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ANGELIC...

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.

Começo contando os segundos, que se tornam minutos e horas. Eu não havia notado nesta manhã, mas não fechei o registro da torneira direito, então as gotas de água caem na pia. Conto os segundos conforme os pingos descem.

Já contei mais de vinte mil pingos.

Estou no chão do banheiro. A luz acabou há, mais ou menos, dez mil pingos atrás. A única iluminação vem da luz do luar. Minha cabeça está encostada na banheira enquanto encaro a arma, que eu sequer tive coragem de tocar. Foi aquilo que matou um homem diante dos meus olhos.

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.

Com o passar do tempo, eu acho que deixei de ter muita noção do que é real e do que minha cabeça criou. Eu dormi e sonhei com o corpo sangrando descendo a escada. Senti sede e bebi a água da pia. Também senti fome, mas sobre isso não pude fazer muito.

E LeBlanc. Eu alucinei com ele. Por várias vezes, tive a impressão de que ele chegava, tirava essa arma de perto de mim e me dizia que estava tudo bem lá fora. Era apena sum sonho. Ele não veio nas últimas cinco horas.

De repente, a luz central do banheiro acende. Preciso cobrir os olhos, pois a claridade parece ser capaz de me cegar após tanto tempo imersa na escuridão. A maçaneta gira, porém não abre. Encaro a porta, esperando a pessoa do outro lado abri-la.

- Angelic? - murmura - Sou eu, Vicenzo.

Então me lembro de que eu tranquei a porta pelo lado de dentro. Me arrasto até a porta, giro a chave e me afasto para que ele possa abri-la por fora.

- Angelic? - Vicenzo entra no banheiro. Ele me encontra no chão, provavelmente parecendo muito menos bonita do que a mulher com a qual ele cismou que quer se casar - Meu Deus, venha aqui.

Vicenzo se abaixa, segura minha cintura e me coloca de pé, encostada na pia. Eu consigo me firmar, só estive todo esse tempo no chão porque era mais fácil ter uma crise existencial lá. Observo ele, todo amarrotado, mas sem sinais de sangue.

Eventualmente, ele encara a arma no chão e faz uma careta. Tudo que eu entendo sobre armamento é o que vi a segurança presidencial usar durante esses anos. Esta arma é longa, embora tenha parecido média nas mãos de LeBlanc, e foi capaz de deixar um buraco considerável na cabeça de um homem. Santa mãe!

- Você está bem?

- Sim - respondo, a voz soando muito fraca - E você?

- Aconteceu uma bagunça enorme. Uma desgraça. Mas estou bem.

Olho para o relógio de pulso que ele usa. É quase uma da madrugada, então eu acertei ao contar os pingos. Foram seis horas dentro deste banheiro. Seis horas presa com minha mente que só sabia reprisar as mortes que vi. Seis horas de preocupação com todas as pessoas no primeiro andar.

- Meu pai está bem? - pergunto.

- Sim. Ele ficou na sala de reuniões. Margot chegou há algumas horas.

- Graças à Deus.

Longe de mim acusar Margot de qualquer coisa. Ela é uma péssima pessoa, de fato, mas não uma criminosa. No entanto, o fato de estarmos sob frequentes ataques e ela nunca estar presente começa a me preocupar, tanto quanto o fato de LeBlanc sempre estar por perto. É como se ele fosse programado para ser o herói.

- Vamos descer. O detetive Pierce já deve ter chegado - Vicenzo murmura. Pelo seu tom de voz, noto o quão cansativa esta noite foi.

- Está bem - concordo.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora