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AARON...

1 ano depois.

Esta não é uma história de amor. Esta é a minha história.

O dinheiro move o mundo, e não estou sendo superficial quando digo isso. Até mesmo as igrejas são cheias de pinturas milionárias e padres corruptos. Digo, até que ponto somos capazes de chegar pelo poder aquisitivo? Porque tudo tem um preço, alguns são apenas mais altos.

Eu, particularmente, gosto das mansões beira-mar e carros esportivos. Meu caráter é altamente questionável se você tiver um milhão de dólares para me oferecer. Mas não dirija a palavra a mim com menos do que isso.

Mas, claro, não é a primeira vez que eu digo isso. É apenas a primeira vez que digo e é mentira. Não, o dinheiro não move mais o meu mundo.

Eu ainda gosto das mansões beira-mar e carros esportivos, no entanto, sinto que viveria bem sem eles. Mas não sem ela. Sem ela, todo dinheiro do mundo não é capaz de me tirar da condição de miséria.

"Estamos quites" Kevin Pierce diz, lançando sobre a mesa um envelope de papel pardo.

Continuo encarando a taça de vinho em minha mão. Eu diria que, no último ano, quase me tornei um italiano. Tanto vinho e massa folhada já devem ter convertido meu DNA.

Bebo um gole, depois outro. Sei que Pierce está diante da minha mesa no restaurante, com as sobrancelhas erguidas, esperando minha resposta, mas, se preciso ser honesto, quase não sei o que dizer. Eu não estava pronto para cortar meu último laço com essa etapa da vida.

Eu sempre fui um fantasma com vários nomes, endereços, personalidades e objetivos. Era como um caco vazio que se enchia do que precisava. Eu andava pelo mundo, concluía meus serviços e depois sumia, renascendo apenas quando o próximo serviço surgia. E foi assim por tanto tempo que eu não me lembro de alguma vez ter agido de outra forma.

Mas, no último ano, depois que eu morri para a última vida que tive, foi diferente. A massa na Itália não tem o mesmo gosto. O chocolate na Suíça parece superestimado. O café no Brasil estava insosso. As maravilhas do mundo parecem apenas um monte de entulho.

Eu não consegui desligar.

Eu não consegui morrer.

"Estamos quites" Kevin Pierce repete, dessa vez mais lentamente, sem paciência.

Ergo os olhos, percebendo que ignorar a presença dele não fará com que este homem suma da terra. Encaro o terno alinhado, meio caro para a profissão dele, e os sapatos lustrosos.

"Como é a vida depois de uma promoção?" pergunto.

Pierce cerra os olhos. Eu sei qual é o medo dele: estar em dívida comigo. Não sou alguém para quem querem dever.

Ergo uma sobrancelha, esperando.

"Boa" ele responde, colocando as mãos nos bolsos "Estamos quites?" agora, ele não afirma. Seu tom é duvidoso, receoso de que eu ainda tenha algum pedido a fazer.

Durante meu período morto, Pierce foi responsável por cuidar da minha... vida pós morte. Ele fez tudo que eu precisava que estivesse feito antes de eu voltar para meu refúgio, de onde, talvez, não deveria ter saído. Em troca, eu devo ter movido um pauzinho ou dois para que ele fosse promovido na delegacia.

Durante um ano, eu estive em vários países desse mundo largado por Deus. Estive assistindo de longe enquanto Margot perdia a casa, perdia o filho no ventre, vendia todas suas joias e bolsas porque precisava comer. Sou um monstro por ter gostado de tudo isso, mas não consegui evitar sorrir a cada desgraça que acontecia na vida dela.

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⏰ Última atualização: Sep 25 ⏰

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