Capítulo 18: Sr. Benisvaldo.

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Eu me lembro de gostar do Eros por quinze minutos inteiro. De sentir uma fagulha de desejo após chorar tanto no ombro dele e receber compreensão, consolo e carícias de proteção, e logicamente os fatores resultaram em uma vontade estranha de beijá-lo. Desconfio que não é de muito senso da minha parte sentir atração pelo irmão do garoto que fantasiei por tanto tempo que seria o meu namorado, embora ele tenha me chutado, colocado Aline no meu lugar, antes que qualquer sentimento, que pudesse ser classificado como desprezível, surgisse. O fato é que escolher me ajeitar na outra ponta do sofá não teve nada a ver com sinais de amadurecimento e juízo vindo de mim, foi mais algo voltado sobre estar cansada de sempre se ferrar e ser a segunda opção, a qual só permanece enquanto a melhor versão não dá as caras. Como posso me apaixonar por alguém que não conheço? Amor à primeira vista não existe, e também já passamos dessa fase, mas não avançamos tanto para sermos amantes destinados; é uma verdadeira confusão. Além disso, eu seria burra o bastante para cometer o mesmo erro uma segunda vez, pelo outro irmão?

Gosto de pensar que ainda existe uma parcela de inteligência enfiada na minha cabeça e que, após a desilusão com o Erick, o meu cérebro irá construir uma barreira de bloqueio emocional para proteger o meu coração. Bom, está difícil, mas eu me agarro nos cantos, encarando o estofado do sofá, e tento esquecer que passei a noite com o Eros, repousando a cabeça no local macio de sua costela e adormecendo como se estivesse com os anjos.

Despertei no meio da madrugada, o relógio apontava quatro da manhã, e tinha babá na camisa do Eros, enquanto a mão dele continuava com os dedos entrelaçados no meu punho. Obviamente não existia a possibilidade de simplesmente pular do sofá e sair correndo até o carro do Daeshim como uma maluca, então, fiz a única coisa possível: mudei de lado, me confirmando com o mal jeito no pescoço e competindo por um pedaço de espaço com as pernas gigantescas do Orckeman. No final das contas, meus pés ficaram presos embaixo da coxa dele depois de um sonho ruim que não veio de mim. E agora continuo aqui, imóvel, fingindo que estou apreciado a melhor manhã de sono que já tive na minha vida, quando, na verdade, as vozes da minha cabeça não param de me atazanar com a possibilidade de correr atrás do amor outra vez. Não posso me deixar enganar novamente, há uma grande chance do interesse pelo Eros ser apenas consequências da sua qualidade de homem atencioso, uma armadilha para a maioria das mulheres.

─── Clara. ─── a mão dele desce para o meu ombro, balançando o meu corpo devagar. ─── Vou fazer o nosso café da manhã, tá?

─── Café da manhã? ─── murmuro, fingindo estar perdida.

─── É. ─── Eros confirma e o meu estômago se revira. ─── Você quer ir se arrumando?

─── Que horas são? ─── eu me viro para olhá-lo e é decepcionante. A cara do Eros não tem um amassado sequer e a camisa já não é a mesma de quando fui recebida. Aliás, ele exala aquele perfume que conheci no pescoço do Erick a caminho da boate.

─── São quase dez da manhã.

─── O quê? ─── me sento e puxo a coberta para cima na intenção de esconder as minhas pernas expostas pelo vestido enrolado.

─── O que foi? ─── ele aperta os olhos, preocupado. ─── Você tem algum encontro do reality show?

─── Não, não, não… ─── digo, ajeitando o vestido por debaixo da coberta e me inclinando para a frente, desviando do seu corpo para procurar o coturno abandonado pela sala. ─── Os meus pais estão chegando de viagem e a casa tá uma nojeira. Eles vão me matar ou me arrastar para a casa dos parentes no interior toda vez que forem.

─── Uma bela adulta de vinte anos. ─── ele alfineta.

─── Muito engraçado. ─── digo enfiando o pé no sapato e o amarrando.

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora