Capítulo 20: A verdade mais importante.

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A vida e a morte de Clara Agostini. Se eu tivesse me aprofundado mais nos vídeos de Daeshim sobre a minha vida amorosa inexistente, sendo mais intensa e interessante, provavelmente também receberia uma linda homenagem em forma de filme para exibir os meus momentos icônicos. E, talvez, se a minha cabeça lerda fosse um pouco mais atenta com os detalhes, eu deveria ter falado para minha mãe que não gosto das flores habituais de defuntos, as quais são feias e fedorentas, prefiro margaridas e girassóis no lugar, embora sejam muito caras para preencher o espaço da minha cintura até os pés no caixão. Não estou dizendo que tenho uma doença grave, que logo irei bater com as botas, e por isso gostaria de encontrar o meu amor verdadeiro naquele reality show, mas é uma sensação persistente. Não consigo acreditar que vou sair impune da guerra no mercado, e se for assim, vai ser novidade para mim.

─── Que desgraça é essa? ─── Gemma exclama, assustada, quando abre a porta e se depara com a minha imagem.

Seu Juarez nem fez questão de avisar a minha chegada pelo interfone, estava tão abismado com a minha aparência e com medo que eu abrisse a boca para explicar a situação que me levou a chegar nesse ponto, que escolheu manter-se calado, apenas acenando com a mão para permitir a minha entrada no condomínio de apartamentos.

─── Preciso de um banho. ─── murmuro.

─── Obviamente.

─── Vocês ainda têm as minhas roupas?

─── Sim. ─── ela não dá um passo sequer para permitir a minha entrada.

─── Sério que você vai ficar me barrando, Gemma? ─── indago, esticando o pescoço para espiar a sala. ─── Cadê a Analu?

─── No quarto. ─── uma análise completa vem logo depois da resposta. ─── O que aconteceu, Clara?

─── Vou explicar depois que você me convidar para tomar um banho.

─── Eu sou fiel, maluca. ─── ela estreita as sobrancelhas.

─── Gemma, tem ovos secos até no meu umbigo! Sabe qual é a sensação disso? É muito mais estranho do que só passá-los na cara. ─── levanto a minha mão para mostrar a ela e a menção acaba abrindo o caminho por medo e repulsa.

─── Vai tomar banho que eu encontro as roupas, está bem? ─── finalmente Gemma parece estar comovida com a minha situação.

─── Tá bom, obrigada.

Não me dou o trabalho de passar no quarto para dizer oi para Analu, sei que no minuto seguinte Gemma vai lá fofocar para ela e informar a minha condição deplorável no apartamento. Sigo para o meu destino, me livrando das roupas pelo caminho e as segurando no braço; quando chego no chuveiro, já estou pronta para o banho e jogo as peças, junto ao tênis, no espaço do boxe para serem levadas comigo.

A água, como sempre, é gelada, mas não me importo, só preciso me livrar dessa mistura grudenta no meu corpo. É difícil tirar todas as cascas de ovos do meu cabelo, parece que quanto mais mexo entre os fios, mais aparece resquícios da guerra.

Uma mão quase arranca a porta do boxe fora dos trilhos, obrigando-me a encolher por impulso. Ainda que seja a minha melhor amiga me observando com preocupação, não deixa de ser estranho ter a minha privacidade invadida desse jeito.

─── O que aconteceu?

─── Eu posso tomar banho primeiro? ─── pergunto, desviando os olhos para o chuveiro.

─── Já tomou. ─── ela estende a mão e fecha o registro, em seguida me puxa para fora e joga a toalha sobre os meus ombros.

─── Relaxa, Analu.

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora