Capítulo 08: Gregos e poetas.

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O amor é definitivamente uma pessoa estabanada e, de tempos em tempos, levemente arrogante e traiçoeira. Provavelmente também é abarrotada por assuntos mal resolvidos, emoções arrojadas e desejos explosivos, do tipo que consegue queimar os indivíduos que insistem em empacar entre a realidade e as fantasias de um cérebro faminto pelo incomum.

Acho que o cupido brincalhão, que deveria estar do meu lado, simplesmente não localizou a trilha que o levaria para as minhas graças, que o ajudaria a criar momentos extraordinários para a minha monótona vivência, porque quase todos os planejamentos dos meus encontros do dia acabaram em tragédia. Uma palavra errada ali, uma careta de lá, uma risada de constrangimento de cá. Pronto, era fácil perceber que a minha alma gêmea não estava por perto, que alguns candidatos também detestaram os meus ideais e que nosso suposto conto de fadas não passaria de um teatro enfadonho.

Eu gostaria de me animar, de me encher de otimismo e prosseguir com um sorriso e gentileza, mas não consigo esconder o cansaço que transparece no meu olhar.

─── Ah, não, vamos lá, Clarinha. ─── Daeshim diz de um jeito manhoso, me chacoalhando pelos ombros. ─── Se anime um pouquinho… O seu futuro namorado está chegando!

Erick pediu para organizar o nosso primeiro encontro porque, depois do relato do Lucas sobre a lanchonete, ele chegou a uma conclusão maluca de que alguns lugares podem atrair azar para uma história que nem mesmo começou. Eu não neguei seus cuidados, já tinha desperdiçado todas as minhas ideias com garotos que sequer me valorizaram, e meus amigos muito menos. Ao que parece, um reality show sobre caras solteiros e uma garota desesperada pela atenção do anjinho da flecha não é lá uma moleza para elaborar os pequenos detalhes repetitivos. Afinal, reparando em cada ponto do parque, posso perceber que todos nós estamos cansados, até mesmo Gemma que, há duas horas atrás, não parava de cantar boate azul.

─── Ele está atrasado… Há duas horas. ─── bufo ao sentir a impaciência finalmente se infiltrar na minha pele.

Por um segundo imagino ver a desesperança lampejar nos olhos de Daeshim, mas, antes que eu possa ter absoluta certeza, ele direciona as orbes para Betsy que se aproxima rapidamente. Mesmo que, de começo, tenhamos gastado as nossas energias para nos distrair do atraso do Erick como se apenas estivéssemos em uma reunião divertida de best friends forever, a minha amiga ainda está deslumbrante, com todos os fios de cabelo no lugar. É parcialmente injusto, porque eu sou a figura que irá aparecer na Internet, meio acabada e desorientada pela amargura, e não a miss bonitinha.

─── Clara! ─── Betsy se enrosca nos meus ombros e me enche de beijos. Parece até que troquei de lugar com Daeshim, que agora sou eu quem a namora. ─── Quais as conclusões de hoje?

─── Estou cansada. ─── resmungo.

─── Você diz estar cansada desde a época da escola. ─── ela aperta a ponta do meu nariz com o indicador. Me sinto uma criancinha. ─── Eu perguntei sobre as conclusões em relação aos candidatos de hoje, querida. Alguém que te alegre?

─── Eu sei o que está fazendo. ─── me viro minimamente para encará-la. Betsy estreita as sobrancelhas e forma a expressão de desentendimento, o que torna o momento mais exagerado do que deveria ser. ─── Está se certificando de que não estou chateada pelo bolo que levei do Erick. ─── ela não tenta negar. Permanece em pleno silêncio. ─── Não precisa se preocupar, Betsy. Isso não é só sobre ele, uma única opção… E não vamos agir como se eu já não tivesse passado por essa situação.

─── É exatamente isso que nos preocupa. ─── Daeshim deixa escapar.

─── Calado! ─── ela o repreende. ─── Não liga pra ele, Clara.

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora