De vez em quando eu me pergunto se as pessoas entendem o quanto o amor pode ser cruel e doloroso, tão perverso quanto ser golpeado na soma de vinte e nove facadas, ou se sou a única desequilibrada que se dispõe a observar o lado feio desse afeto perigoso. Ah, também existe a pequena probabilidade que a minha alma está condenada a um percurso dramático que ninguém consegue compreender, logo as minhas anotações sobre esse fenômeno podem ser uma grande mentira ou um exagero sem importância.
A questão englobada na afinidade entre pessoas, que claramente ficam enfeitiçadas por seus pares, é que nenhuma delas percebe o quanto seus momentos amorosos se tornam constrangedores e chatos para terceiros solitários; sujeitos como eu.
Bem, possivelmente eu sou uma velha resmungona de 87 anos.
Talvez me falte um pouco de empatia com os casais apaixonados ao meu redor. Certo, tudo bem, eu vou tentar...
Fecho os meus olhos para ganhar um pouco de concentração e ao abri-los não gosto nada do que vejo. Meu primo, aquele que tem a maior parte da minha confiança, está se aproximando com sua namorada perfeita. Por um segundo eu o odeio. Ele sabe o quanto a paixão indescritível de outras pessoas me incomoda.
─── Clara! ─── ele diz entusiasmado. ─── Nem acredito, olhe só, vinte anos. Poxa, não achei que você chegaria tão longe com a sua chatice. Sabe, ouvi dizer que há alguns assassinos que matam pessoas irritantes como você por diversão.
Quero rebater suas palavras, mas não vou fazer isso com a miss perfeição bem ao lado.
─── Oi ─── respondo simples.
─── Ah. ─── Giovanni murmura. ─── Lorena, querida, você poderia bater um papo com a mamãe? Ela quer te falar sobre minhas comidas preferidas para quando nos casarmos.
Lorena ri, o batom rosa brilha em seus lábios bem preenchidos. Giovanni fica hipnotizado por esse momento simples, com cara de mané, e julgo a hipótese de ele realmente estar imaginando um casamento com a garota.
─── Bem, nos esbarramos por aí, Clara. A festa está linda.
Murmuro algo que nem eu entendo e a observo abrir os braços de maneira animada ao encontrar os pais de Giovanni em um canto.
Meus tios parecem contentes com a sétima namorada do meu primo. Ponto para Lorena e o cúpido idiota que está escondido em algum lugar, temos mais um casal apaixonado para andar de mãos dadas pelas ruas caóticas do mundo.
─── Às vezes você é muito chata com essas coisas, Clara.
─── Ei! Você não pode me julgar. ─── falo com o meu melhor tom de fingimento. ─── Conhece a minha perspectiva, então precisa me apoiar. Não seja um péssimo primo.
─── Tudo bem... ─── ele revira as orbes castanhas. ─── Agora vai conversar comigo de forma decente? Eu mandei minha futura noiva para longe por sua causa.
─── Noiva? Vocês estão namorando há dois meses. Não é meio precipitado?
─── Por isso que é futura noiva, minha querida.
─── Onde você a conheceu mesmo? ─── pergunto com as sobrancelhas levantadas.
Na verdade eu já sei a resposta, mas tenho uma anotação sobre aplicativos de relacionamentos também. Você é a pessoa certa até chegar uma notificação com um sujeito mais bonito, divertido e bem resolvido.
─── Não, nem pensar. Ela já apagou o aplicativo.
─── Não tem como acessar a conta pelo computador?
![](https://img.wattpad.com/cover/311660812-288-k495877.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
UMA GEMA PARA CLARA
RomanceAtualmente Clara Agostini se vê presa na casa dos vinte, sem grandes conquistas e um bom planejamento para o futuro, contudo, a maior preocupação da família está voltada para o fato de a garota não ter apresentado sequer um primeiro namorado; ela de...