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ANGELIC...

Desperto, esticando a mão para o lado e percebendo que estou sozinha na cama. Meu corpo protesta, dolorido em todos os lugares. E que Deus me perdoe por toda profanidade que estou cometendo, mas não consigo me arrepender.

Levanto-me. Alcanço minhas roupas no chão, porém elas tornaram-se farrapos inutilizáveis na noite de ontem. Vejo que minha mala está ao lado da porta, então a pego e abro sobre a cama. Escolho jeans e camiseta, para não mostrar as marcas avermelhadas na minha pele.

Quando vestida, decido sair do quarto. A casa de Yolanda está sempre com as janelas e portas fechadas, o que não é surpreendente, já que ela mora no Bronx, mas é desconfortável. Os corredores parecem tenebrosos.

Desço os degraus, varrendo a sala com os olhos. Há um homem armado na porta de entrada, e ele acena para mim, como se não estivesse pronto para enfrentar uma guerra enquanto eu mal abri os olhos. Contudo, aceno de volta.

Este mundo é uma loucura.

Me deixo guiar pelo cheio de café que vem da cozinha. Imediatamente, sinto saudades do café com chantilly que apenas uma cafeteria em todo o país consegue fazer perfeitamente. Mas eu sei que isto é apenas um capricho de garota mimada, então me contenho com o café tradicional.

Encontro Yolanda na cozinha. Ela está sentada em uma das banquetas na bancada de mármore. Diante dela, há alguns papéis, e Yolanda os lê enquanto fuma um cigarro. Ela é a perfeita demonstração da mulher mexicana, principalmente com o vestido de estampa felina que está usando.

- Bom dia – digo.

- Bom dia – ela responde, olhando para mim por cima dos óculos de grau – Isto é para você – ela meneia a cabeça em direção a bancada e, então, eu percebo um arranjo de flores.

Eu me aproximo, tocando as rosas brancas com delicadeza. Elas me lembram o jardim de casa, e a forma como Elliot adorava cuidar das plantas. Talvez ele ensine algo ao novo bebê, já que não teve tempo para fazer isso comigo.

- Ele deixou para mim? – pergunto, mas poderia facilmente estar afirmando.

Quando subo os olhos para Yolanda, encontro um meio sorriso em seus lábios. Um sorriso malicioso, como se ela estivesse guardando um segredo.

- Você dormiu bem? – ela pergunta, levantando-se e caminhando em direção a cafeteira.

Imediatamente, sinto o sangue subir para meu pescoço e bochechas, e sei que estou vermelha. Volto a encarar as rosas, porque sei que elas não me farão perguntas embaraçosas.

- Sim. Obrigada pela hospitalidade – digo, de qualquer modo.

Ela enche sua xícara com café, e quando volta para a bancada, não tem mais diálogos. Talvez seja por situações como essa que LeBlanc tenha me pedido para ficar quieta.

Também me direciono até a cafeteira. Uma xícara já está colocada ao lado, como se estivesse esperando por mim, e eu a encho. Provo o primeiro gole do café, sabendo que não poderei jogar fora caso não goste. E para meu alívio, está delicioso.

Enquanto aproveito o café quente e forte, ouço um barulho vindo do lado de fora, como se alguém estivesse batendo no portão de ferro, que, naturalmente, já é muito barulhento. Parte de mim sabe que não há motivos para se preocupar, mas, ainda assim, olho para Yolanda. Ela me encara de volta, igualmente atenta.

A xícara para no ar, entre a bancada e seus lábios quando ouvimos a porta da sala sendo aberta, e então passos apressados correm pela casa.

- Chefe – a voz chega antes mesmo do homem. Yolanda coloca-se de pé, esperando pela pessoa que entrará na cozinha. E quando ele chega, está um tanto quanto ofegante, e armado, para variar – Estão tentando invadir a casa – o homem informa.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora