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LEBLANC...

A tecnologia sempre me impressiona. A forma como o mundo evolui, mesmo que as pessoas não sigam o mesmo caminho. E, dito isso, eu gostaria de ressaltar uma tecnologia em específico: a roda gigante.

Sim, a roda gigante. Falemos sobre ela, então.

Um grande aro de ferro reforçado, com cabines penduradas, girando incessantemente para a direita. Rápida o suficiente para entreter as pessoas, lenta o bastante para não causar enjoou. Simplesmente fascinante, ainda mais levando em consideração o espetáculo de luzes coloridas ao redor.

- Eu também achava encantador – Angelic diz, interrompendo meus pensamentos sobre George Ferris, o criador da roda gigante.

- O quê? – pergunto.

- A roda gigante. Eu era fascinada por ela quando era criança.

Olho para Angelic, que está diante de mim. Consigo visualizar sua versão mirim, talvez com laço no cabelo. Quase posso vê-la, pequenina, encarando a roda gigante, admirada com tudo que os olhos curiosos de uma criança normal podem alcançar.

Porém, em contrapartida, não creio que ela possa ter a mesma visão de mim. Talvez seja um tanto quanto óbvio, mas eu não tive uma infância em parques de diversão. Os primeiros anos da minha vida foram menos coloridos, digamos assim.

- O que mais fascinava você? – quero saber.

- Tudo – ela sorri – Os ursos, os jogos de tiro ao alvo, a casa mal assombrada, a montanha russa...

Angelic é sempre linda, mas, especialmente hoje, está radiante. Suas bochechas estão rosadas, os olhos alegres, os lábios sempre voltados para cima com sorrisos sinceros. E não estou exagerando, ou bajulando o ego dela. Angelic realmente é a pessoa mais encantadora que eu conheço.

Quando ela me disse que queria passear pela Itália, eu pensei em Museus ou Teatros. Ela é fluente em italiano, então eu supus que nenhum tipo de passeio poderia me surpreender. No entanto, quando eu me vi na fila de um parque de diversões, cercado por algumas centenas de mini pessoas, fiquei surpreso. Digo, estou fazendo isso única e exclusivamente por causa de uma mulher.

A fila progride mais um pouco, e então é a nossa vez de adentrar a cabine. Eu confesso, pegar filas não é meu modo favorito de perder tempo. Mas, confessando novamente, estar com Angelic, magicamente, faz meu tempo ser bem aproveitado.

Já dentro da cabine, Angelic senta-se ao meu lado, e quando a roda-gigante começa a se mover, ela apoia uma mão em meu joelho e aperta levemente – talvez por medo, ou expectativa. Seu rosto está enfeitado com um leve sorriso e olhos azuis refletindo as luzes da porra da cidade inteira. Simplesmente, e inegavelmente, a coisa mais bonita que eu já vi.

- É tão lindo quanto eu me lembrava – ela comenta.

Coloco minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. E, da forma mais brega possível, gravo este momento na parte mais sólida de mim, como uma gravura em uma pedra. Quero me lembrar do vestido róseo que ela está usando, do cabelo solto, dos lábios avermelhados...

- Obrigada – ela se vira para mim – Obrigada por vir comigo.

Obrigado você por vir comigo.

- De nada.

Ela avança, e então seus lábios tocam os meus. Este beijo, a priori inocente, me faz sentir como se fosse meu primeiro beijo. É como se toda minha existência, até aqui, simplesmente deixasse de existir. Tudo que existe é ela, os beijos dela, o toque dela, as palavras dela... ela.

E junto com essa sensação de renascimento, também me vem um aperto no peito. Algo parecido com a culpa.

Seguro seu rosto entre as mãos. Sua língua desliza dentro da minha boca, com gosto de algodão doce, e me faz pensar no quanto este momento é uma farsa. Sim, uma mentira. Eu não sou quem ela pensa que sou. A maioria das coisas que eu disse até hoje fazem parte de um serviço. Este não sou eu. E isso tudo é o que me gera a culpa.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora