LEBLANC...
Voltar não estava nos meus planos, nem de longe. Mas ela estava nos meus sonhos, bem de perto. Eu me pergunto o que há nela para atrair minha atenção. O que nenhuma outra mulher teve, ou fez, ou deixou de fazer?
Eu superei o primeiro dia. Sonhei com ela, mas não foi grande coisa. Isso se chama atração física. No segundo dia, meu corpo ainda se lembrava da pele e calor dela. Eu me proibi de pensar nela debaixo do chuveiro, porque não sou um adolescente. Bem, pelo menos não era, porque, no sexto dia, me rendi. Precisei me render.
Minha única companhia durante as três primeiras semanas foi um velho de humor duvidoso e uma casa grande e vazia. Nada de conversinhas sarcásticas e cabelo loiro. Então, após exatos 45 dias, eu entendi. O desafio me interessa mais do que a conquista. Não quero Angelic, quero vencer o joguinho de atração que ela começou, desde o primeiro dia.
Ela estava naquele maldito salão de festas da Casa Branca, com o segurança em seu encalço. Eu soube que ela era no instante em que seus olhos vieram até mim. Meu alvo. Ela estava analisando aquele salão, desesperada para não cair no tédio, e então me viu. Seus olhos vieram até mim, depois seus pés. Ás vezes, ainda me pergunto o que ela diria se tivesse me alcançado. Talvez a coisa mais sarcástica de todas? A mais inteligente? A mais educada?
Olho para o outro lado da rua. 45 dias. Há 45 dias, eu estava nesta cidade, fazendo um dos serviços mais caros de toda minha carreira. Agora, estou na mesma cidade, ainda interessado no meu alvo, mas longe de querer finalizar o serviço. Essa família maluca irá acabar se autodestruindo em algum momento, não precisam de mim.
Após duas horas olhando para a cafeteria do outro lado da rua, finalmente desço do carro. Caminho casualmente até o estabelecimento e, no caminho, esbarro em uma mulher com uma criança no colo. Ela veio correndo na minha direção e não me viu, pois estava tentando encontrar algo em sua bolsa enquanto equilibrava a garotinha de cerca de dois anos nos braços.
- Me desculpe - ela pede, e volta a correr pela calçada antes de obter uma resposta. Atrasada.
Ah, sim. Era por isso que eu não queria voltar.
A mulher continua correndo em linha reta, e a criança olha por cima do ombro do que presumo ser sua mãe. O pequeno ser humano me encara, daquela forma pouco discreta que as crianças fazem, e então sorri.
Veja, as pessoas nascem inocentes. Esta criança jamais poderia imaginar que o homem no qual sua mãe esbarrou na rua atira em pessoas por dinheiro. E mesmo que ela pudesse imaginar, mal saberia o que isso significa. E mesmo quando se tornam adultas, as pessoas não fazem ideia do quão ruim é o mundo ao seu redor. Elas nunca sabem quando há um psicopata sentado ao lado delas na cafeteria, ou um assassino andando livremente pela calçada.
Retiro o sobretudo antes de entrar na cafeteria favorita de Angelic Donneli. Estava frio na Europa, mas nem tanto na América. Pego um jornal na entrada e me aproximo do balcão. O interior da cafeteria é simples, mais do que eu esperava para o local que serve a bebida favorita da filha do presidente.
- Bom dia. Como posso ajudá-lo? - a atendente pergunta, sorridente. Trabalhar com o público, as vezes, significa sorrir às nove da manhã de uma terça-feira.
- Bom dia. Eu quero um café com leite de amêndoas, chantilly e essência de menta.
O favorito de Angelic.
- Estará pronto em cinco minutos. Algo mais?
- Não, obrigado.
Me afasto do balcão para que as outras pessoas que chegaram possam pedir. Enquanto espero, abro o jornal. É excêntrico que mantenham esse tipo de coisa aqui, já que a internet disponibiliza qualquer informação de uma forma muito mais prática. No entanto, gosto da textura porosa do jornal. Eu passo grande parte do meu tempo com um velho, então, mesmo que não queira, adquiro seus costumes. Ler jornal é um deles.
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ÚLTIMA DANÇA
RomanceApós passar anos recluso, o assassino de aluguel conhecido como LeBlanc recebe uma proposta quase irrecusável. Seu próximo trabalho envolve a única filha do presidente dos Estados Unidos. O tiro mais caro de toda sua vida. No entanto, a garota inofe...