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LEBLANC...

Eu gosto de explicações lógicas e racionais. Eu não acredito em atitudes vindas da alma, ou do coração. Esse tipo de merda simplesmente não faz sentido para mim. Dito isso, eu gostaria de entender o que está acontecendo comigo.

O que é esta sensação de que estou quebrando quando Angelic está perto de mim? Como se eu estivesse cheio, transbordando, e depois desmoronando.

Uma fraqueza?

Um quadro médico?

Fecho os olhos e deixo a água do chuveiro levar esta sensação para o ralo enquanto tomo banho. Tento me livrar do cheiro dela, da sensação da pele dela, da visão do sorriso dela. Tudo que me deixa fraco. No entanto, esta tem sido uma tarefa difícil. Angelic tem meu cheiro, tem minhas manias e minhas roupas. Ela tornou-se uma parte de mim. Eu me vejo nela, tanto que a sinto até mesmo quando estou sozinho.

Desligo o chuveiro e alcanço a toalha, que está molhada por causa do banho de Angelic. Eu a uso de qualquer forma, porque estou decidido a ter um dia de paz. Quando passo em frente ao espelho, faço questão de não encarar o reflexo. Eu não quero sentir que estou falhando com meu autocontrole. Não quero sentir que joguei o trabalho de anos no lixo, só porque um par de olhos azuizinhos pousaram em mim.

Foda-se. Eu não quero encarar a realidade.

Antes de adentrar o closet, paro diante da cama. Angelic está deitada exatamente no meio da cama, como eu a coloquei ontem, após assistir o mesmo filme três vezes. Permaneço parado, olhando para ela e imaginando em que momento permiti que entrasse na minha vida.

Quando deixou de ser um serviço?

O que a faz especial?

E por último, mas não menos importante, por que ela dorme tanto?

Caminho em direção ao closet. Eu não quero me livrar da sensação de que tenho Angelic, mas preciso me livrar da pressão que isso traz. Antes, eu era tão miserável que meus inimigos sequer viam vantagem em me atingir. Eu não tinha o que perder. Tudo que eu possuía era material. Agora...

Agora eu tenho ela.

Me direciono quase que automaticamente até as camisas penduradas nos cabides, mas, para minha surpresa, não são minhas roupas nos cabides. Afasto os vestidos, que certamente não me pertencem.

Mulher. Dos. Infernos.

Me viro para o outro lado, apenas para me deparar com o restante das roupas de Angelic. Eu não duvido que ela tenha jogado minhas roupas na lixeira mais próxima, no entanto, eu realmente não quero acreditar nessa hipótese. Avisto as sacolas nas quais suas roupas vieram, então me aproximo e abro a primeira. Encontro algumas camisas brancas, e a dor que sinto ao ver o linho amarrotado é quase física.

Digo, um homem seria respeitado vestindo isto?

Não, não seria.

Abro as sacolas seguintes, vendo a maioria das minhas roupas nelas. Tomo uma longa respiração, contudo, apenas uma não é suficiente. Nem se eu respirasse todo o oxigênio do mundo seria o bastante.

A atitude dela não é o pior. Minha impotência é.

Alguma outra pessoa que realmente me conhece faria isso comigo? Não! Por isso, nunca precisei pensar nas consequências.

Eu não posso torturar Angelic. Não posso puni-la. Não posso machucá-la. E se eu lhe desse alguns tapas, ela gostaria, então a proposta de punição perderia o sentido, porque eu gostaria também.

Separo as peças menos amarrotadas e visto. Sequer visto uma gravata, porque elas são tão malditamente bem passadas que pareceriam deslocadas.

Maldição. Esta mulher não me deixa ter paz.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora