Capítulo 09: Destinados ao hospital.

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Eu acho que não entendo muito sobre testículos e não é porque sou uma virgem aos vinte anos de idade, ou pelo motivo de nunca prestar atenção nas aulas de biologia que explicavam a anatomia humana e suas etapas de reproduções. Na minha opinião ─ o que, sejamos sinceros, é extremamente válida por ser construída sobre o consenso de Ana Lucia, uma criatura superior em sua pura inteligência ─, não compreendo das dores do Daeshim apenas por uma única razão: Não tenho aquilo que geralmente faz os garotos sentirem orgulho como se fosse um troféu portátil. E está tudo bem já que eles também não guardam um útero para saborear a sensação maravilhosa de soltar pedaços inteiros de sangue e agir conforme um dia comum. Então, embora, lá no fundo, ainda tenhamos uma amizade, não demonstro culpa quando saio do seu quarto e deixo para trás todo o lamento desmoderado que transborda de Betsy.

Talvez os meus "encontros" com o Lucas estejam afetando o meu raciocínio, o que me leva a me comportar como o Vargas. Na verdade, eu estou de parabéns por ter permanecido por longas duas horas, ao contrário daquele ser imprevisível que foi embora há muito tempo. Ele basicamente nos deixou na sala de espera e meteu o pé, mas não o julgo completamente, já que se eu tivesse opção também teria abandonado o barco no momento em que tivemos que explicar o porquê da nossa vinda ao hospital ser uma emergência.

Bom, agora tudo o que eu preciso fazer é encontrar o quarto do Erick Orckeman e pedir desculpas por ser burra, o que é meio humilhante para a minha parte feminista; falar para um homem que o meu intelecto não está inteiramente formado. Talvez eu possa trocar as palavras e insistir na história que o reality show está me deixando confusa. Pronto, bem melhor.

─── Olá! ─── digo com a minha personalidade simpática  apenas para agradar a moça da recepção. ─── Eu gostaria de uma informação. De saber do paradeiro do Erick Orckeman.

─── Quarto do paciente Erick Orckeman. ─── ela diz me corrigindo discretamente, os dedos agredindo o teclado. ─── Espera. O que você é do garoto da picada de abelha? Parente?

Pensa rápido, Clara! Se eu disser que sou uma prima, ela não vai pedir os documentos e verificar os sobrenomes? É claro que vai. Eu só vou passar vergonha e ganhar a fama de mentirosa, e isso é muita humilhação por causa de um garoto, certo?
─── Eu sou a namorada dele.

─── Humm. ─── ela murmura com os olhos cheios daquele brilho de julgamento.

Será que eu atuei tão mal? Agora tenho minhas dúvidas sobre conseguir ver o Erick de uma maneira fácil e sem vestígios de surto. Talvez eu tenha que dar os meus pulos e procurá-lo de quarto em quarto, como uma maluca.

─── Oi, Clara? O que você está fazendo aqui? ─── uma voz parcialmente estranha me chama e tenho medo de me virar para olhá-lo.

─── Você não vai responder o seu cunhado? ─── diz a moça da recepção.

─── Nós não temos uma boa relação. ─── sussurro.

─── O que você está cochichando aí? ─── agora reconheço a entoação e me lembro imediatamente do seu nome; Eros.

─── Ela disse que vocês não têm uma boa relação. ─── a fofoqueira da recepção conta.

Reviro os olhos com tanta força e ódio que fico com receio de tentar voltá-los para o lugar e acabar vesga. Essa mulher traiu sua solidariedade feminista só porque o Eros tem um rostinho bonito, ou por simplesmente gostar de uma briga familiar em um lugar completamente inadequado.

─── É claro que não temos! Você deixou o meu irmão esperando igual a um idiota solitário e isso o mandou para o hospital de tanta tristeza. Que tipo de caráter seus pais te ajudaram a formar, garota?

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora