Eu tenho sorte em algumas circunstâncias da vida, como a dedicação dos meus amigos que praticamente largaram parte de seus afazeres de adultos para organizar o que chamaram de "Uma Gema para Clara". Bom, por enquanto eu espero que seja sorte.
Um vaso se parte em mil pedaços no chão e me traz para a realidade.
─── Oitenta reais, Dash! ─── aponto para os cacos.
Analu parece uma delicada borboleta no meio de corvos selvagens, que no caso se trata dos meus outros amigos tentando executar suas devidas funções.─── Você não pode me cobrar. Eu estou organizando o cenário! ─── Daeshim protesta.
─── Eu posso sim! ─── franzo o cenho para confrontar, mas não é tão fácil com Dash. ─── A floricultura é da minha mãe, não minha.
─── Aposto que ela nem vai sentir falta desse vaso. ─── ele rebate.
Agora, presa nessa cadeira enquanto Betsy pinta meu rosto como se eu fosse sua Monalisa, me questiono sobre o quanto essa ideia pode acabar em um desastre, em uma vergonha desproporcional para a minha vasta coleção.
Eu não deveria pensar nisso, definitivamente não. Não posso ser tão pessimista ao ponto de acabar dando para trás, não depois que aceitei a ajuda de modo tão genuíno e passamos duas semanas tentando organizar o roteiro de uma forma decente.
Preciso ser esperançosa. Nem todo amor bate à porta, às vezes ele precisa de uma entrevista elaborada para dar as caras. Eu espero que seja assim.
─── Acha que isso vai dar certo? ─── murmuro para Betsy que resmunga. ─── Quais as chances de termos virado uma piada?
─── Nós? Você foi anunciada na Internet, minha filha. Não tem nós.
─── Betsy!?
─── Okay, minhas mais sinceras desculpas. ─── ela ri e aperta minhas bochechas, em seguida volta a trabalhar com o pincel macio em meu rosto. ─── Não somos uma piada.
─── Só recebemos a inscrição de um.
─── Dois.
─── Ele tem o dobro da minha idade, Betsy.
─── Eu disse que deveríamos ter colocado um limite de idade. ─── Analu diz de algum lugar.
─── Eu já dei um jeito nele. ─── a voz da vez é de Dash. ─── Opa, recebemos inscrições de outros. Vinte e quatro, dezoito e quarenta e dois anos. Não precisa falar, eu já sei de qual devo me livrar. Mas esse Julio aqui de dezoito, tudo certo?
─── O que você acha, Analu? ─── digo. Além de melhor amiga, ela também virou a conselheira de senso no projeto.
─── Ele é maior de idade.
─── O de quarenta e dois anos também é. ─── Dash fala e sei que é para provocar.
─── Por que você é tão problemático, meu filho? ─── Betsy resmunga.
─── Ué, eu não entendi. ─── ele fala em confusão. ─── Eu sou o seu namorado, preciso de mais motivos?
A maciez do pincel me faz falta, mas o que me desperta mesmo é o estalo que ouço e o berro que vem em seguida. Me deparo com Dash choramingando, esfregando o braço, e o pincel na frente de seus pés. Como um garoto obediente, ele agarra o objeto e o traz para que Betsy termine de usá-lo em mim.
─── Lindíssima. ─── a garota profere enquanto aperta o meu nariz. ─── Pronta para encontrar o seu homem.
─── Ou mulher! ─── Gemma exclama de algum lugar da floricultura.
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UMA GEMA PARA CLARA
RomanceAtualmente Clara Agostini se vê presa na casa dos vinte, sem grandes conquistas e um bom planejamento para o futuro, contudo, a maior preocupação da família está voltada para o fato de a garota não ter apresentado sequer um primeiro namorado; ela de...