Capítulo 04: Inscrições.

26 6 4
                                    

Eu tenho sorte em algumas circunstâncias da vida, como a dedicação dos meus amigos que praticamente largaram parte de seus afazeres de adultos para organizar o que chamaram de "Uma Gema para Clara". Bom, por enquanto eu espero que seja sorte.

Um vaso se parte em mil pedaços no chão e me traz para a realidade.

─── Oitenta reais, Dash! ─── aponto para os cacos.
Analu parece uma delicada borboleta no meio de corvos selvagens, que no caso se trata dos meus outros amigos tentando executar suas devidas funções.

─── Você não pode me cobrar. Eu estou organizando o cenário! ─── Daeshim protesta.

─── Eu posso sim! ─── franzo o cenho para confrontar, mas não é tão fácil com Dash. ─── A floricultura é da minha mãe, não minha.

─── Aposto que ela nem vai sentir falta desse vaso. ─── ele rebate.

Agora, presa nessa cadeira enquanto Betsy pinta meu rosto como se eu fosse sua Monalisa, me questiono sobre o quanto essa ideia pode acabar em um desastre, em uma vergonha desproporcional para a minha vasta coleção.

Eu não deveria pensar nisso, definitivamente não. Não posso ser tão pessimista ao ponto de acabar dando para trás, não depois que aceitei a ajuda de modo tão genuíno e passamos duas semanas tentando organizar o roteiro de uma forma decente.

Preciso ser esperançosa. Nem todo amor bate à porta, às vezes ele precisa de uma entrevista elaborada para dar as caras. Eu espero que seja assim.

─── Acha que isso vai dar certo? ─── murmuro para Betsy que resmunga. ─── Quais as chances de termos virado uma piada?

─── Nós? Você foi anunciada na Internet, minha filha. Não tem nós.

─── Betsy!?

─── Okay, minhas mais sinceras desculpas. ─── ela ri e aperta minhas bochechas, em seguida volta a trabalhar com o pincel macio em meu rosto. ─── Não somos uma piada.

─── Só recebemos a inscrição de um.

─── Dois.

─── Ele tem o dobro da minha idade, Betsy.

─── Eu disse que deveríamos ter colocado um limite de idade. ─── Analu diz de algum lugar.

─── Eu já dei um jeito nele. ─── a voz da vez é de Dash. ─── Opa, recebemos inscrições de outros. Vinte e quatro, dezoito e quarenta e dois anos. Não precisa falar, eu já sei de qual devo me livrar. Mas esse Julio aqui de dezoito, tudo certo?

─── O que você acha, Analu? ─── digo. Além de melhor amiga, ela também virou a conselheira de senso no projeto.

─── Ele é maior de idade.

─── O de quarenta e dois anos também é. ─── Dash fala e sei que é para provocar.

─── Por que você é tão problemático, meu filho? ─── Betsy resmunga.

─── Ué, eu não entendi. ─── ele fala em confusão. ─── Eu sou o seu namorado, preciso de mais motivos?

A maciez do pincel me faz falta, mas o que me desperta mesmo é o estalo que ouço e o berro que vem em seguida. Me deparo com Dash choramingando, esfregando o braço, e o pincel na frente de seus pés. Como um garoto obediente, ele agarra o objeto e o traz para que Betsy termine de usá-lo em mim.

─── Lindíssima. ─── a garota profere enquanto aperta o meu nariz. ─── Pronta para encontrar o seu homem.

─── Ou mulher! ─── Gemma exclama de algum lugar da floricultura.

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora