Capítulo 06: A sacada.

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O que irei assumir nesses exatos segundos é muito sério, e sinto bastante constrangimento com relação a isso, mas é algo que não posso negar, principalmente quando estou no corredor extenso e bem iluminado de apartamento sem a porra de uma chave para abrir o da minha amiga. Eu sou uma grande idiota! Para começo de conversa, na portaria tentei entrar em contato com a minha amiga atingida pelo mal da dor de barriga, mas não consegui nada, mesmo depois de mais algumas ligações insistentes da minha parte, e Analu também não marcou presença quando percebi que seria a minha única opção. Pensei em andar as cinco quadras de volta, ou chamar um uber e pagar com o meu próprio dinheiro, mas o sumiço de Gemma me deixou preocupada, então me humilhei para que o Seu Juarez, o porteiro, me deixasse entrar no condomínio — sim, me esqueci completamente de que não adiantaria se eu não tivesse a desgraça de uma chave reserva ou força o suficiente para arrombar a porta.

Desesperada para consertar a minha burrice, e como se algo tivesse tomado conta de cada pequeno pedaço dos meus músculos, eu dou um chute na porta e apenas o meu pé vibra de dor. Me afasto da limiar arrastando a perna direita e me xingando como uma maluca. Preciso me controlar para não bater a cabeça na parede uma segunda vez no dia como punição pelo meu pouco raciocínio.

Berrar por Gemma não serviu de nada na minha missão, nem mesmo consegui chamar a atenção dos vizinhos curiosos, e isso me deixa frustrada porque até na hora de achar uma solução eu sou inútil.

Me encosto na parede e aperto as mãos contra as minhas bochechas com força, tentando pensar em algo que realmente me ajudasse, mas o que ganho é uma mosca sonsa que tenta invadir o meu tímpano direito. Me debato movendo a cabeça de um lado para o outro, perdendo os meus sentidos pela aflição dela ansiando entrar no espaço apertado do meu cérebro. O inseto desiste de mim quando paro na frente do apartamento do irmão do Erick Orckeman.

Olho para os lados e entendo a mosca maldita como uma luz no final do túnel, um lindíssimo sinal. Todos os apartamentos possuem uma sacada, certo?

Não poupo esforços para bater na porta como se estivesse acontecendo um ataque zumbi lá fora e eu precisasse urgentemente de alguém bondoso para me oferecer proteção e abrigo.

─── Clara? ─── Erick indaga esticando a cabeça para fora. Os olhos dele ficam esbugalhados de um segundo para o outro. ─── O prédio está pegando fogo!?

─── Não. ─── respondo e coloco a mão na porta, temendo que a feche na minha cara. A expressão dele continua confusa, acho que não me entendeu por causa do barulho horrendo que vem lá de dentro, então eu balanço a cabeça em negação e aumento o tom da minha voz para acrescentar: ─── Mas eu preciso de um favor. É uma emergência, Erick!

─── Hummm… ─── ele murmura e abre mais a porta para que eu possa entrar. Agora sei porque estava querendo permanecer às escondidas antes, Erick está apenas de cueca box.

Passo para dentro e a televisão ruge como um monstro pela sala, dou uma espiada e reconheço o cenário caótico que passa na tela, é Guerra Mundial Z.

O encaro por alguns instantes, tentando não olhar para as pernas magricelas e lisas na intenção de não deixá-lo envergonhado. Erick me dá um sorriso amistoso e corre para pausar o filme, depois se encosta no sofá e fala enquanto eu me pergunto quando será que ele irá perceber que está apenas com a roupa debaixo.

─── Como posso ajudá-la, Clara?

─── É… ─── eu começo tentando me concentrar perante a situação. ─── Eu meio que preciso pular a sua sacada. Quero dizer, a sacada do seu irmão.

─── Isso me parece um pouco suspeito e perigoso.

Abro a boca para começar a explicar o quanto preciso fazer isso, ainda que seja um pouco arriscado, mas minhas palavras ficam presas quando uma terceira figura adentra a sala.

UMA GEMA PARA CLARAOnde histórias criam vida. Descubra agora