Houve um dia que a ansiedade decidiu tomar conta de mim, e eu deixei.
Deixei-a entrar por uma frestinha de uma janela que nem sabia existir.
Deixei-a entrar sorrateiramente, sem sequer dar por Ela, deixei que Ela me absorve-se dia após dia cada vez mais, e Ela ia ganhando cada vez mais força, mais poder.
Até que um dia, deixou de ser silenciosa, deixou de aparecer só de vez em quando, disfarçadamente, e em compensação, aparecia todos os dias, espalhafatosamente, controlando assim a minha vida.
Deixei que me impedi-se de ir à escola, deixei que me impedi-se sequer de sair do quarto, deixei que me impedi-se, até por vezes, de acender uma luz, e pelo contrário muitas vezes também de a desligar.
Deixei que Ela não me deixasse ter amigos, permiti-lhe que me deixa-se só.
E quantas não foram as vezes em que achei que Ela se tinha ido embora de vez, e de repente no meio da rua, no meio de uma tarefa, no meio de uma aula, ou onde quer que estivesse, e o que quer que estivesse a fazer, cá vinha Ela lembrar-me ou fazer-me pensar que me contralava, que era mais forte que eu. E a verdade é que muitas vezes foi mais forte que eu, muitas vezes controlou a minha vida.
Até que um dia, fui eu quem tomou as rédeas e lhe disse CHEGA, lhe mostrei que era mais forte que ela, que podia sair, rir, conversar, ser feliz, ser livre.
Um dia deixei de lhe dar o gosto de me ver sofrer, de me ver deitada na cama, sozinha, a chorar.
Desta vez, fui eu, que me permiti viver para além dela. Com ajuda, claro. Mas consegui, vou conseguindo um pouco mais dia após dia.
Às vezes Ela ainda tenta aparecer, raramente consegue passar, porque a fresta está quase fechada, e mesmo quando consegue, eu mando-a embora.
Provavelmente irei viver com ela, para sempre, perto de mim, só não lhe posso permitir, nunca mais, querer ser mais forte que eu, querer comandar uma vida que não é dela, mas sim minha. E que linda que é a vida para além Dela.
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Um espécie de diário!
JugendliteraturTentando viver, tentando sonhar, tentando ser feliz, tentando amar!