everything has changed

Capítulo 11

Quando Flávia acordou, precisou de alguns minutos para perceber que não, não era um sonho. Em vez de ter de se humilhar pedindo abrigo ao pai e à madrasta, ou se expor a riscos dormindo na rua, tinha passado a noite numa mansão linda, propriedade do homem dos seus sonhos, sendo tratada com todo o carinho e atenção por ele, pela família e pelos funcionários dele.

Sentiu um calor gostoso no coração. Na noite da véspera, Guilherme tinha praticamente se desdobrado em agrados para ela, instalando-a num quarto de hóspedes ao lado do dele (e deixando claro a ela que podia procurá-lo no próprio quarto, caso algo acontecesse durante a madrugada) e determinando a Deusa, a funcionária, que atendesse a todo e qualquer pedido de Flávia. Alegando estarem muito cansados da comoção do último dia, Celina e Daniel haviam desaparecido, não sem antes darem um abraço apertado no filho, os dois dizendo que estavam muito felizes por nada ter acontecido com ele no acidente.

Antônio, que não estava com tanto sono assim, havia pedido ao pai para verem alguma coisa na Netflix juntos. Guilherme havia aceitado, e com muita relutância havia se despedido de Flávia dizendo que ela podia ficar à vontade, pois a casa era dela, quando Antônio, com um sorriso malandro, perguntou se Flávia não queria assistir algo com eles.

Guilherme tinha ficado muito vermelho com o convite do filho, mas Flávia havia se iluminado, e isso o fez dar um sorrisinho de canto de boca. A garota pediu apenas algum tempo para tomar um banho e trocar de roupa (Antônio tinha cedido algumas peças que caberiam nela), e o garoto disse que estava com fome, então Flávia podia encontrá-los na cozinha depois de seu banho.

E assim aconteceu. Ficaram até quase de madrugada assistindo Stranger Things, e só pararam porque Antônio tinha pegado no sono. Flávia tinha ficado comovida ao ver o carinho de Guilherme com o filho ao acordá-lo para que ele fosse para a própria cama, e, quando o médico a deixou na porta do próprio quarto, despediu-se dele com um beijo no rosto (que acabou pegando no pescoço, já que ele era muito mais alto do que ela e ela estava sem os saltos de sempre).

Com um sorriso radiante e preguiçoso, jogou longe os lençóis e sacudiu a cabeça para acordar de vez. Levantou-se e foi até o banheiro da suíte, tomando um longo banho. Olhando-se no espelho após sair do box, tocou numa mecha loira e fez uma careta. Se tinha apenas um ano para viver, ia começar uma nova fase. Vestiu-se apressadamente, colocando a mesma roupa da véspera, e foi até a cozinha, onde Deusa estava lavando a louça da café.

– Bom dia! – Disse alegremente.

– Bom dia, dona Flávia! – respondeu a funcionária, sorrindo – A senhora quer alguma coisa? Acabei de passar um café fresquinho, tem pão que o Odailson trouxe de manhã, queijo, presunto. Posso fritar uns ovos também.

A cantora sorriu.

– Primeiro: nada de dona nem de senhora. O meu nome é Flávia. Pode ser? Segundo, eu sempre tô com fome, então vou querer sim.

– Então pode sentar que eu sirvo rapidinho – Deusa deu um sorriso de satisfação. Dona Rose era uma boa patroa, mas gostava de ser tratada com toda a deferência e criticava o doutor quando ele tentava manter uma relação de amizade com Deusa e Odailson. Dona- Flávia, corrigiu-se a empregada mentalmente enquanto colocava prato, pires e xícara diante da garota, acomodada na mesa da copa, era o oposto dela e exatamente o que o doutor precisava.

– Onde tá o resto do pessoal da casa, Deusa? – Perguntou Flávia enquanto se servia de café e pegava um pãozinho.

– Seu Daniel foi para o clube jogar tênis. Dona Celina foi levar o Tigrão à escola e depois ia fazer umas compras com umas amigas. E o doutor foi para a clínica logo cedo, parece que teve uma emergência. Mas ele disse que, se a – Flávia ergueu uma sobrancelha para Deusa, que disfarçou o deslize – se você precisasse, era para procurá-lo lá.