Um reencontro difícil

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Madara estava potencialmente chocado.

Quer dizer, isso era uma ofensa literária rasa e vazia perto da imensidão de sentimentos que tomaram seu peito quando ele e Tobirama confirmaram quem o outro era e deixaram a conversa fiada de lado para falar sobre Izuna, que era e sempre foi o ponto mais importante e central de toda a situação, para ambos os homens.

O Senju teve a sutileza de dizer as coisas para que não ficasse tão escancarada a desgraça que acometeu Izuna, mas narrar tamanha violência sobre um ente querido jamais passaria suavemente para um parente que realmente se importasse. E Madara demonstrou que se importava muito com poucas palavras, beirando ao desespero que controlou ao custo de muita força.

Os olhos negros se encheram d'água, mas as lágrimas não verteram, o choque era tão grande que ele perdeu o ar, sentiu a garganta tomada por um aperto imenso que não expressava a dor que preencheu seu cerne enquanto encarava o vidro da frente do carro do detetive, incapaz de reagir enquanto ia ouvindo tudo que seu pequeno irmão tinha passado.

A voz falhou na hora em que se virou para Tobirama.

- Cego? – Ele engoliu seco. O Senju anuiu.

- O médico disse que ele pode tentar um transplante daqui um tempo, mas infelizmente os machucados foram muito severos.

A situação não era agradável ou boa de nenhum ângulo que fosse vista, mas Tobirama não pode deixar de se sentir pouco mais aliviado por saber que Izuna não parecia tão sozinho no mundo quanto vinha dando a entender desde que suas vidas se cruzaram. Enquanto Madara meneava a cabeça de um lado para o outro, incapaz de acreditar no que era dito, o detetive sentia que depois de dias turbulentos, finalmente Izuna teria um pouco de conforto e cuidados provindos do irmão.

- Eu vou te levar até ele. Está de carro?

- Não. – Madara fechou os olhos com força, enxugando seus resquícios de lágrimas nas mangas do suéter que usava. Sua lucidez retornou quando ouviu o carro ser ligado. – Eu voltei para a cidade ontem à noite. Já fazia um tempo que não conseguia falar com o Izuna ou o velho, mas não consegui ir até em casa por causa da neve. E agora aconteceu essa merda toda.

- Nós fomos até lá hoje cedo, a casa está toda bagunçada. A porta da frente estava só encostada, e os cômodos foram revirados, mas não tem nenhum sinal do seu pai.

- É... – Madara parecia incrédulo, mas polido demais para demonstrar mais do que de fato estava sentindo. – Ele destruiu a vida do meu irmão.

Tobirama não pode ver o rosto alheio quando o Uchiha virou para o lado oposto, mas percebeu os punhos cerrados sobre as pernas, como evidência da quantidade de sentimentos que tomaram Madara e pareciam digladiar-se dentro de si buscando espaço para sobrepujar o outro e surgir em seu semblante. Um misto de ódio e tristeza que permeou seu olhar firme durante o trajeto de volta para onde Izuna estava.

- Seu pai sempre te manteve mais afastado quando saiu de casa para estudar?

Madara anuiu. – Ele já apostava muito quando fui para Boston. Falei para o Izuna se esconder e me ligar sempre que fosse preciso, mas o contato foi ficando mais distante. Ele me ligava da loja, e na última vez que entrou em contato, eu ouvi meu pai gritando de longe que não era para me perturbar com nada. Agora sei o motivo.

As impressões, e a própria verdade de Madara eram necessárias para complementar a investigação, e talvez dar algum indício de onde o pai poderia estar, caso estivesse vivo ainda, ou ao menos um norte sobre quem tinha de fato atacado Izuna. Tobirama não parecia acreditar muito naquilo – apesar de não ter dito nada -, mas ainda queria saber o que o filho mais velho poderia falar, porque entender a rotina era um grande passo.

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