia praticamente saído de seus sonhos (quase literalmente) e estava virando sua vida de ponta cabeça.

Sentia uma necessidade indescritível de estar perto dela, ouvi-la falar, sentir o aroma de sua pele e a maciez de seus cabelos. Era como um adolescente apaixonado pela primeira vez, completamente hipnotizado pela primeira namorada. Flávia era linda, talentosa, cheia de luz e de vida, e ele se sentia renovado simplesmente por estar próximo dela.

Num gesto impulsivo, levou a mão até o rosto da garota, contornando suavemente seus traços delicados com a ponta dos dedos. Flávia, que tagarelava alegremente sobre como gostaria de poder cantar em algum lugar, engasgou-se com aquele toque e calou-se abruptamente, mordendo delicadamente o lábio inferior. Guilherme podia quase sentir o gemido que a garota sufocava para conter, e deu um leve sorriso de malícia. Aproximou a boca da orelha de Flávia e murmurou com a voz rouca:

– Quer sair daqui?

Flávia quis. Não precisou pensar duas vezes. Qualquer coisa que ele lhe pedisse com aquela voz maravilhosa, sensual, rouca e aveludada, ela faria por e com ele. Sentia o calor acumulado na parte mais íntima de seu corpo, e ele não tinha teoricamente feito nada... exceto ser lindo e encará-la com aqueles olhos de quem estava prestes a devorá-la.

E ela queria desesperadamente ser devorada. Chegava a ser injusto o quanto ficava abalada do lado daquele homem. Bastava ele tocá-la, olhar para ela ou falar com ela, que ela perdia a linha dos pensamentos e se tornava apenas instinto, sensações e desejos... e, se não fosse pelo brilho faminto nos olhos do doutor, seria capaz de jurar que ele não estava nem um pouco abalado.

Sem desviar os olhos dos de Flávia, o médico levantou o braço e fez um aceno ao garçom pedindo a conta. Havia um brilho maroto em seus olhos que a deixava agitada, num misto de ansiedade e excitação. Aquele brilho fazia-lhe promessas infinitas, deixava-a com vontade de ignorar o desejo dele de dar um primeiro beijo mais romântico a eles, sentar no colo dele e beijá-lo até deixar ambos sem ar.

Depois de acertar a conta do barzinho, Guilherme levantou-se e estendeu a mão para Flávia, que colocou prontamente a mão sobre a dele. Num gesto totalmente involuntário, o médico enlaçou os dedos da garota com os dele e a conduziu pela mão até onde o carro dele estava estacionado. Flávia deixou-se ir, hipnotizada pelo meio-sorriso nos lábios do médico e pelo brilho maroto e sedutor nos olhos escuros.

Quando entraram no carro (Guilherme abriu a porta para Flávia, e ela adorou a delicadeza), ele tirou o celular e ativou o bluetooth da central de mídia, abrindo o Spotify e pesquisando uma música em específico. Deu o play enquanto ligava a ignição do carro, e começou a dirigir com uma mão, enquanto a outra segurava a da moça com delicadeza.